LGBTQIA+ - PARTE 4: MARSHA JOHNSON E SYLVIA RIVERA À FRENTE DE STONEWALL INN
 
A Rebelião de Stonewall, marco histórico na luta pelos direitos LGTBQI+ (quando ainda nem existia essa sigla), começou muito antes de 1969 no Bar Stonewall Inn. A resistência ao preconceito e à violência impingida pelo conservadorismo e pelo pensamento excludente tem uma longa história cheia de personagens incógnitos e passagens não divulgadas. Muitos corpos sofreram violência (algumas irrecuperáveis), muitas vozes foram ignoradas, muitos gritos foram calados, personagens anônimos lutaram concretamente pela liberdade de ser quem realmente são, muitas vidas foram solapadas.
 
Antes da histórica revolta no bar da Rua Cristopher, 53, no Greenwich Village, outras insurgências aconteceram no território norte-americano. Em maio de 1959, um grupo, composto por drag queens e homens gays, lutou contra policiais em uma loja de donuts no centro de Los Angeles. O grupo ficara furioso porque os policiais de Los Angeles prenderam seus amigos tão somente por se reunirem legalmente no Cooper's Donuts, um popular ponto de encontro gay da noite angelena daquele final dos anos de 1950. A revolta durou um dia todo, muitos foram presos. Aquela noite é considerada a primeira revolta gay da história moderna, sete anos antes do Black Cat Riot no bairro de Silverlake - em Los Angeles -, e dez anos antes da Rebelião de Stonewall.
 
Enquanto as pessoas cantavam Auld Lang Syne no bar de Silver Lake, gays se beijavam e se abraçavam, comemorando o Ano Novo. Sem que eles soubessem, policiais à paisana de Los Angeles se posicionaram no meio da multidão naquela noite. Eles espancaram os clientes e prenderam 14 pessoas, que foram acusadas de conduta obscena por beijos entre pessoas do mesmo sexo. Em 11 de fevereiro de 1967, os manifestantes deram um passo ousado para aquela época, se organizaram em frente ao Black Cat Riot, em Sunset Boulevard, com placas de protesto contra a violenta batida policial feita na virada do ano - uma manifestação pelos direitos dos homossexuais que também antecedeu em dois anos o histórico Stonewall na cidade de Nova Iorque.
 
Históricas personagens de Stonewall
Na década de 1960, o Stonewall Inn era um dos poucos bares de Manhattan, Nova Iorque, onde as pessoas do mesmo sexo podiam se divertir e conviver, sem o assédio e a violência policial. Em 28 de junho de 1969, os clientes do bar entraram em confronto com policiais, em uma batida que teria resultado em prisões e humilhação pública. No entanto, desta vez, os patronos reagiram, desencadeando o que hoje conhecemos como o movimento LGBTQI+ moderno, incluindo as marchas do Orgulho LGBT. Duas pessoas frequentemente esquecidas que causaram impacto naquela noite eram mulheres transexuais de cor: Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera.
 
Marsha Johnson e Sylvia Rivera se conheceram no ano de 1963. Ambas escreveriam com muita luta e posicionamento a história dos direitos LGBTQI+.  Marsha nasceu em 24 de agosto de 1945 na cidade de Elizabeth, estado americano de Nova Jersey. A família afro-americana - mãe empregada doméstica, pai operário da linha de produção da General Motors -, percebeu muito cedo que a pequeno Michael gostava de vestidos e de outros símbolos do universo feminino.  Anos depois, Johnson mudou-se para West Village, em 1967, para escapar da intolerância que enfrentou ao crescer do outro lado do rio. Ela foi a Stonewall naquela noite para comemorar seu 25º aniversário, se tornando parte daquele momento inicial de resistência para desencadear a rebelião histórica. Durante a epidemia de AIDS dos anos 1980, que devastou a comunidade gay, Johnson se tornou um ativista proeminente da AIDS Coalition to Unleash Power – ACT UP (em tradução livre, “aliança da AIDS para promover o poder”), que fez coisas importantes, como  manifestações em Wall Street  contra os preços exorbitantes dos medicamentos experimentais para AIDS. Johnson  morreu  em 1992 aos 48 anos em circunstâncias misteriosas: seu corpo foi encontrado flutuando no rio Hudson. O caso continua sem solução, a polícia de Nova Iorque insiste que foi suicídio. Ativistas e investigadores alternativos divergem. 
 
Sylvia Rivera era uma drag queen porto-riquenha de 17 anos na noite do tumulto.  Rivera estava na multidão que se reunia do lado de fora do bar enquanto a revolta explodia no bairro de West Village. "Não vou perder um minuto disso", ela gritou. "É a revolução!" Depois de Stonewall, Rivera se tornou uma ativista que se mobilizou contra o racismo, a violência sexual, a pobreza, e, depois que ela começou a se identificar como mulher, a transfobia. 
 
Em um Comício do Dia da Libertação da Christopher Street em 1973, Rivera, uma sobrevivente de agressão sexual, falou sobre a complacência que viu na comunidade LGBT depois que gays, lésbicas e transgêneros foram presos, jogados na prisão por seu ativismo e agredidos por presidiários do sexo masculino nos últimos anos após a rebelião de Stonewall. "Vocês todos fazem alguma coisa por eles?"  - ela exigiu da multidão em um comício nova-iorquino de 1973. "Não! Vocês todos me dizem para esconder meu rabo entre as pernas. Não vou aguentar essa m...!". Sylvia Rivera seguiu sua militância que, de forma pioneira, relacionou gênero, classe e raça de forma coerente e incansável. Em 2004, ela perdeu a batalha contra o câncer e faleceu.
 
Sylvia Rivera e Johnson co-fundaram o Street Transvestite Action Revolutionaries (STAR) (em tradução livre, “ações revolucionárias de travestis de rua”), um grupo que trabalhou com drag queens sem-teto e mulheres transexuais negras na cidade nova-iorquina. Sylvia e Marsha estavam profundamente preocupadas com os perigos enfrentados por suas colegas travestis, que muitas vezes eram forçadas a se prostituir para se sustentar. Como STAR, eles criaram um coletivo e abrigo para pessoas trans. O primeiro abrigo, que eles começaram em um trailer abandonado, deu errado quando o proprietário recuperou o trailer e partiu com as “rainhas”. A STAR, então, renovou um prédio incendiado, no Lower East Side. As rainhas se uniram como um coletivo, compartilhando comida, dinheiro e suas experiências de vida.
 
Embora o coletivo STAR tenham durado pouco, Sylvia e Marsha continuaram seu ativismo e se tornaram os principais símbolos do radicalismo desse período. Seus esforços pavimentaram o caminho para ativistas transgêneros posteriores, como Lee Brewster, um ex-membro do Mattachine, que criou o Queens Liberation Front (em tradução livre, “frente da liberação das rainhas”) no final de 1970 e dirigiu o Lee's Mardi Gras, o principal empório drag na cidade de Nova Iorque por décadas. A Frente de Libertação do Queens lutou com sucesso contra as leis anti-travesti naquela cidade, que foram derrubadas em 1971.
 
"Uma pessoa nunca tem completamente seus direitos até que todos tenham seus direitos." - Marsha P. Johnson
 
 
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