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A Semana de 22 e os Povos Originários: um outro avesso

A Semana de 22 e os Povos Originários: um outro avesso

12 de Abr de 2022

A Semana de 22 e os Povos Originários: um outro avesso


Sou um tupi tangendo um alaúde!
(Paulicéia Desvairada – Mário de Andrade)

 

Naquela semana de três dias de fevereiro de 1922, artistas e intelectuais paulistas subiram ao palco do Teatro Municipal para bradar contra a tradição dos cânones da arte e do beletrismo, evocando uma renovação estética e formal no fazer artístico e das ideias, assim como uma inovação nos temas representados na arte brasileira de até então, uma busca dos fundamentos nacionais e populares da cultura brasileira, uma brasilidade moderna. 

Entretanto, nesse primeiro momento, com uma preocupação maior quanto a renovação das linguagens artísticas, pensar e reconhecer a importância da influência das culturas afro-brasileiras e indígenas na formação da identidade nacional e do povo brasileiro, ficaram um tanto quanto secundarizadas, não estando representadas nem no palco e muito menos na plateia do Teatro Municipal.

A arte e a cultura dos povos indígenas foram sistematicamente invisibilizadas na nossa história, o apagamento dessas identidades dos povos originários e de suas expressões artísticas e culturais, além dos processos de assimilação, foram tônicas dos projetos colonialistas, elitistas e oligárquicos do nosso fazer-se como nação e sociedade e na Semana de Arte Moderna de 1922 não foi diferente.

Os povos originários brasileiros, tiveram constantemente suas narrativas e resistências esmaecidas e silenciadas pelo tempo histórico, desde o período colonial, que tencionou ocidentalizar a cosmovisão de nossos povos indígenas e “curá-los” da inconstância de suas almas selvagens, passando pelo império, quando a figura do indígena idealizado, aculturado e romantizado é alçado a símbolo de nossas raízes como povo, e por fim, até os dias atuais, quando nos deparamos com a resistência indígena em defesa de suas terras e de sua cultura. Uma invisibilidade construída na lógica da colonialidade, com excessiva violência e exclusão.

Mesmo nos anos que se seguiram a Semana de 22, e nas demais gerações modernistas, a cultura indígena não alcançou uma centralidade e uma representatividade, tanto nos temas quanto na produção artística em suas diversas linguagens. Obras como o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, sintetizado plasticamente na pintura do Abaporu de Tarsila do Amaral, como o romance Macunaíma de Mário de Andrade, eram uma visão dos brancos sobre a cultura dos povos originários.

A cultura indígena e sua diversidade é um desses avessos da Semana de 22, aquela manifestação artística e cultural que lá não estava, e o avesso do colonialismo é o anticolonialismo e a luta pela sobrevivência, manutenção e perenidade dessa cultura e de seus direitos originários. 

Nesse contexto de resistência e representatividade podemos ressaltar a literatura de autoria indígena, tão presente como um fenômeno cultural e como um movimento literário na contemporaneidade. Uma escrita literária caracterizada pelas narrativas cosmológicas e de visões de mundo de suas etnias, permeada pela oralidade, pela sabedoria dos mais velhos, guardiões da memória e da identidade de seu povo. Garantia da permanência e conservação deste universo social e cultural.

A literatura indígena não envolve apenas técnicas de escrita, mas compreende também, sentimento, pertencimento, memória, identidade e resistência.

"Ao escrever,
dou conta da minha ancestralidade;
do caminho de volta,
do meu lugar no mundo"
.

(Daniel Munduruku).

 

No mês de abril, esses avessos e a cultura indígena têm destaque na programação “O avesso do avesso – uma antropofagia da Semana de 22”.

 

PROGRAMAÇÃO
  • Dia 21 de abril 

Visita presencial à aldeia (Tekoa Guyrapaju, com caminhada à Opy (casa de reza) e trilha até a represa 

  • Dias 23 e 24 de abril

Tekoas - feira cultural indígena, das 10h às 17h
Toré com Graça Pankará, das 11h às 13h

  • Dia 24 de abril

Tekoas na cidade (Xondaros), das 14h às 16h

 

Centro de Referência de Culturas Populares Tradicionais de SBC/Chácara Silvestre
Avenida Wallace Simonsen, 1.800, Nova Petrópolis.