Embora as terras que compõem o Jardim Ipê não tenham feito parte de nenhuma das linhas coloniais implementadas pelo governo imperial, elas também foram ocupadas, da mesma forma que as linhas, por imigrantes estrangeiros, na penúltima década do séc. XIX. Por volta de 1887,o casal italiano (oriundos de Meduna de Livenza, Veneto) Giovanni Batista Marson e Pierina Cigagna, junto de seus filhos, estabeleceu um sítio no local, adquirindo terras de particulares(1). Após a morte de Giovanni em 1900 e de Pierina em 1908, a família do filho primogênito Luigi , que já ali morava com sua esposa Maria Parentin e filhos, continuaria tocando o sitio. Pouco tempo depois, duas filhas de Luigi casaram-se com moradores vizinhos da mesma região do futuro Jardim Ipê e seus arredores: Palmira, casada em 1910 com José Capitânio, morador na área desde 1898 (2); e Paulina Angela, que casou-se em 1914 com Jerônimo Moratti, morador de sítio vizinho desde seu nascimento em 1891 (3).

Desde que chegaram essas famílias e seus herdeiros mantiveram ali por décadas as atividades típicas das linhas coloniais, baseadas na agricultura de subsistência (cultivos de hortaliças , cereais, legumes e frutas), criação de animais, extração de madeira, produção de vinho. O excedente produzido era costumeiramente vendido.

Somente na 2ª. metade da década de 1950, após as mortes de Paulina e Jerônimo (ocorridas em 1953) e a mudança do filho caçula de Luigi Marson, João Batista, para o Bairro Assunção (1955) (4), as famílias decidiriam lotear a área que se transformaria no Jardim Ipê. Esta foi dividida em três glebas: a primeira, envolvendo o setor mais a leste, pertencia a Palmira e José Capitânio; a segunda, o setor mais a oeste, era dos herdeiros de Paulina e Jerônimo Moratti; a terceira, o setor central, constava na planta do loteamento pertencer a João Batista e a outros herdeiros de Luigi (5).

O loteamento começou a se desenvolver justamente pela gleba 1, a única que em 1957 já possuía suas ruas parcialmente abertas, embora sem nenhum melhoramento urbanístico, e com apenas duas construções, uma na Rua dos Abetos, outra na Rua das Seringueiras.

Mesmo sofrendo atraso em sua evolução ao longo dos anos 6 , que teria sido parcialmente causado pela morte do engenheiro responsável em um acidente aéreo (6) , o Jardim Ipê chegaria no início da década de 1970 já com razoável ocupação em suas três glebas, especialmente nas ruas dos Sobreiros, das Sequóias e das Caneleiras, situadas mais na parte intermediaria do loteamento. Neste momento já se desenhava no local uma favela, que ao final de 1973 atingiria 335 domicílios (7). Por outro lado, na Estrada dos Casa se construiu um grandioso prédio para instalação do Grupo Escolar (atual Escola Euclydes Deslandes), com projeto do renomado arquiteto Décio Tozzi, inaugurado em fevereiro de 1970.   

Ao longo dos anos 70 e 80, enquanto o povoamento crescia, a infra-estrutura urbana do Jardim Ipê melhorou com o começo da pavimentação das vias (1976-7), a instalação da rede de água e esgotos (8) e a inauguração do posto de saúde (1985). A favela, contudo, continuou aumentando, alcançando 478 domicílios em 1990 e, em 2010, 603 (9). Porém, entre 2011 e 2012, estes domicílios foram removidos pela prefeitura e seus moradores reassentados no Conjunto Habitacional Três Marias, no Bairro Cooperativa (11). Na área onde a favela se situava, junto ao córrego local (uma nascente do Ribeirão dos Alvarenga), a prefeitura construiria, a partir de 2017, o Parque das Nascentes Jardim Ipê.(12).

 

Acima, os casais Paulina Angela Marson e Jerônimo Moratti (acervo de Marlene Moratti) e Palmira Marson e José Capitânio. Abaixo, o Grupo Escolar do Jardim Ipê (atual Escola Estadual Euclydes Deslandes) em fevereiro de 1970

 

 

Notas:

(1) Vertamatti, R. Imigração em São Bernardo ,Vol.1 - Família Marson. 2005.

(2) Orsi. I e Paiva. O. Famílias Ilustres e Tradicionais de São Bernardo. 1994.

(3) Diário Oficial do Estado de SP, 11-05-1950

(4) Vertamatti.R. idem.

(5) Plantas do Jardim Ipê. Arquivo de Cartografia da PMSBC.

(6) Folha de São Bernardo, 30-06-1979.

(7) Planta da localização das Favelas de SBC. 1974. PMSBC

(8) Orçamento Municipal 1976.

(9) Decretos PMSBC 7885/85 e 8123/85

(10) Cadastro de núcleos de favelas,1990, PMSBC e Censo Nacional do IBGE, 2010.

(11) SIHI-SBC

(12) Diário do Grande ABC, 16-06-2020.

              

 

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