“Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas”(trecho de O Quinze, de Rachel de Queiroz).

Em várias entrevistas concedidas pelo escritor Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado - obra do mês de julho no encontro virtual do Clube de Leitores da Cidade -, ele ressalta a importância dos romances regionalistas das décadas de 1930 e 1940 na sua formação como leitor e da influência dessas leituras na produção de sua prosa.  Livros de Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado deixaram marcas profundas no escrever de Itamar Vieira Junior e na sua forma de narrar uma história no sertão brasileiro, que o permitiu tratar de temas universais e da humanidade, como o direito à vida, ao trabalho digno e à posse da terra.

LEITORES DA CIDADE - “Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas”(trecho de O Quinze, de Rachel de Queiroz).O contexto histórico daquelas décadas foram marcadas por intensos conflitos sociais e políticos no Brasil, que ainda sofria as consequências econômicas da quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 e da crise da economia cafeeira. A esses eventos, seguiram-se movimentos políticos e sociais como a Revolução de 1930, a insurreição comunista de 1935 e o Estado Novo de Getúlio Vargas a partir de 1937 até 1945. Na conjuntura internacional, se destacavam a ascensão do nazi-fascismo e a Segunda Guerra Mundial. Foram nesse contexto de grande efervescência política e também cultural que alguns escritores da Segunda Geração Modernista produziram as suas obras.

“No decênio de 30 o inconformismo se tornou um direito, não uma transgressão. Na verdade, quase todos os escritores de qualidade acabaram escrevendo como beneficiários do movimento de libertação operada pelos Modernistas, com a busca de uma simplificação crescente e dos torneios coloquiais, que rompem o tipo anterior de artificialismo”. (Antônio Cândido, sociólogo e crítico literário).

A Segunda Geração Modernista, que muitos estudiosos datam de 1930 a 1945, se destacou pela produção de uma prosa regionalista, um romance que tinha uma perspectiva realista do mundo contemporâneo e suas contradições, valorizando o espaço e o meio regional na produção e reprodução social de desigualdades e dramas humanos.

“A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos” (trecho de Vidas Secas, de Graciliano Ramos).

A redescoberta de um Brasil profundo, multifacetado e de grande diversidade regional e cultural foi feita através das narrativas desses escritores e suas personagens. Os autores da geração Modernista evidenciavam as mazelas da seca, da migração e do trabalho rural, tiravam sua prosa da metrópole e do litoral e miravam no sertão, no interior brasileiro e nas suas contradições e fenômenos políticos, como o coronelismo e o cangaço.

“Está você alugado do coronel.
Estranhei o termo:
– A gente aluga máquina, burro, tudo, mas gente não.
– Pois nas terras do Sul, gente também se aluga.
O termo me humilhava. Alugado (…). Eu estava reduzido a muito menos que homem (…)”
(Trecho de Cacau, de Jorge Amado).

A narrativa desses romances é marcada por uma linguagem simples e dinâmica, mas não menos densa, literária e poética. Na escrita dos autores, afloram a oralidade popular e as vozes do homem e da mulher comuns, com suas tradições, religiosidades, resistências e resignações.

Na prosa, podemos destacar as obras dos seguintes autores: José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Na poesia: Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.

“Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração”
.
(Trecho de Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade).

 

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