“Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida” (trecho do livro Ideias Para Adiar o Fim do Mundo).

LEITORES DA CIDADE - “Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida” (trecho do livro Ideias Para Adiar o Fim do Mundo).Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, antes de ser um livro que sintetiza conferências do escritor indígena Ailton Krenak, realizadas em Portugal em 2017, é, antes de tudo, um manifesto. É a vocalização da visão de mundo de nossos povos originários, que tiveram suas narrativas e resistências apagadas e silenciadas pelo tempo histórico, mas que, no momento atual, são relevantes diante das questões ambientais e da ameaça à sobrevivência da Humanidade e de sua diversidade na Terra.

Krenak, com suas palavras, critica as ideias de civilização e Humanidade da perspectiva etnocêntrica, que foram a base para legitimar a conquista e a colonização dos povos indígenas da América Portuguesa, enxergando-os como tábula rasa, desprovidos de “Lei, Rei e Fé”. Projeto colonial que pretendia ocidentalizar a cosmovisão de nossos povos originários e “curá-los” da inconstância de suas almas selvagens.

No atual contexto, Krenak nos mostra como a ideia de uma Humanidade homogênea e de uma narrativa globalizante, enraizada numa sociabilidade mercantilizada, cinde a Humanidade da Natureza, tratando-as como esferas distintas - Terra e Humanidade - como coisas separadas. Uma visão de mundo que abandona a experiência de vida, pois a Terra é saturada de sentidos e é um local para a coexistência de diferentes cosmovisões.

A resistência dos povos indígenas a esse tipo de racionalidade permeia a História de nosso país e se confronta com as visões de desenvolvimento sustentável das grandes corporações dos organismos internacionais e dos padrões de comportamento de uma sociedade consumista, que ameaçam os recursos naturais com a intensa demanda por bens de consumo. Essa resistência também reivindica, junto ao Poder Público, o reconhecimento de seus direitos como povos originários e o cumprimento da responsabilidade constitucional do Estado Brasileiro em relação a essas demandas. Uma luta pela sobrevivência, manutenção e perenidade de sua Cultura. Respeito e reconhecimento de suas narrativas, na forma de se relacionar com a Natureza e em sua visão de mundo.

Por fim, Krenak nos diz sobre um lugar onde são possíveis as visões diversas de mundo e de Humanidade: “Um outro lugar que a gente pode habitar além dessa terra dura: o lugar do sonho. Não o sonho comumente referenciado de quando se está cochilando, mas que é uma experiência transcendente na qual o casulo humano implode, se abrindo para outras visões da vida não limitada”.

 

 

Acompanhe nossas redes sociais:

facebook       instagram       youtube