Até a década de 1960, o espaço da moderna Avenida Kennedy na paisagem local era ocupado pelo histórico Córrego da Borda do Campo, que nasce na altura da Chácara Inglesa e segue no sentido norte até a foz no Rio dos Meninos, adjacente à Senador Vergueiro, poucos metros além do término da Kennedy.  A construção desta se deu em meio a uma sequência de transformações no cenário do entorno. Desde o fim da década de 1940 começaram a desaparecer as propriedades rurais que divisavam com o velho curso d´água, dando lugar a loteamentos  urbanos que encostavam em suas margens – como  o pioneiro Jardim do Mar, iniciado em 1949, onde havia a antiga granja de Cicílio Matarazzo; a Vila Dayse, terras da família Salles Cunha;  o Parque São Diogo, antes sítio do alemão Leonardo Washmund (agrimensor  do núcleo colonial) e a Vila Margarida, local da antiga colônia dos Wiegner, também alemães. Com a perspectiva de contínuo crescimento da população e das demandas viárias devido à localização estratégica da área entre a Av. Lucas Nogueira Garcez (acesso à Via Anchieta) e a Vergueiro, resolveu-se ainda no final dos anos 1950 construir-se uma avenida acompanhando a trajetória do córrego, ligando as duas vias que corriam paralelamente. Se tratava de uma solução de mobilidade amplamente usada na época: era adotada na Grande São Paulo desde a década de 1930, quando o engenheiro Prestes Maia lançou seu plano de avenidas na Capital. Tinha como vantagens o menor custo com desapropriações e a rota mais regular em comparação à topografia acidentada das colinas frequentemente presentes em toda a região metropolitana; e entre as desvantagens os impactos ambientais relativos à canalização do curso d´água e à perda da vegetação ciliar.
 
Os preparativos para a obra começaram em 1958, quando foi publicado o decreto definindo o alinhamento da futura avenida (1), mas ela só começaria de fato em 1962. Atrasos ocorreram: inicialmente foram apenas abertas as pistas marginais ao córrego, que já havia sido parcialmente retificado. As galerias que o encobrem foram erigidas somente em 1968 (2) e a obra foi finalizada entre o final deste ano e o início de 1969, depois da conclusão da pavimentação. A denominação, porém, já havia sido dada bem antes, em 25 de novembro de 1963, três dias após o assassinato do presidente norte-americano (3). Enquanto a via era construída foram ali edificados o quartel do corpo de bombeiros e a Escola Estadual 20 de Agosto, seus primeiros prédios públicos.
 
Também já havia na Kennedy, desde 1968, uma empresa de materiais de construção, a Scholz e Cia (4). Esse ramo de negócios, juntamente com o setor de administração imobiliária, teve grande papel na consolidação da vocação comercial da via ao longo dos anos seguintes. Em 1986, a avenida tinha pelo menos seis imobiliárias instaladas e onze lojas de construção e reforma, sendo o Uemura Home Center, lotado num prédio de sete andares, a mais conhecida delas.  Um jornal local chamava a Kennedy na ocasião de “a avenida da construção” (5). O setor de bares e restaurantes, ainda que sem a força que teria depois, também já se fazia presente com alguns estabelecimentos, como a Adega Cavalcante, a Pizzaria Onassis e a Cantina Galeto di Roma. Nessa segunda metade da década de 1980, as demandas de consumo em expansão, principalmente das zonas residenciais vizinhas, com relativamente alto poder aquisitivo, iam conduzindo o comércio na região da avenida a um novo patamar, maior e mais diversificado. Dois shoppings centers se instalariam nas proximidades, primeiro o ABC Shopping ABC (na Av. Barão de Mauá), em novembro de 1987 e depois o Golden Shopping, em outubro de 1988 (6). A chegada dos shoppings traria para aquela área um movimento muito maior à noite e nos finais de semana.  Essa tendência seria exacerbada a partir dos anos 1990 e 2000, com o expressivo crescimento do número de bares e restaurantes, que acabaram se tornando o ramo dominante na avenida: em 2018, a Kennedy contava com 24 estabelecimentos deste setor, espalhados ao longo de todo seu percurso, sem contar os presentes no Golden Shopping.
 
Nas imagens, vemos acima, em agosto de 1968, a construção das galerias do Córrego Borda do Campo, na altura da Escola Estadual 20 de Agosto, época em que a Kennedy ainda não estava pavimentada. Abaixo, vista da avenida em 1986.
 
NOTAS:
(1) Decreto 178/1958, PMSBC.
(2) Jornal A Vanguarda, 07-01-1968; 15-09-1968.
(3) Decreto 705/1963, PMSBC.
(4) Diário Oficial do Estado de São Paulo, 26-11-1968.
(5) Gazeta de São Bernardo, 26-07-1986.
(6) Folha de São Paulo, 21-11-1987; 18-09-1988.
(7) Levantamento no Google Street View, março de 2018.
 

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