em meados do séc. XIX, a região dos bairros rurais do Tatetos, Santa Cruz, Curucutu, Taquacetuba e Capivari (Riacho Grande) era relativamente povoada, especialmente nas zonas mais ao norte,  por onde passava a antiga estrada do Rio Acima, paralela ao Rio Grande. Ali, entre as margens dos córregos Taquacetuba, Pedra Branca e Rio Pequeno, um registro de terras, feito a mando do governo imperial, elencou diversas propriedades rurais, como as dos agricultores Francisco Antonio Denis, João Batista da Luz, Salvador Rodrigues de Andrade, Anna Thereza de Jesus e José Gonçalves de Araújo (este na paragem já então conhecida como Tatetos) (1). E, perto das cabeceiras do Ribeirão da Pedra Branca, por volta de 1856, começaria a funcionar a serraria do francês Francisco Julien, possivelmente a primeira de toda a região do ABC.
 
A partir da década de 1890, o povoamento local foi incrementado, com a instalação das linhas coloniais Capivari, Curucutu e Campos Sales, formadas por dezenas de famílias de imigrantes poloneses, alemães, húngaros, austríacos e italianos (2). As atividades vinculadas à abundante madeira da região (extração de lenha, fabrico de carvão vegetal, serrarias) seriam por muito tempo a principal ocupação econômica desenvolvida por eles, mas o local teve também alguns poucos estabelecimentos comerciais, como o armazém de secos e molhados de Angelo Linguanotto, existente desde pelo menos 1902 (3). Linguanotto foi também funcionário da serraria de Julien e, a partir de 1906, seu dono.
 
Ao longo do século XX, a região passaria por importantes transformações históricas: primeiro a construção da Represa Billings, que a partir de 1927 parcialmente desfigurou e isolou essas áreas, fazendo-as depender da balsa para se conectar à zona urbana da cidade – o que motivou muitos moradores a mudarem-se para outros locais. Posteriormente, já entre as décadas de 1950 e 1970, a atividade madeireira cederia espaço para a extração mineral, primeiro com o caulim, depois com o berilo, extraído de minas situadas nas vizinhanças (4). Na área do Bairro Capivari, proliferou depois a extração de areia, no entorno do Ribeirão Cubatão de Cima. Contudo, a extração mineral também arrefeceu com o enquadramento da região da Billings na área de proteção de mananciais, em 1976.
 
Pouco antes disso, em 1972, ocorreu a instalação da Indústria de Máquinas Operatrizes Zema Zselics (Capivari), que chegou a empregar mais de uma centena de funcionários e teve papel importante na diversificação e crescimento da economia  local.   Nesse tempo, o  emprego nas muitas chácaras de veraneio então ali existentes já era outra importante atividade da população da área. Aos poucos, uma pequena infraestrutura se estabeleceu, com a criação de escolas na região e a chegada da energia elétrica e do tratamento de água em alguns pontos. Alguns aglomerados habitacionais importantes surgiram: em 1976 apareceria o Núcleo Santa Cruz, a partir de um ambicioso projeto da prefeitura chamado Cidade Procap, que pretendia transferir milhares de moradores de assentamentos irregulares da cidade para uma enorme área desapropriada no Bairro Taquacetuba (5).  64 casas foram construídas e ocupadas e também uma escola começou a funcionar ali em 1978. Porém, o projeto habitacional foi descontinuado no ano seguinte, devido às restrições legais impostas pela lei de mananciais (6). Ainda assim, o núcleo continuaria a crescer de forma espontânea – em 2005 atingia 751 domicílios (7). Por sinal, ao longo dos últimos 40 anos, apesar da lei de mananciais e da limitação de  circulação resultante da dependência da balsa, toda   a  população desses bairros adensou-se: em  2010 ela já somava 9600 habitantes – em 1980, a zona rural da cidade  (o que então incluía, além dos  bairros do pós-balsa, também o Bairro dos Finco e o Varginha, entre outros) tinha apenas 3200 moradores (8). Mais recentemente, um novo pequeno contingente populacional se agregaria à região, com o estabelecimento das aldeias indígenas Tekoa Guyrapaju e Tekoa Kuaray Rexakã, formadas por guaranis oriundos da aldeia Krukutu, no distrito de Parelheiros, em São Paulo (9)
 
 
 
 
 
 
O polonês José Copeinski e seus filhos Carlos e Francisco, com uma carroça na estrada do Capivari, em 1924 (doação: Pedro Paulo Copeinski);
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Inauguração de uma escola de educação infantil e profissional no Núcleo Santa Cruz, nos arredores da Estrada do Rio Acima, em março de 1978.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Notas

(1) Registro de Terras de 1856. Arquivo do Estado de São Paulo.
(2) Livro de Matrículas do Núcleo Colonial de São Bernardo - EE0124 (1891-1897). Arquivo do Estado de São Paulo
(3) Livro de Impostos Diversos 1900-1903 (PMSB). Acervo do Museu de Santo André.
(4) Cf. depoimento dado por Luiz Novak ao Centro de Memória de São Bernardo em 2006.
(5) Decreto PMSBC 4618/1975; O Estado de São Paulo, 10-07-1976
(6) O Estado de São Paulo, 18-09-1983
(7) Relação de Assentamentos de Subnormais de São Bernardo-2005. SHAMA-PMSBC.
(8) Censos Populacionais IBGE, 1980 e 2010.
(9) Faria, C. Salles de. A Luta Guarani pela Terra na Metrópole Paulistana: (...). Tese de Doutorado. FFLCH-USP.

 

 

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