Até meados do século XX foram   muito  raras  no território de São Bernardo  as iniciativas do poder público visando a arborização de suas então poucas  vias urbanas. Contando com uma ainda abundante vegetação em sua vastamente majoritária área rural , que cercava a zona urbana, a necessidade de inserir o verde nas poucas ruas existentes não era vista com a mesma importância que nos tempos atuais - ainda mais considerando que, na época,  mesmo residências urbanas continham grandes quintais com farta vegetação.

Uma esparsa referência histórica indireta sobre  o assunto consta em um dos primeiros jornais locais, chamado “O Progresso”,  numa nota que reclama  sobre o corte de uma  árvore  no largo da Igreja Matriz:  “Há anos a nossa câmara municipal mandou arborizar o largo de nossa matriz, adquirindo para isso de S. Paulo as necessárias plantas. Agora, porém, não sabemos por ordem de quem, um machado impiedoso deitou por terra uma das mais belas árvores d'aquele lugar.” (1). Deduz-se com isso, texto  que essa arborização nas ruas do largo, possivelmente a primeira na zona urbana são-bernardense, deve ter  ocorrido em algum momento entre antes de janeiro de 1912, data da edição do jornal   e  depois de 1892, ano de instalação da Câmara Municipal.

Nos anos 1920, dentro da zona urbana, além das  ruas do largo da matriz, também era possível encontrar algumas poucas árvores na calçada da Marechal, como na esquina com a Rua Tenente Salles  e  na altura do Restaurante  Magnólia (no fim da via), onde havia a famosa  árvore de mesmo nome e também  uma araucária, plantadas  provavelmente por iniciativa particular, talvez em época bem anterior.

Décadas passariam  até que a arborização entrasse de forma contínua  dentro dos planos das políticas públicas municipais. Em 1938 (2) , o orçamento da antiga prefeitura que englobava  sob seus domínio toda a região do ABC, previa verbas  para arborização de vias em todos os distritos, à exceção da   área que se tornaria o atual município de São Bernardo do Campo.

Somente após a emancipação deste (1945), e a partir do primeiro governo de Lauro Gomes (1951-1954) é que a  arborização começou a se expandir lentamente,  principiando pela Rua João Pessoa  (3)  e pelas avenidas Redenção e Doutor Rudge Ramos. Na administração seguinte, de Aldino Pinotti (1955–1959), apesar de ter sido criticada pela derrubada da supracitada Magnólia em 1959,  a arborização na cidade entraria numa nova  fase, mais acelerada,  após ser inserida dentro da legislação municipal: a  lei de loteamentos, aprovada em  1956, obrigava a  plantação de árvores, às expensas dos loteadores,  nas  vias com largura igual ou superior  a 16 metros (4). No mesmo ano foi também aprovada a lei que criou o viveiro municipal de plantas (5), com o objetivo de atender  as necessidades de ornamentação e arborização das vias e logradouros municipais.  Ao longo do tempo, o viveiro foi instalado em áreas nos bairros Anchieta, Assunção, Independência , e mais recentemente no Estoril, como viveiro-escola. No final dos anos 70,  cultivava-se em suas terras cerca de 60 mil mudas de plantas de diversas espécies, como ipês, quaresmeiras, chorões, sibipirunas e tipuanas (6).

Esse número dá uma ideia das proporções que a arborização tomou com a  progressiva atenção dada pelo poder público ao assunto,com a elaboração inclusive de planos anuais de plantio. Em  1979, ela já atingia, ainda que parcialmente, vias em  praticamente todos os  bairros então existentes no município. 

A regulamentação legal sobre o assunto também  continuaria a crescer:  em 1972, na segunda gestão  de Pinotti, surgiu  a primeira lei que disciplinava o corte de vegetação de porte arbóreo na  zona urbana, condicionando-o a  pedido formal com justificativa em casos em que o  diâmetro de caule era superior a 15cm e a altura maior que um metro  (7).  A norma passaria por  sucessivas alterações a partir de 1998 (8), quando se começou a estabelecer regras para compensação ambiental  em casos de corte.   E já no que concerne especificamente à arborização nas vias públicas, em 2014 foi aprovada lei que proibia nesses locais  o plantio de espécies que poderiam potencialmente prejudicar a infraestrutura urbana, causando danos com seu crescimento em edificações, calçadas,  leitos de ruas, e tubulações de água e esgoto (9).  As espécies proibidas no texto da lei foram o ficus (bejamina, elastica e microcarpa)   e o alfeneiro (ligustre). A  lei também determinou a substituição gradual dos exemplares existentes quando constatado prejuízos ao entorno, devendo eles ser substituídos por espécies nativas da mata atlântica e adequadas às especificidades locais.


 

Na imagem vemos a Av. Francisca Carolina, no Bairro Nova Petrópolis, tendo ao fundo o Baeta Neves. Ano 2000. Original  de Conrado Bruno Corazza.

Pesquisa, texto e acervo: Centro de Memória de São Bernardo.


Notas:

1 - O Progresso, 21-01-1912

2 - Lei Ordinária PMSB Nº 366 de 04/11/1937.

3 - Folha do Povo, 15-07-1953; "Um Município que Renasce" - relatório  de 2 anos do prefeito Lauro Gomes à testa do município  de São  Bernardo do Campo.

4 - Lei PMSBC 533/56

5 - idem, 468/56

6 - Folha de São Bernardo, 24-02-1979

7 - Lei PMSBC 1975/72

8 - Lei  PMSBC 4661/98, Decreto 15743/06; leis PMSBC 4974/01 e 6163/11

9 -  Lei  PMSBC 7370/14 "

 

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