O título não se refere a mais uma contação do projeto Vem pra História, mas bem que parece, não é? Você viu A Rã e o Boi, apresentada no mês passado? Se perdeu ou quiser rever, assista em:

https://www.youtube.com/watch?v=pZEG3oRNO88  BIBLIOTECA PÚBLICA LUGAR DE CONHECIMENTOS - Mulheres na Ciência e em Todos os Lugares – Parte 4 - Os Sapos e o Feminismo – Bertha Lutz. Uma quase fábula do século XX. A vida e as lutas da cientista e feminista brasileira Bertha Lutz

Mas voltando ao assunto de hoje, vamos conhecer um pouco sobre uma
mulher que mostrou, já na primeira metade do século passado, que as lutas feministas e o trabalho científico podem andar de mãos dadas: Bertha Lutz. A vida da cientista, advogada, tradutora, educadora e sufragista dá enredo para várias histórias que se confundem com o desenvolvimento das Ciências, do Direito, das Letras, da Educação e do movimento feminista no Brasil.

Bertha Maria Júlia Lutz nasceu na cidade de São Paulo, em 2 de agosto de 1894, filha do médico e cientista carioca Adolfo (ou Adolpho) Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler Lutz.

Mesmo sendo filha do fundador da Medicina Tropical e da Zoologia médica (pioneiro nos estudos epidemiológicos) no Brasil, Bertha não viveu à sombra do pai (assista em https://www.youtube.com/watch?v=0upSOONMPNw a uma breve biografia de Adolfo Lutz).

Após concluir os primeiros estudos na capital paulista, Bertha foi para a França cursar o antigo secundário e o ensino superior, onde se graduou em Ciências Naturais pela Faculdade de Ciências da Universidade de Paris (Sorbonne), em 1918. Regressando ao Brasil no mesmo ano, trabalhou como tradutora no setor de Zoologia do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi aprovada em concurso para o cargo de secretária do Museu Nacional*, tornando-se a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro.

Durante os estudos na Europa, Bertha conheceu o movimento feminista
inglês, do qual absorveu ideias que alimentaram ainda mais seu pensamento. Ela é conhecida como uma das pioneiras na luta pelo voto feminino no Brasil, além de (co)fundadora de algumas instituições feministas, como a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher (1919) e a Federação Brasileira para o Progresso Feminino (1922). O movimento sufragista alcançou seu objetivo em 1932, quando o voto feminino foi aprovado por decreto-lei do Presidente Getúlio Vargas.

Em 1933, a fim de defender os direitos femininos com mais propriedade, Bertha graduou-se em Direito. Anos depois, assumiu uma vaga na Câmara dos Deputados, onde lutou por mudanças na legislação em favor dos direitos das mulheres.

Ao longo de sua vida, Bertha representou o Brasil em diversos encontros mundiais, como a emblemática participação na Conferência de São Francisco, em 1945 (na qual batalhou pela inclusão de igualdade de gênero na Carta da ONU, documento que deu origem às Nações Unidas) e a I Conferência Mundial da Mulher (1975, no México) - esse último evento foi também sua última defesa em público dos direitos femininos, pois faleceu em 16 de setembro do ano seguinte, no Rio de Janeiro.

Além dessa grande feminista, Bertha Lutz foi também uma das grandes cientistas brasileiras (na verdade, para ela, feminismo e Ciência não se dissociavam), atuando na área biológica (de sua formação), sobretudo com estudos sobre Zoologia e Botânica.

Depois de ingressar como Secretária no Museu Nacional, em 1919, Bertha ficou à disposição, por curtos períodos, do Ministério da Agricultura, pelo qual representou o Brasil em viagens e conferências internacionais. Retornando ao Museu, colaborou com a Seção de Botânica, onde assumiu posteriormente a função de Naturalista.

Ainda que tenha uma inicial predileção pela flora (incluindo suas pesquisas sobre a Serra da Bocaina, decorrentes de excursões científicas realizadas pelo Museu), sua grande produção científica baseou-se na fauna, mais precisamente nos estudos sobre os anfíbios anuros, sob influência do trabalho de seu pai na área de Zoologia.

Os sapos e as rãs “entraram de vez” na vida de Bertha, provavelmente, por meio das coleções de herpetologia reunidas durante as pesquisas de seu pai, no Instituto Oswaldo Cruz. Em 1941, ela participou de uma expedição científica à Bahia e a São Paulo, para organizar os catálogos da coleção Adolfo Lutz.

Posteriormente, Bertha fez parte de outras expedições pelo Brasil, para fazer pesquisa de campo, com análise das espécies em seus biomas e coleta de material ecológico, além de representar o Museu Nacional em excursões de caráter científico ao exterior, apresentando trabalhos, como no Congresso de Herpetologia, em San Diego (EUA). Focou seus estudos e elaborou uma monografia sobre os sapos do gênero Hyla que, posteriormente, serviria de base para o livro Brazilian Species of Hyla, publicado em 1973 pela editora da Universidade do Texas.

Por todos esses e outros trabalhos (como a identificação e a revisão de espécies do acervo do Museu Nacional e a contribuição na modernização dos métodos expositivos e educativos da instituição), recebeu o título de “Professor Emérito”, em 1956, em Assembleia Universitária, após indicação da Congregação do Museu Nacional.

Bertha Lutz batalhou por conquistas femininas e científicas, tanto no direito ao voto feminino, como na participação de mulheres no processo educativo e na divulgação científica. Suas vitórias são de todas. Assim, Bertha também mostrou que, não só em sua época, mas sempre: lugar de mulher é na Política, na Ciência, no Direito, na Educação, enfim, em todos os lugares.

* O Museu Nacional, infelizmente, foi destruído em um incêndio em setembro de 2018. Enquanto ele não é reconstruído, você pode fazer uma visita virtual e conhecê-lo como era antes do incêndio, pelo Google Arts and Culture (caso não conheça esse serviço/aplicativo do Google, ele permite conhecer espaços culturais do mundo todo, sem sair de casa). 


Acesse:
https://artsandculture.google.com/partner/museu-nacional-ufrj

 

Referências:

http://www.museunacional.ufrj.br/semear/berthalutz.html

http://www.bvsalutz.coc.fiocruz.br/html/pt/static/trajetoria/heranca/bertha.php

https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/3997/2/000039.pdf

https://www.scielo.br/pdf/vh/v24n39/a15v24n39.pdf

https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v15s0/04.pdf

https://www.scielo.br/pdf/mioc/v53n2-3-4/tomo53(f2-3-4)_443-453.pdf

http://lhs.unb.br/bertha/

 

 

 

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