BIBLIOTECA PÚBLICA LUGAR DE CONHECIMENTOS –O TRABALHO NO CINEMA

Assim como na Literatura, na obra da escritora Conceição Evaristo, que afirma conceber seus textos a partir de sua condição na sociedade, o Cinema e outras linguagens artísticas também podem retirar seus roteiros e fotografias das diversas realidades que nossa vida experimenta.

O trabalho e as histórias de trabalhadores têm produzido filmes fortes e esteticamente belíssimos ao longo do tempo. Então, que tal vermos alguns filmes cujas histórias são contadas a partir dos desafios das vidas reais de trabalhadores? Para isso, pinçamos alguns e os agrupamos a partir de dois temas. Ao final, colocamos os links dos trailers dos filmes apresentados aqui.

O Trabalho, ontem e hoje

Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirzman (1981), Brasil;

Eu, Daniel Blake, de Ken Loach (2016), Reino Unido;

Estou me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes (2019), Brasil.


Como era trabalhar na década de 1980? E quais os desafios que se colocam hoje para os trabalhadores da 4ª Revolução Industrial, em que os mesmos são convertidos em empreendedores? E como pode ser, ainda se falando nos dias de hoje - com tudo “tão tecnológico”-, o fim da vida de um trabalhador das indústrias daquela década?

Os três filmes acima procuram apresentar, em suas narrativas, esse processo histórico, que começa com o clássico Eles Não Usam Black Tie (filme, com Gianfrancesco Guarnieri e Fernanda Montenegro como protagonistas, que mostra a história de famílias trabalhadoras da indústria tradicional no início da década de 1980) ao sensível e contundente documentário do pernambucano Marcelo Gomes - Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar-, sobre as vidas de trabalhadores autônomos em Toritama, cidade do sertão pernambucano e que é considerada a capital brasileira do jeans.

Se, em Eles Não Usam Black Tie, a trama gira em torno das dificuldades que os empregados enfrentam para manter seus empregos e melhorar suas condições de vida e os dramas familiares que decorrem dessa condição, o documentário de Marcelo Gomes apresenta a busca por trabalhar até próximo ao esgotamento, para gastar praticamente todo dinheiro ganho nos quatro dias de carnaval.

Este grupo de filmes traz um pouco sobre a história das lutas dos trabalhadores para conquistar melhores condições de trabalho e de vida e como os processos de desregulamentação de leis trabalhistas, que tentam converter empregados em empreendedores, conformam a vida e a visão de mundo que esses trabalhadores têm acerca de si mesmos.

E fechamos com Eu, Daniel Blake, filme que narra a trajetória de um trabalhador formado numa indústria tradicional - ele era carpinteiro - e como, no fim de sua vida nos anos 2000, ele se vê impossibilitado de seguir na sua profissão de carpinteiro devido a um problema de saúde. Tal situação lhe obriga a travar uma luta contra o Estado, que não lhe concede pensão pelo sistema de seguridade social inglês, devido à sua contraditória lógica burocrática. O filme conta essa história, do operário formado no mundo do trabalho das décadas de 1960 e 1970, tentando sobreviver numa sociedade informatizada e de trabalhadores informais, vulgo empreendedores.

E, por último, mas não menos importante, o filme nos serve como transição para o nosso próximo tema. Em sua jornada, Daniel Blake conhece Katie, uma mãe solteira, que também está em busca de reconstruir sua vida numa nova cidade. À procura de emprego, com duas crianças, e sem o amparo de um auxílio do Estado, Katie se vê dependendo de ações de caridade para alimentar seus filhos e de recorrer a trabalhos considerados degradantes.

As jornadas das mulheres no mundo do trabalho será nosso próximo tema.

O Mundo do trabalho para as mulheres

Dançando no Escuro, de Lars Von Trier (2000), Dinamarca;

Terra Fria, de Michael Seitzman (2006), Estados Unidos;

Que Horas Ela volta, de Ana Muylaert (2015), Brasil.


Muito mais dramáticos, estes três filmes exploram a dura realidade das mulheres trabalhadoras. Desde as motivações que as orientam na busca por trabalho - no caso, os três filmes apresentam mulheres, mães, que, além de sua sobrevivência, buscam conseguir melhores condições de vida aos seus filhos -, passando pelos preconceitos, discriminações e abusos que o sexo feminino sofre nos ambientes laborais.

Em Dançando no Escuro, temos a cantora islandesa Bjork interpretando uma mulher imigrante e doente numa fábrica nos Estados Unidos, buscando economizar o máximo de seu ordenado para prover uma situação de doença futura de seu filho, enquanto que, no filme brasileiro Que Horas Ela Volta, a empregada doméstica Val (Regina Cazé), migrante nordestina, que cuidou do filho da patroa até o fim da adolescência deste, reencontra sua filha após anos, quando esta vem prestar o vestibular em São Paulo.

Em Terra Fria, a personagem de Charlize Theron volta à cidade após o divórcio e se emprega em uma mina de ferro, numa cidade do interior dos Estados Unidos. Lá, ela tem de conviver com os preconceitos dos homens e da família.

Três histórias contadas de maneiras diferentes, com musicalidade (Dançando no Escuro é quase um musical) e dureza, mas todos eles apontam para como, mesmo as mulheres fazendo parte do mundo do trabalho desde a primeira Revolução Industrial, ainda lutam por uma igualdade de direitos com os homens, deixando a pergunta: por que é tão difícil reconhecer essa igualdade?

A seleção apresentada também coloca em evidência as diferenças históricas entre as trabalhadoras estadunidenses e europeias e a condição da trabalhadora brasileira, que, muitas vezes, sai de sua casa para trabalhar na casa de outras pessoas como trabalhadora doméstica. Contudo, mesmo em sociedades ditas mais desenvolvidas, as mulheres ainda têm de cumprir jornadas duplas ou triplas de trabalho.

 

Abaixo os trailers oficiais dos filmes:

Eles Não Usam Black Tie

https://youtu.be/vqN4pohAmnQ

Eu, Daniel Blake
https://youtu.be/ob_uqy1aouk

Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar
https://youtu.be/ms84S1JTAYg

Terra Fria
https://youtu.be/6KcUZf7OAnU

Que Horas Ela Volta
https://youtu.be/Dffs46VCJ_g

Dançando no Escuro
https://www.youtube.com/watch?v=cM7FyvdkbZw

 

 

 

Acompanhe nossas redes sociais:

facebook       instagram       youtube