“A linha final da montagem corria, o trabalho febril, ligeiro, sem tempo nem pra pensar nos problemas, corrido, se alguém queria ir no banheiro levantava o dedo, gritava ao feitor pedindo, num olhar do feitor já vinha outro substituir, esse outro chegava, tomava o lugar”.
(Crônicas da Vida Operária – Roniwalter Jatobá).

LEITORES DA CIDADE - “A linha final da montagem corria, o trabalho febril, ligeiro, sem tempo nem pra pensar nos problemas, corrido, se alguém queria ir no banheiro levantava o dedo, gritava ao feitor pedindo, num olhar do feitor já vinha outro substituir, esse outro chegava, tomava o lugar”.Muitos autores, desde o século XIX, retrataram em suas obras literárias representações do mundo do trabalho e das condições de vida dos trabalhadores, tanto no campo quanto nas cidades. Obras clássicas que tinham como centro da sua narrativa e trama o protagonismo da classe trabalhadora e sua pluralidade, vocalizando dramas e vivências individuais e coletivas,que, ao mesmo tempo que tratavam da exploração e das condições precárias de trabalho, colocavam também o trabalhador como sujeito ativo, não apenas uma vítima passiva da realidade do trabalho.  

Livros como os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, Germinal, de Émile Zola e Tempos Difíceis, de Charles Dickens, são exemplos desse tipo de narrativa, assim como obras da Literatura Brasileira, como o Cortiço, de Aluísio de Azevedo e vários contos de Machado de Assis, entre outros tantos autores.

No século XX, podemos citar obras de Lima Barreto, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Patrícia Galvão e Rachel de Queiroz, que, em suas escritas, representaram as transformações da sociedade brasileira, as mudanças ocorridas no campo e do desenvolvimento das cidades e suas indústrias.  Histórias e personagens que, individualmente, sintetizaram o cotidiano dos trabalhadores brasileiros e suas estratégias de sobrevivência.

Na Literatura Contemporânea Brasileira, podemos destacar algumas obras e escritores que têm, como cerne de suas narrativas, ou até mesmo de maneira transversal, as relações de trabalho e suas contradições. Até mesmo temos livros escritos por autores que narram suas próprias experiências no mundo do trabalho, utilizando uma escrita ficcional. 

Essas obras contemporâneas trazem, muitas vezes, as novas configurações do trabalho em nossa sociedade, dando voz ao trabalhador informal, que vive de bicos e subempregos ou de funções que até os dias de hoje têm o estigma racial e de classe, como o serviço braçal e doméstico. 

"Baiano negaceava de emprego decente, o que talvez tenha inflamado sua ruína, imagina agora, que não adianta mais. Desde cedo negaceou patrão, não por temor de pegar no pesado, que despossuía, mas por vagas ideias de não se querer cavalgado” (Inferno provisório – Luiz Ruffato).

Os autores contemporâneos problematizam o mundo do trabalho e suas relações, fundindo o texto literário com o contexto social no qual essas narrativas são produzidas. 

“Maria estava parada há mais de meia hora no ponto de ônibus. Estava cansada de esperar. O preço da passagem estava aumentando tanto! Além do cansaço, a sacola estava pesada. No dia anterior, no domingo, havia tido festa na casa da patroa. Ela levava para casa os restos.” (Olhos D’água – Conceição Evaristo).

 

 

 

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