“Então, vê agora por que os livros são tão odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida. As pessoas acomodadas só querem rostos de cera, sem poros, sem pelos, sem expressão." (Fahrenheit 451, de  Ray Bradbury)

O livro, selecionado para o Clube de Leitura Leitores da Cidade para o mês de outubro, é o romance Fahrenheit 451, do escritor inglês Ray Bradbury. Publicado em 1953, Fahrenheit 451 é considerado um clássico da ficção científica e das narrativas distópicas.

O livro é divido em três partes e a ficção se desenrola em uma sociedade futurista, que, nas décadas anteriores, passou por uma série de transformações políticas, desembocando em um regime autoritário, onde padrões de comportamento e pensamento são ditados pelo estado, cerceando a leitura e a manifestação ideológica, proibindo o acesso e a posse de qualquer tipo de livro e/ou publicação.

"Todos devemos ser iguais. Nem todos nasceram livres e iguais,  como diz a Constituição, mas  todos se fizeram iguais. Cada homem é a imagem de seu semelhante e, com isso, todos ficam contentes, pois não há nenhuma montanha que os diminui, contra a qual se avaliar. Isso mesmo! Um livro é uma arma carregada na casa vizinha. Queime-o. Descarregue a arma. Façamos uma brecha no espírito do homem. Quem sabe quem poderia ser alvo do homem lido?"

Nessa narrativa distópica, o protagonista é o bombeiro Guy Montag. É através de sua história e na sua relação com os demais personagens que a trama se desenvolve. Um personagem saturado de contradições e aflições por conta do seu ofício de bombeiro.  No mundo futurista da obra, os bombeiros cumprem uma função essencial para a manutenção da ordem e da paz daquela sociedade: sua atribuição não é prevenir e combater incêndios, mas sim, queimar e destruir livros e bibliotecas proibidos.

“É um trabalho ótimo. Reduza os livros às cinzas e, depois, queime as cinzas. Este é o nosso slogan oficial”.

As inquietações e reflexões de Guy Montag sobre o seu trabalho começam a aflorar quando inicia um diálogo com sua jovem vizinha Clarisse, uma menina alegre e questionadora, que a cada pergunta feita a Montag, o faz pensar na sua vida e no tipo de sociedade em que  vive, nos controles e padrões sociais estabelecidos, e que ele é uma engrenagem funcional para aquela máquina opressora funcionar plenamente.

“Havia agora somente a garota caminhando com ele, o rosto claro como neve ao luar, e Montag sabia que ela estava pensando nas perguntas que ele fizera, procurando as melhores respostas”.

Com o passar dos dias e ao estreitar sua relação com Clarisse, Montag vai despertando sua visão crítica,  questionando  as normas  às quais se submete. Até mesmo a relação com sua mulher e o casamento começam a ser questionados pelo bombeiro. Porém, sua conduta se modifica radicalmente após o atendimento a uma denúncia para os bombeiros sobre uma senhora e sua biblioteca. Após a queima de mais uma grande quantidade de livros e de sua proprietária, que resiste e morre com sua biblioteca em chamas, o olhar daquela mulher e seus livros queimando aterrorizaram Guy Montag. Naquele instante atônito, Montag esconde sob sua roupa um livro daquela senhora e o leva para casa. A partir daí, sua vida e de sua mulher se transformam bruscamente.

“A mulher se ajoelhou entre os livros, tocando o couro e o papelão encharcados de querosene, lendo com os dedos os títulos dourados enquanto seus olhos acusavam Montag”.

Um clássico da literatura universal, que nos faz refletir sobre o mundo e a sociedade contemporânea, seus impasses, dilemas e contradições sociopolíticas. Narrativa pertinente, que lança luz sobre os ataques às instituições culturais, à Ciência e à produção de conhecimento tão presentes em nossos tempos, mas que somente  a resistência, como a dos “Homens livros”, é capaz de estancar tais arroubos autoritários.