Os primórdios  urbanos da área que depois se tornaria a Vila Marlene se dão ainda na década de 1920, quando um imigrante sírio de nome Gabriel Marão (1) adquiriu terras junto à  Rodovia Caminho do Mar, altura do atual km 18 da Via Anchieta, terras que faziam parte, em fins do séc XIX, de um sítio  pertencente ao agricultor Joaquim Pires. Diferentemente deste último, o comerciante Gabriel não residia em São Bernardo - ele era dono de uma loja de armarinhos em Taquaritinga, interior de São Paulo (2).  Provavelmente apostando na valorização das terras no entorno da estrada, ele  planejou  um  loteamento nelas, que denominou Vila Miziara, com 171 lotes com tamanhos entre 300 e 700 m2, e apenas duas ruas. Chegou a vender alguns deles a  conterrâneos seus, como Elias João e Ana Abib Curi (3), especialmente na área mais próxima do córrego Borda do Campo (atual Av. Kennedy), mas  o empreendimento acabaria emperrando. Anos depois, entre 1945 e 1946, José Gabriel, filho de Marão, venderia a grande maioria de suas terras  para José Fongaro (4), um dos donos da Cerâmica Ipiranga,  então recém instalada no Bairro Paulicéia. O loteamento, rebatizado como Vila Marlene (nome de uma filha de José), foi então completamente reprojetado,  passando a ter 245 lotes, sendo eles em sua maioria menores do que os do loteamento precursor, variando entre 147 e 345 m2 . Por outro lado, possuía mais ruas:  a princípio, cinco (a  Rua Antônio Salema seria aberta só na década de 1960).  Ressalta-se contudo, que, com a força que o topônimo ‘Vila Marlene”  adquiriu com o tempo, alguns espaços vizinhos não situados na  área loteada por Fongaro acabaram associados  a ela, casos do grupo escolar e do parque infantil localizados nas margens da  Av. Kennedy.

Embora o loteamento  tenha  sido aprovado pela prefeitura apenas em 1951, já em 1948 os terrenos estavam sendo vendidos pelo loteador (5).  Mesmo não contando com  vias pavimentadas nem com luz elétrica  em seus primeiros anos, a Vila Marlene teve uma ocupação expressiva nesses tempos.  Em  1957, ano em que os moradores se organizavam para a construção da primeira capela local,  as ruas  Mário e Flávio Fongaro estavam razoavelmente preenchidas com construções, bem espalhadas estas ao longo de seus trajetos. Quase desabitada estava somente a  Rua Aurora. Além disso, já nos anos iniciais existem registros da instalação de estabelecimentos  comerciais na vila, como são os casos do armazém de Jorge Bossak (1950),  no início da Rua Mário Fongaro (6), e de um outro, inicialmente pertencente a  Rubens Rondim (7), que situava-se no n. 295 da mesma rua. O setor da via onde estava o armazém de Rondim, bem como as áreas vizinhas, se firmou ao longo do tempo como  zona de concentração de comércio e serviços, principalmente após a construção da  capela, depois paróquia,  junto à Praça Marlene. Alguns destes comércios sobreviveriam bastante tempo.

Nos anos 60, o povoamento da Vila  seria impulsionada pela melhora dos meios de acesso ao local, com a  construção da Avenida Kennedy sobre  o córrego Borda do Campo, e por  improvimentos em sua infra-estrutura: neste período se deu o  asfaltamento de diversas ruas, a edificação de um parque infantil (1966, atual EMEB Castro Alves) e de um grupo escolar nas proximidades (1969, atual Escola Estadual 20 de Agosto ) e também a instalação de um feira livre (1969).  Em frente à praça,  edificou-se também em 1969 um novo e maior prédio para a  Paróquia Nossa Senhora de Fátima (8),  a partir da mobilização dos moradores, indicando que  a capela antecedente  já não dava mais conta do movimento dos fiéis, tendo em vista o aumento da população. Por volta de 1980, restavam  poucos lotes totalmente vazios. Nas décadas seguintes iniciaria-se um processo de verticalização na vila, como ocorrera em diversos outros pontos da cidade e também um  crescimento no número de imóveis destinados a fins comerciais. Tendo, por volta  de 2010 (9), uma média de 2 a 3 moradores por domicílio, a vila se manteve com um perfil de classe média,  havendo um rendimento mais elevado nos setores onde existe maior verticalização.

 

Nas imagens: acima,  parte da Praça Marlene, entre as ruas Mário e Flávio Fongaro, em 1971. Abaixo,  moradores na Rua Flávio Fongaro, acompanhando a inauguração da iluminação noturna da Praça Marlene, em 1986.

 

Notas:

(1)   Barbosa, N.A.M. e Piquini, M. A.  Folha de S. Bernardo, 24-02-1979.

(2)   O Estado de São Paulo, 04-01-1912

(3)   Diário Oficial do Estado de São Paulo, 06-01-1960

(4)   idem, 22-08-1947

(5)   Médici, A (org.). A Caminhada de Fátima na Borda do Campo. 2016.

(6)   idem

(7)   Diário Oficial do Estado de São Paulo, 10-05-1951.

(8)   Médici, A. idem.  

(9)   Censo Nacional IBGE, 2010.      

 

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