“Nos descolamos do corpo da Terra. Fizemos um divórcio, acreditando que poderíamos viver por nós mesmos. Com uma condição: extrair, dominar, explorar tudo o que vem de Gaia. Nos divorciamos desse organismo que nos abriga, mas estamos a todo instante a usurpá-lo.” Ailton Krenak
A Geologia faz parte das Ciências Naturais e, ao dialogar com a Física, a Química, a Matemática e a Biologia, o geólogo estuda a Terra quanto à sua origem, composição, estrutura e evolução, por meio do entendimento dos processos internos e externos responsáveis por suas transformações.
Os geólogos chamam de “Era do Antropoceno”, que inicia no final do século XVIII (Revolução Industrial), o momento no qual as ações do ser humano passam a ter impacto determinante no clima e nos diversos sistemas de funcionamento da Terra. Em resumo: o Antropoceno é a época geológica da espécie humana.
Segundo documento da UNESCO, o conceito de Antropoceno gerou diversas controvérsias e debates acirrados, que incluem geólogos, historiadores e antropólogos. Esses pesquisadores colocam em dúvida a referência a "antropos" (de origem grega, cujo significado é “ser humano”), como sendo genérico demais. Afinal de contas, quem é o responsável pela transgressão dos limites biogeofísicos, senão o humano ocidental e um sistema socioeconômico (capitalismo) específico que de fato explora e esgota recursos naturais? Daí a multiplicação de propostas alternativas como “Ocidentaloceno”, “Capitaloceno” etc.
Outros, em particular especialistas da História mundial ou ambiental, pensam que não há uma descontinuidade ontológica, e que o caráter excepcional do crescimento ocidental (a “Grande Divergência”*), deveria ser reposicionado no longo prazo.
Há um debate sobre o termo "Antropoceno" que inclui profundas convicções que defendemos no nosso dia a dia, sobre pequenos costumes, sobre os usos da vida, sobre a nossa relação com a Natureza e com o outro, com o mundo do trabalho, sobre a distribuição de recursos, sobre nós mesmos.
Como pensa Ailton Krenak sobre a chamada Era do Antropoceno: "O Antropoceno tem um sentido incisivo sobre a nossa existência, a nossa experiência comum, a ideia de humanos. O nosso apego a uma ideia fixa de paisagem da Terra e de humanidade é a marca mais profunda, é o osso duro de roer do Antropoceno. Essa configuração mental é mais do que uma ideologia, é uma construção do imaginário coletivo – várias gerações se sucedendo, camadas de desejos, projeções, visões, períodos inteiros de ciclos de vida dos nossos ancestrais que herdamos e fomos burilando, retocando, até chegar à imagem com a qual nos sentimos identificados. É como se tivéssemos feito um "photoshop" na memória coletiva planetária, entre a tripulação e a nave, onde a nave se cola ao organismo da tripulação e fica parecendo uma coisa indissociável. É como parar numa memória confortável, agradável, de nós próprios, por exemplo, ao colo da nossa mãe mamando: uma mãe farta, próspera, amorosa, carinhosa, alimentando-nos "forever"".
E você o que pensa sobre esse debate?
* Grande Divergência: processo pelo qual a Europa Ocidental e o Novo Mundo superaram as restrições pré-modernas de crescimento, transformando-se, durante o século XIX, na civilização mais rica e poderosa do mundo. Para saber mais:
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Grande_Diverg%C3%AAncia
Links:
https://www.buala.org/pt/etiquetas/antropoceno
https://outraspalavras.net/descolonizacoes/ailton-krenak-e-a-busca-da-totalidade-cosmica/
https://www.dw.com/pt-br/humanidade-vive-div%C3%B3rcio-da-vida-na-terra-diz-ailton-krenak/a-57015686
http://www.iea.usp.br/noticias/conversa-sobre-o-antropoceno
Youtube:
Antropoceno: Nossos Rastros na Terra | Amâncio Friaça
https://www.youtube.com/watch?v=df5CTH5iwfU
Ailton Krenak e a Ideia do Antropoceno
https://www.youtube.com/watch?v=ZnuUlWA0I24&t=60s
O Tempo Geológico e o Antropoceno | Gerson Fauth | TEDxUnisinos
https://www.youtube.com/watch?v=4pmJAsjPS_4
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