Vemos abaixo duas fotos da Rua Marechal Deodoro com a decoração que foi instalada para as festas de fim de ano de 1985. A imagem noturna foi tomada no início de janeiro de 1986 e a diurna em 27-11-1985, ocasião em que estava implantado na Marechal, por alguns dias, um calçadão entre as esquinas com as ruas Rio Branco e Prestes Maia. Datam de um momento em que a cidade tentava reerguer sua economia após a forte recessão do início da década e em meio a uma inflação recorde que assolava o país (1). Assim, os ímpetos consumistas próprios do período natalino eram refreados por essa escalada inflacionária que diminuía rapidamente o poder de compra dos salários. Os anúncios publicitários da época nos dão uma ideia dos valores astronômicos atingidos pelos preços nominais. Por eles, por exemplo, vemos que um munícipe que fosse naquele fim de ano fazer suas compras no antigo supermercado Pão de Açúcar da Rua Rio Branco desembolsaria por um simples panetone 20 mil cruzeiros e por 2 litros de vinho popular, 15 mil (2). Um outro anúncio (3) no mesmo jornal nos mostra que se o cidadão fosse mais abastado e resolvesse ir até a extinta Loja Áudio, no Centershop (atual Shopping Metrópolis), para comprar um aparelho de som 3X1 (cobiçado eletrodoméstico da épA CIDADE NO NATAL DE 1985
Vemos abaixo duas fotos da Rua Marechal Deodoro com a decoração que foi instalada para as festas de fim de ano de 1985. A imagem noturna foi tomada no início de janeiro de 1986 e a diurna em 27-11-1985, ocasião em que estava implantado na Marechal, por alguns dias, um calçadão entre as esquinas com as ruas Rio Branco e Prestes Maia. Datam de um momento em que a cidade tentava reerguer sua economia após a forte recessão do início da década e em meio a uma inflação recorde que assolava o país (1). Assim, os ímpetos consumistas próprios do período natalino eram refreados por essa escalada inflacionária que diminuía rapidamente o poder de compra dos salários. Os anúncios publicitários da época nos dão uma ideia dos valores astronômicos atingidos pelos preços nominais. Por eles, por exemplo, vemos que um munícipe que fosse naquele fim de ano fazer suas compras no antigo supermercado Pão de Açúcar da Rua Rio Branco desembolsaria por um simples panetone 20 mil cruzeiros e por 2 litros de vinho popular, 15 mil (2). Um outro anúncio (3) no mesmo jornal nos mostra que se o cidadão fosse mais abastado e resolvesse ir até a extinta Loja Áudio, no Centershop (atual Shopping Metrópolis), para comprar um aparelho de som 3X1 (cobiçado eletrodoméstico da época, com toca discos de vinil, gravador k7 e rádio), pagaria surreais 2,35 milhões de cruzeiros. Um modesto rádio relógio, na mesma loja, sairia por 660 mil, valor acima do salário mínimo de então (600 mil). 
Mesmo com todas as dificuldades econômicas, as pessoas não deixavam de viajar no período das festas, esvaziando a cidade. As folgas de fim de ano eram (e ainda são) a oportunidade da população migrante de São Bernardo, na época relativamente recém-chegada, de visitar os parentes em suas terras natais, lotando rodovias e rodoviárias. Contribuía também para congestionar as estradas o movimento já significativo em direção às praias do litoral paulista. Um estímulo adicional naquele início de verão para sair da cidade rumo a lugares distantes era se livrar, ao menos por alguns dias, do racionamento de água que afligia diversos bairros devido à insuficiência de chuvas nos meses anteriores (4). Os que ficaram e enfrentaram as agruras da escassez de água puderam, ao menos, aproveitar com mais tranquilidade as atrações de lazer locais, como a Cidade da Criança e o Parque Estoril, que acabara de ganhar seu mini-zoológico. Ou os antigos cinemas de rua da cidade, hoje extintos: na última semana de 1985, o Cine Hawaí, no Conjunto Anchieta, exibia o filme infanto -juvenil História Sem Fim; o Rudy Center, na Av. Caminho do Mar, Loucademia de Policia 2. Já o Teatro Elis Regina encerrava sua programação do ano com o filme nacional Bete Balanço e o Cacilda Becker, com o também brasileiro O Mágico e o Delegado (5). Quem achasse as opções insuficientes poderia ainda deslocar-se até Santo André, onde o Cine Tangará exibia De Volta para o Futuro, filme de maior bilheteria no mundo naquele ano. De qualquer forma, num momento em que a televisão atingia o apogeu de seu reinado como veículo de massa, a escolha da maioria era ficar em casa e muito provavelmente assistir a telenovela Roque Santeiro, que atingia índices recordes de audiência. 
Cerca de 90% dos domicílios de São Bernardo já tinham TV (6). Os que não tinham situavam-se principalmente nas áreas de ocupação mais recente da periferia em expansão, como por exemplo as favelas das ruas Belém e das Flores (Batistini), da Estrada do Montanhão, da Vila Galiléia (Bairro Independência) e Santa Mônica (Bairro dos Casa), todas comunidades que haviam começado a se formar naquele ano ou no anterior (7). O crescimento acelerado e desordenado das áreas periféricas já era nessa época o grande problema social da cidade, problema que deixaria marcas indeléveis em seu futuro.

NOTAS:
(1) Giambiagi, F. Economia Brasileira Contemporânea, tabela A1- Indicadores Macroeconômicos (1945-2003). Editora Campus, 2003
(2) Folha de São Paulo, 19-12-1985.
(3) Idem, 20-12-1985
(4) Gazeta de São Bernardo, 28-12-1985.
(5) Folha de São Paulo, 26-12-1985; Gazeta de São Bernardo ,28-12-1985.
(6) Censo Nacional 1980. IBGE.
(7) Áreas Precárias 1972-1991. PMSBC.

 

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