Avenida Piraporinha, que divide os bairros Jordanópolis e Planalto e atinge o município de Diadema, é remanescente de uma antiga e  extensa rota que ligava a região do ABCD à Freguesia de Santo Amaro. A  primeira referência documental mais explícita a esta rota  ocorre ainda no longínquo ano de 1733, nas atas da Câmara de São Paulo, quando o capitão de ordenanças José Caldeira Pimentel manda um certo José Paes Colona, morador de Santo Amaro, ser cabo “ da manufatura do caminho do mar que vai sair da freguesia de Santo Amaro para a Borda do Campo” (1). Nesse tempo era chamada de Borda do Campo uma área que incluía parcela do  território dos atuais municípios de Diadema e de São Bernardo, zona onde iniciava-se uma vegetação menos densa, logo após o término das matas presentes mais  ao sul, adjacentes à Serra do Mar. Em 1831, numa planta do Caminho do Mar, elaborada pelo governo da província paulista,  aparece indicado como “estrada para Santo Amaro” justamente um pequeno trecho correspondente  ao início da atual Av. Piraporinha, entroncando com o referido Caminho de Santos, na altura onde situa-se hoje o viaduto do  km 18 da Via Anchieta (2).

Em mapas mais abrangentes do início do século XX é possível notar que a estrada, após  percurso similar a da Av. Piraporinha, seguia itinerário semelhante ao das atuais avenidas Antônio Piranga e de parte da  Av. Cupecê, hoje município de Diadema. Para ela  convergiam, oriundas da região de Cruz da Almas (Saúde) e Jabaquara, em São Paulo,  rotas  que a tocavam na altura das paragens de Nossa Senhora de Conceição de Guacuri (atual Vila Conceição) e de Piraporinha, duas das zonas povoadas de seu trajeto (3).  Nessa época, habitavam o entorno da movimentada estrada do Piraporinha agricultores, produtores de carvão, oleiros e comerciantes. Alguns eram imigrantes italianos recém chegados, como os carvoeiros  Felice Butrico e Luiz Bechelli e o dono de armazém Samuel Sabatini; outros oriundos de famílias brasileiras há muito tempo ali assentadas, como José Antonio Escudeiro e José Pedroso de Oliveira, ambos proprietários de pastos de aluguel nas redondezas,  serviço  essencial em uma área então de grande circulação de cavalos, muares, carroças e carros de boi (4). Pedroso de Oliveira, por sinal, foi quem, em 1881, doou à Igreja Católica  as terras onde havia construído  a capela  do Bom Jesus do Piraporinha, que situava-se em local próximo de onde está o templo atual. Ali se realizava  já em 1888 a tradicional festa do padroeiro, que durante muitos anos incluía uma procissão (5). Além da igreja e do comércio, o Piraporinha já dispunha então de uma escola de primeira letras,  criada em 1896 (6).

O primeiro ensaio de urbanização da parte são-bernardense da Av. Piraporinha ocorreu  por volta de 1930, quando surgiu a  Vila Camponesa, no início da via.  Ao longo de vinte anos, o local chegou a concentrar algumas casas, comércio (os armazéns de Benedito Firmino da Silva e João Butrico)  e até mesmo um time de futebol (E.C. São José)(7). Porém a construção do trevo do km 18 da Via Anchieta levou à desapropriação da área no início da década de 1950. Nessa mesma época, contudo, a própria  passagem da Via Anchieta estimulava o desenvolvimento de outros loteamentos vizinhos, como as Vilas Alvinopolis e Santa Encarnacion, na margem direita da avenida e o Jardim São Francisco, na margem esquerda. E, ainda mais impactante, a Anchieta também influenciou a ocupação da avenida por indústrias; desde pequenas, como a fábrica de camas da família Butrico, uma das primeiras ali, ainda nos  40;  até grandes, como a Cerâmica Assad, autorizada em abril de 1950 pelo governo federal para procurar argila em seu terreno de 55 hectares (8). Poucos anos  depois, na margem oposta da Av. Piraporinha, surgiria também a Cerâmica São Bernardo. No início dos anos 70, já havia doze  indústrias somente no trecho entre  a Via Anchieta e a Av. Robert Kennedy, a maioria do setor metalúrgico e automotivo. À essa altura, a via tinha dificuldades  para absorver o intenso tráfego gerado, demandando intervenções que só foram  realizadas após 1974, quando a prefeitura assumiu a gestão da avenida, que até então era controlada pelo governo estadual (9).  Para realização de obras de alargamento e duplicação, foram desapropriadas, em 1975,  26 áreas nas suas margens (10). Onze anos depois, a via seria novamente modificada para instalação das linhas de trólebus  que se dirigem às estações  Piraporinha, Diadema e Jabaquara.


Nas imagens, vemos o início da avenida Piraporinha em 1986, durante as obras de instalação da linha de Trólebus.

 

Pesquisa, texto e acervo: Centro de Memória de São Bernardo


1. Atas da Câmara de São Paulo - 1730-1736 v.10; Santos,  W. Antecedentes Históricos do ABC Paulista; Santana, N.  Santo André da Borda do Campo. in: Revista do Arquivo Municipal. Vol. XVII. S. Paulo 1935
2. Planta da estrada entre as cidades de S. Paulo e Santos, levantada em 1831  por JM Vasconcelos e copiada em 1848 por  Machado de Oliveira. Acervo do Museu Paulista; Tulik, O. Documento de Interesse para a Geografia Histórica de S, Paulo. in Anais do Museu Paulista, volume XXIII.
3. Plantas de São Paulo ( e região) elaboradas pela Comissão Geográfica e Geológica do Estado, 1899, 1905, 1911
4. Livros de Impostos de Indústrias e Profissões 1896-1910.
5.  Correio Paulistano, 19-10-1888
6. ( Lei estadual 446/1896)
7. Medici, A. São Bernardo, Seus Bairros Sua Gente. 1981 PMSBC.
8. Decreto Federal nº 27990 de 12/04/1950
9. Lei PMSBC 2099/74
10. Decreto PMSBC  4238/75"

 

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