"No fundo da terra germinará uma semente, e um belo dia, os homens brotariam da terra, um exército de homens que viria restabelecer a justiça" (Germinal, de Emile Zola).

Pensando a Literatura como uma manifestação artística e cultural, ela apresenta sua condição enquanto uma produção da vida social, expressando em suas narrativas e textos as realidades de uma determinada época, com todos os seus conflitos e contradições, escritas e expressadas não somente em seu conteúdo, mas também pela sua forma. Sendo muitas obras e seus escritores cronistas e intérpretes de seu tempo, mediando temporalidades históricas, com suas narrativas ficcionais, que se apresentam como representações da realidade, através de suas tramas e personagens.

Quantas vezes não somos surpreendidos com romances da Literatura Universal, que nos dizem tanto sobre o que somos e como vivemos nossas contradições e dilemas individuais e coletivos, através de histórias escritas e com caráter ficcional.

“ O rouxinol da poesia – como a ave do saber, a coruja – só é ouvido depois que o Sol se põe. O dia é o tempo da ação, mas no crepúsculo o sentimento e a razão fazem o balanço do que se realizou”. (Literatura e Revolução, de Leon Trotsky).

E como a Literatura nos diz muito sobre a nossa humanidade e suas transformações, os processos de mudanças e rupturas históricas não passariam ao largo da produção literária. No livro A Era das Revoluções, do historiador britânico Eric Hobsbawm, ele nos aponta que os séculos XVIII e XIX foram marcados por grandes transformações econômicas e grande agitação política e social. Ele denominou de “dupla revolução”: uma de caráter mais econômico – a Revolução Industrial - e outra de aspecto político - A Revolução Francesa -, processos revolucionários que transformaram seu tempo e continuaram a transformar os séculos seguintes.

“E ainda assim a história da dupla revolução não é meramente a história do triunfo da nova sociedade burguesa. É também a história do aparecimento das forças que, um século depois de 1848, transformariam a expansão em contração”. (A Era das Revoluções, de Eric Hobsbawm).

Esse mundo em ebulição não conheceu apenas as mudanças econômicas, políticas e sociais, mas também no campo da produção simbólica e das manifestações artísticas. Na Literatura, o romance enquanto gênero ganha protagonismo no conteúdo e na forma, e grandes obras e magníficos escritores trazem, em suas narrativas, a crítica social e a crise de sociedades que desmoronavam frente aos processos revolucionários. O Realismo e suas vertentes despontam como movimento literário.

Na Inglaterra da Revolução Industrial, podemos destacar a obra de Charles Dickens, que abordou em suas obras, como Oliver Twist (1837), Conto de Natal (1843) e Tempos Difíceis (1854), as mazelas sociais da Era Vitoriana, como as precárias condições de vida e trabalho dos operários das fábricas, a pobreza e a miséria da massa trabalhadora inglesa. Além de Dickens, outra autora inglesa que traz essas temáticas em sua obra é Elizabeth Gaskell, com o seu livro Norte e Sul (1854).

 “Era muito escura em contraste com o pálido céu cinza azulado do inverno. […] Ao se aproximarem da cidade, o ar foi ficando com um leve gosto e cheiro de fumaça. […] Aqui e ali, erguia-se uma fábrica […] soltando fumaça preta…” (Norte e Sul – Elizabeth Gaskell).

Na França revolucionária, podemos destacar os escritores Émile Zola e Victor Hugo, com suas obras, respectivamente, Germinal (1885) e Os Miseráveis (1862), que nos apresentam o cenário de uma França pós-Revolução, onde os trabalhadores e a grande massa do povo estavam excluídos do lema revolucionário “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”.

 

O cotidiano dos trabalhadores e do povo eram marcas da precariedade e desumanização; a pobreza e a miséria reinavam para essa parcela da sociedade. Tanto Zola quanto Victor Hugo trazem em sua narrativa a denúncia social e ao mesmo tempo as tentativas de organização e as resistências de classe perante a exploração e opressão das elites e as classes possuidoras do poder e do capital.

 

“Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável”. (Os Miseráveis – Victor Hugo).

 

Assim como a organização e a luta política e bélica, as letras também podem cumprir um papel de revolucionar o seu tempo ou narrar as histórias e as memórias dos processos revolucionários e seus agentes. A revolução se faz conquistando não apenas o poder, mas cativando corações e mentes.

Acompanhe nossas redes sociais:

facebook       instagram       youtube