BIBLIOTECA PÚBLICA LUGAR DE CONHECIMENTOS - CANÇÕES E O TRABALHO

 

“Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você.”

Em 1933, Noel Rosa escreveu Três Apitos, uma canção que mescla a terna declaração de amor com um dos símbolos de um país que se industrializava: os sons da fábrica na entrada e saída de operários, a demarcação lírica do tempo do trabalho. Noel Rosa, em sua breve e profícua carreira, descreveu em suas canções crônicas, a transformação de uma país que saía das feições rurais para a vida urbana, cujas fábricas e operários eram figuras centrais.

Não foi apenas Noel que descreveu a mudança do mundo do trabalho no decorrer do século XX. São muitas histórias nas letras e nas abordagens. Aqui trazemos uma pequena mostra de um universo amplo. O samba O Bonde de São Januário, de 1940, parceria de Wilson Batista e Ataulfo Alves, destaca um controverso sentimento do trabalho como obrigação e virtude. A controvérsia fica destacada na censura da letra original, que trazia os seguintes versos:

"Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O Bonde São Januário
Leva mais sócio operário
Sou eu que vou trabalhar."

A censura fez os autores mudarem a letra para:

"Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O Bonde São Januário
Leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar."

Sempre houve um país que ganhava o pão de outras maneiras, longe das máquinas e das confinações das fábricas. Um país que trabalhava no mar grande, das pescarias na imensidão e que Dorival Caymmi versou e cantou lindamente em 1954, na canção O Canoeiro, em que conta o dia a dia dos trabalhadores do mar:

"Cerca o peixe
Bate o remo
Puxa corda
Colhe a rede
Ô canoeiro
Puxa rede do mar."

Há várias maneiras de olhar o trabalho. Uma delas é a virtude que gera aceitação, que está expressa como exemplo na canção Chumbo Grosso, composta pela dupla sertaneja Tião Carreiro e Pardinho em meados da década de 1970. A letra conta a história de um pai que idealiza o homem para ser seu genro e, dentre os requisitos que o pretendente de sua filha deve atender, não há a necessidade de ter estudo, mas ser trabalhador:

"Pra casar com minha filha
Precisa muita moral
Trabalhador e honesto
Traz um grande capital
Desejo pra minha filha
Casamento com bom moço
Pra turma dos vagabundos
Eu só mando chumbo grosso."

Por fim, já adiantando, que o espaço é curto para que abordemos todas as nuances que implicam canções e as suas diversas sensibilidades para o mundo do trabalho, chegamos no trabalho como tragédia, retratado na consagrada Construção, de Chico Buarque de Holanda (1971). A letra narra um desfecho trágico na vida de um trabalhador:

"E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público."

Enfim, são diversas as canções populares que tratam do mundo do trabalho. O Lugar de Leituras convida a todos para um mergulho nessa história.

 

As canções:

https://www.youtube.com/watch?v=IKrTHrTcVf4

https://www.youtube.com/watch?v=f3f7s1aoPdY

https://www.youtube.com/watch?v=-zNz0Da6Mhs

https://www.youtube.com/watch?v=Plt6qlMQp64

https://www.youtube.com/watch?v=wBfVsucRe1w

Outras canções:

Capitão da Indústria – de Marcos Valle. Intérprete: Djalma Dias

https://www.youtube.com/watch?v=5Ep5XgMT-QE

A Fábrica – Sergio Ricardo

https://www.youtube.com/watch?v=Y9gIqF0WnTc

Pedreiro Valdemar – de Wilson Batista. Intérprete: Blecaute

https://www.youtube.com/watch?v=nj4zPYRYIOg

Terra Plana – Geraldo Vandré

https://www.youtube.com/watch?v=1tYDoH30u2k

Miséria – Titãs

https://www.youtube.com/watch?v=mBtm9mTWlpA

 

 

 

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