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Outros avessos de 1922 – A classe trabalhadora faltou ao encontro

Outros avessos de 1922 – A classe trabalhadora faltou ao encontro

11 de Mai de 2022

"Nós construímos palácios e moramos pior que os cachorros dos burgueses. Quando ficamos desempregados, somos tratados como vagabundos. Se só temos um banco de rua para dormir, a polícia nos prende”. (Pagu – Parque Industrial)


Os aplausos e as vaias, as exposições, as apresentações artísticas  e a leitura de manifestos vanguardistas causavam alvoroço na classe média e elite paulistanas, presentes e representadas tanto no palco como na plateia do Teatro Municipal naquela semana de 1922, mas passavam despercebidas pela classe operária que havia faltado àquele encontro. 

A classe trabalhadora passava por uma grande transformação e adensamento na capital paulista nesse momento histórico, ocupara as ruas e fábricas durante a grande greve geral de 1917 e se organizava para lutar por melhores condições de vida e de trabalho.

Nesse contexto do início da década de 1920, as lutas operárias avançavam e em 25 de março de 1922, um mês após a Semana de Arte Moderna de São Paulo, era fundado o Partido Comunista do Brasil (PCB), com proposta de trazer ao palco da política nacional, representantes e ideais da classe trabalhadora, até então marginalizada politicamente, atuando na sua organização e em seus sindicatos.

Esse novo movimento político e a presença cada vez maior do movimento operário na vida política do país, principalmente nas grandes capitais urbanizadas, tiveram repercussão direta na produção intelectual e artística de modernistas no final da década de 1920, como Patrícia Galvão (Pagu), Flávio de Carvalho e Oswald de Andrade. E igualmente nas cisões entre os grupos modernistas, que se materializaram em projetos político-ideológicos distintos, e que atuaram na esfera política e cultural do Estado brasileiro durante a década de 1930.

Destacando a produção literária, nas primeiras décadas do século 20, podemos citar obras de Lima Barreto, João do Rio e Alcântara Machado, e já a partir da década de 1930, livros de Graciliano Ramos, Jorge Amado, Patrícia Galvão (Pagu) e Rachel de Queiroz representavam em suas escritas as transformações da sociedade brasileira, as mudanças ocorridas no campo e do desenvolvimento das cidades e suas indústrias. Histórias e personagens que individualmente sintetizaram o cotidiano da classe trabalhadora brasileira e suas estratégias de sobrevivência.

Na literatura contemporânea brasileira podemos destacar algumas obras e escritores, como Luiz Ruffato, Roniwalter Jatobá e Conceição Evaristo que têm como cerne de suas narrativas, ou até mesmo de maneira transversal, as relações de trabalho e suas contradições. Já autores como José Falero narram suas próprias experiências no mundo do trabalho, usando-se de uma escrita ficcional.

Essas obras contemporâneas trazem, por vezes, novas configurações do trabalho em nossa sociedade, dando voz ao trabalhador informal, que vive de bicos e subempregos, ou de funções que até os dias de hoje tem o estigma racial e de classe como o serviço braçal e doméstico. Os autores contemporâneos problematizam o mundo do trabalho e suas relações, fundindo o texto literário com o contexto social na qual essas narrativas são produzidas. 

 

Destaques do mês de maio da programação: O avesso do avesso – uma antropofagia da semana de 22:

  • Oficina de escrita: Pagu, leituras e criações

Dia 21/5, das 11h às 13h - Biblioteca de Arte Ilva Aceto Maranesi.

  • Programação Semaninha de 22

“A Cuca fofa da Tarsila” – Cia. Articularte
Dia 21/5, das 14h às 15h – CREC Pauliceia
Dia 28/5, das 14h às 15h – Biblioteca Monteiro Lobato
“Mário e as Marias” – Cia. Lúdicos
Dia 22/5, das 16h às 17h – Teatro Elis Regina

  • Palestra: Trabalho e trabalhadores em tempos de informalidade – Prof. Lincoln Secco (USP) 

Dia 21/5, das 14h30 às 16h00 – Biblioteca de Arte Ilva Aceto Maranesi