“A paisagem humana do bairro era dominada pelos italianos, mais numerosos e barulhentos do que os portugueses e espanhóis da vizinhança. Gente simples, oriunda de pequenos povoados devastados pela guerra, uma mistura de calabreses, napolitanos, sicilianos, vênetos e milaneses. Falavam dialetos incompreensíveis uns para os outros.” (Nas Ruas do Brás, de Drauzio Varella).

 

Olá Leitores da Cidade! Neste texto, destacamos alguns títulos e autores nacionais e estrangeiros que tratam, de alguma forma, da temática da diáspora, partindo de pesquisas e conhecimentos nas áreas da Antropologia, Ciências Sociais, Psicologia, História e de relatos de memórias. Uma visão plural sobre o tema e suas relações com os indivíduos e com a sociedade.

 

Parte desses livros mencionados vocês encontrarão em nossa Rede de Bibliotecas Públicas Municipais. Para isso, é só pesquisar os títulos e em quais unidades estão disponíveis para empréstimo no site: https://bibliotecapublica.saobernardo.sp.gov.br/

 

Boas Leituras!

 

O Crime do Restaurante Chinês (2009) – Boris Fausto

Neste livro, o historiador Boris Fausto recorre aos arquivos da história e da memória pessoal para narrar e analisar um dos acontecimentos policiais que mais mobilizaram a opinião pública paulistana. Ele era um menino quando, logo depois de um animado carnaval de rua, a cidade não falava de outra coisa: um homem negro era acusado de matar o ex-patrão e mais três pessoas com terríveis golpes de pilão. O historiador narra o processo das investigações com a maestria de um romancista.

 

Corações Sujos (2000) – Fernando Morais

A Shindo Renmei, ou "Liga do Caminho dos Súditos", nasceu em São Paulo após o fim da Segunda Guerra, em 1945. Para seus seguidores, a notícia da rendição japonesa não passava de uma fraude aliada. Como aceitar a derrota, se em 2.600 anos, o invencível Japão jamais perdera uma guerra? Em poucos meses, a colônia nipônica, composta de mais de 200 mil imigrantes, estava irremediavelmente dividida: de um lado, ficavam os kachigumi, os "vitoristas" da Shindo Renmei, apoiados por 80% da comunidade japonesa no Brasil; do outro lado, os makegumi ou “derrotistas”, que acreditavam na rendição japonesa. A tradução de “makegumi” dá nome ao livro Corações Sujos.

 

A Minha Casa é Onde Estou (2018) – Igiaba Scego

Três primos, com três diferentes cidadanias, tentam juntar as memórias de toda a família, desenhando o mapa da sua cidade de origem, Mogadíscio. Quando Igiaba Scego, sentada àquela mesa, tem de desenhar o seu mapa pessoal, fica perplexa. Ela se dá conta de que não conhece a cidade onde sua família viveu antes de se mudar para a Itália. A sua Mogadíscio é Roma, cidade onde nasceu e cresceu.

 

Longe de Casa (2018) – Malala Yousafzai

Em Longe de Casa, que é, ao mesmo tempo, um livro de memórias e uma narrativa coletiva, Malala explora sua própria trajetória de vida e apresenta as histórias de nove garotas de várias partes do mundo: do Oriente Médio à América Latina. Elas tiveram de deixar para trás sua comunidade, seus parentes e o único lar que conheciam. Numa época de crises migratórias, guerras e disputas por fronteiras, Malala lembra-nos que os 68,5 milhões de deslocados no mundo são mais do que uma estatística ― cada um deles é uma pessoa com suas próprias vivências, sonhos e esperanças.

 

Diáspora: os Longos Caminhos do Exílio (2001) – José Maria Rabelo

Memória, reportagem e reflexão. Este livro é a mais completa obra sobre o tema publicado entre nós, redigida por duas pessoas que tiveram de viver 16 anos no exterior, perseguidas pela ditadura militar. Representa um verdadeiro manual de sobrevivência no exílio, diante do qual cabe a pergunta: será que o trem da História pode descarrilhar de novo no Brasil e em outras partes da América Latina?

 

Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana (2011) – Nei Lopes

Obra que reúne, num único volume, uma significativa massa de informações multidiscilplinares sobre o universo das Culturas Africana e Afrodescendente. Traz ao conhecimento de um público amplo assuntos até agora restritos a especialistas e de difícil acesso ao público leigo. Os verbetes, em ordem alfabética, abrangem uma vasta área de conhecimentos, incluindo personalidades, fatos históricos, países, religiões, fauna, flora, festas, instituições, idiomas, etc.

 

Nas Ruas do Brás (2000) – Drauzio Varella

O médico Drauzio Varella, autor de Estação Carandiru, neto de imigrantes espanhóis e portugueses, relembra alguns episódios de quando brincava e brigava nas ruas do Brás, o bairro de São Paulo onde se criou. Drauzio conta algumas coisas que hoje soam estranhas.

 

Migrantes Nordestinos na Literatura Brasileira (2019) – Adriana Fátima de Araujo

Esse estudo mostrou como o migrante passa de objeto a sujeito da narração, sem, no entanto, considerar esse processo uma evolução linear, porque percebe-se recuos nele. O trabalho teve uma perspectiva crítica, partindo do estudo da classe social, além do uso dos meios tradicionais de análise literária: caracterização da instância narrativa – voz, perspectiva, relação narrador/texto narrado, tempo e espaço. Foi importante perceber como os problemas sociais brasileiros e, especialmente a desigualdade brasileira, subjazem à questão presente na relação entre narrador letrado/personagem iletrado e como algumas obras representaram uma superação dessa questão, quando esse personagem migrante conquista o direito à sua própria voz.

 

Estranhos à Nossa Porta (2017) – Zygmunt Bauman

 

O autor disseca o pavor provocado pelas migrações e o processo de desumanização dos recém-chegados. Mostra também como políticos têm explorado os temores e ansiedades que se generalizaram, especialmente entre os que já perderam muito - os excluídos e os pobres. Muito mais do que uma crise migratória, vivemos uma crise humanitária, afirma Bauman.

 

Um Belo Diploma (2020) – Scholastique Mukasonga

 

Como salvar uma filha de uma morte certa? Talvez, como crê o pai de Scholastique Mukasonga, confiando-a à escola, a fim de que ela obtenha um “belo diploma”. Assim, ela não será mais nem tutsi nem hutu. Ela atingirá o status inviolável de “evoluída”. É justamente para obter um diploma, que a menina será obrigada a tomar o caminho do exílio. Ela passará de país em país, do Burindi à Djibouti, até chegar à França. Ao longo da travessia, às vezes, as chances prometidas por esse papel parecem uma certeza.