“Quarenta dias. Atravessei a geena. Acabo de sair da quarentena. Não planejei nada, caí lá sem querer, sem me dar conta de que aquilo podia ser a barca do inferno”. (trecho do romance)

 

Leitores da Cidade - "Quarenta dias. Atravessei a geena. Acabo de sair da quarentena. Não planejei nada, caí lá sem querer, sem me dar conta de que aquilo podia ser a barca do inferno”Quarentena, uma palavra tão presente no nosso vocabulário nos últimos meses por conta do momento sanitário que vivemos. Em tempos de pandemia, a quarentena implica o isolamento e o distanciamento social, e tem nos causado, por justificada necessidade e responsabilidade, tantos “desencontros” com outras pessoas e com aqueles que nos afeiçoamos. 

No livro Quarenta Dias, da autora Maria Valéria Rezende, ganhadora do prêmio Jabuti, a quarentena de Alice, personagem principal do romance, é o oposto, consiste no encontro consigo mesma e com outro, o diálogo com  personagens diversos que vivem  nas ruas e na periferia da grande cidade, marcados pelo signo da exclusão e da sobrevivência precária.

Alice, uma mulher madura, que vive na capital paraibana de João Pessoa, onde deitou suas raízes, estabeleceu seus laços afetivos e construiu seus referenciais de identidade, tem todo esse seu universo abalado, quando sua filha Norinha, que há tempos havia se mudado para o Sul após o casamento, impõe à sua mãe a mudança para Porto Alegre  na condição de  avó dedicada. O impasse é criado, mas dolorosamente resolvido, quando Alice abre mão de sua vida à beira-mar para viver na capital gaúcha, atendendo o desejo e as necessidades de sua filha.

Desterrada dentro de seu próprio país, Alice é acometida pela angústia e pelo estranhamento em sua nova vida, e dentro deste cenário tenta criar alternativas e subterfúgios para romper a letargia.

Em uma busca desenfreada por um conterrâneo desaparecido, se lança às ruas de Porto Alegre e, durante quarenta dias, não sabe o que é voltar ao apartamento alugado pela filha, local de seu exílio. Quarenta dias morando na rua, de encontros e diálogos com outro e consigo mesma, de reflexões e da compreensão sobre a sujeição destes personagens a condições tão precárias de vida, e da sua própria condição feminina.

Arturo, Lola, Penha e Milena são os outros sujeitos da trama com os quais Alice se encontra. Cada personagem representa um universo, com suas memórias, agruras e cicatrizes deixadas pela exclusão e a luta pela sobrevivência.

Histórias descritas em um caderno velho e com as folhas amareladas, com a capa estampada por uma boneca famosa, com a qual a narradora Alice dialoga na solidão de seu apartamento-exílio.

 

Vídeo YouTube

Conversa com a escritora Maria Valéria Rezende - TV Câmara https://youtu.be/qjdeFoKRUqk

 

 

 

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