Originária de um dos trajetos mais antigos da região, talvez existente desde o tempo em que João Ramalho e José de Anchieta circularam por essas terras, o que hoje é a Avenida Redenção foi um trecho da estrada velha de Santos até os fins da década de 1940 .

Um dos primeiros registros de ocupação da área da futura avenida está num mapa da estrada feito em 1832, época em que o tráfego sobre seu leito se resumia a tropas de mulas e carros de boi. No mapa (1) é possível notar na altura onde seria hoje o início da Redenção, em seu lado par, a presença de uma venda, pertencente a um certo João Soares de Siqueira, comerciante também arrolado num recenseamento da época pelo Alferes Francisco Bonilha (2), então juiz de paz local. Em 1888, outro mapa mostrou o terreno do entorno da via dividido entre a propriedade do Tenente Francisco Antonio de Oliveira Salles (área onde depois seria a Tecelagem Elni), e, do lado oposto, as terras do carreiro de origem alemã João Pedro Vadt (3). O cemitério, mais antigo ponto de referência ainda existente, começaria oficialmente a funcionar em 1892, embora já ocorressem alguns sepultamentos ali desde 1876. Era suficientemente afastado, conforme os protocolos sanitários da época, do tímido centro urbano de São Bernardo, que naquele tempo se limitava à Rua Marechal Deodoro e algumas ruas vizinhas à Igreja Matriz, onde havia um cemitério mais antigo, que logo foi desativado.

O isolamento da área permaneceria por vária décadas, como mostra esta relato feito pelo memorialista Atilio Pessotti, se referindo aos anos 20 e 30 do século passado:

”E lá se ia pela estrada de terra (atual Avenida Redenção), pedregulhenta (...) galgando lentamente o morro do cemitério, que se avistava no horizonte próximo, com seu muro branco, onde sobressaiam algumas cruzes de jazigos maiores. Afastado do centro do povoado, pequeno, isolado e triste, entre extensas pastagens de ervas raquíticas, o cemitério tinha em seu pátio, de frente para o norte, algumas árvores grandes em cujas sombras alguns visitantes se protegiam. Rompia-lhe o silêncio, vez ou outra, algum veículo, especialmente algum caminhão de transporte pesado que galgava o morro ruidosamente pelo Caminho do Mar, que lhe passava rente” (4).

O cenário rural descrito por Pessotti só mudaria a partir do final da década de 1940, com a quase simultânea construção da Tecelagem Elni e o início do loteamento do Jardim do Mar, em espaço adjacente, no lado oposto. Em meio a essas transformações, a estrada no trecho entre o terreno da tecelagem e o cemitério passou a ser designada como uma via urbana, primeiro chamada de “Rua do Cemitério", nome que logo foi mudado para “Rua da Elni” (5) e, em seguida, por volta de 1951, para “Avenida Elni”. A derradeira mudança de denominação viria em 1957, quando a Câmara Municipal aprovou o projeto do então vereador Geraldo Faria que trocava o nome da via para Avenida Redenção. O ato foi uma retaliação simbólica da Câmara à demissão de 300 operários feita pela Elni em fevereiro daquele ano (6).

O primeiro melhoramento urbano significativo que a Av. Redenção recebeu foi a pavimentação feita com paralelepípedos em 1953 (o asfaltamento só viria na década de 1980) , logo seguido pela arborização do trecho entre a Elni e o Cemitério. A ocupação do lado par, pertencente ao Jardim do Mar, se deu principalmente entre os anos 60 e 70, de início com casas e sobrados em sua maioria. Um dos principais pontos de referência da área era o Hotel Binder, que funcionou entre o final dos anos 60 até a década de 90. No lado contrário, majoritariamente ocupado pelo terreno da Elni, foi construído também nesse período, na esquina com a Rua Santa Adelaide, o prédio da atual Escola Estadual Maria Luzia Cicero. A Elni funcionou até 1970 (7); posteriormente parcela de seu terreno foi loteado, dando origem ao Jardim das Américas. A área remanescente bem como os prédios nela existentes foram adquiridos pela prefeitura, que lá instalou a Agesbec (Armazéns Gerais e Entrepostos de São Bernardo do Campo) em fins de 1973 (8) . A Agesbec ficaria ali até meados de 1998 (9). Em 2000, os prédios foram ocupados pela Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania) e pelo Poupatempo. Atualmente funciona ali o Centro de Operações Integradas da Polícia Militar.

 

Nas imagens, vemos acima a antiga estrada velha em 1933, no trecho que atualmente integra a Av. Redenção, durante o cortejo fúnebre de João Zanini, antigo morador da cidade; abaixo a Avenida Redenção em 1977.

 

Notas:

1. Planta da estrada entre as cidades de Santos e São Paulo levantada por ordem do presidente da província Rafael Tobias de Aguiar,(..). Arquivo da Biblioteca Nacional

2. dos Santos, W. Antecedentes Históricos do ABC Paulista. PMSBC, 1992.

3. Planta do Núcleo Colonial de São Bernardo - 1888. Arquivo do Estado de São Paulo.

4. Pessotti, A. Villa de São Bernardo. PMSBC, 1981.

5 . Médici, A. Coluna Memória in: Diário do Grande ABC,10-04-2010.

6. Lei Ordinária Municipal 551 de 13 de março de 1957; O Estado de São Pauo , 21 e 22-02-1947.

7. Jornal A Vanguarda, 07-04-1970.

8. Diário Oficial do Estado de São Paulo. 26-04-1974.

9. idem, 29-03-2000"

 

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