A construção da atual Estrada do Rio Acima, bem como seu trecho urbano denominado Rua do Rio Acima, se deu após o enchimento da Represa Billings no final dos anos 20, dentro do plano da Light para restabelecer a rede viária local, que havia sido inundada pela represa. Anteriormente, já havia na região uma importante estrada com o mesmo nome, mais extensa e muito antiga (já existente por volta de 1850, pelo menos) (1), que servia para ligar a Vila de Mogi das Cruzes com Santo Amaro. Correndo em terras mais baixas, junto ao Vale do Rio Grande na maior parte de sua extensão, esta estrada, que chegou a acumular diversas construções em suas margens ao longo do tempo, foi quase que completamente inundada pela represa. A “nova” estrada do Rio Acima surgiu então menor que sua antecessora, iniciando-se na margem ocidental da Estrada Velha do Mar (depois, a partir dos anos 40, da Via Anchieta) e, terminando na altura da estrada da Água Limpa, próxima ao atual Núcleo Santa Cruz, tendo seu trajeto interrompido no trecho de travessia da Balsa João Basso, no Bairro dos Finco. Tal como sua antecedente, durante décadas por seu chão passaram carroças e caminhões carregados de madeira cortada em regiões remotas do Riacho Grande (como o Curucutu e o Tatetos). Esta madeira era direcionada às fábricas de móveis e serrarias locais ou transformada em lenha e carvão, para abastecer os fornos das casas do passado, quando o gás ainda não era difundido nas cozinhas. 

Nas margens do início do trajeto, em terras anteriormente pertencentes à família Caputo, estava formado, por volta de 1950, um pequeno núcleo de estabelecimentos comerciais, que se constituiu no centro do então recém criado distrito do Riacho Grande. Retificado e integrando-se à zona urbana , este trecho inicial já então era chamado de rua, destacando-se do restante da estrada (2). Na altura do n. 8 havia por aquela época o armazém de Dona Fortunata Finco Lentini, que esteve em atividade durante mais de 40 anos. Dona Fortunata chegou a fornecer lanches e refeições gratuitas aos professores e crianças do Grupo Escolar Antonio Caputo (3), que funcionou logo ali ao lado, na altura do n.35. Um pouco mais adiante, no n.229 se instalaria um bar, que nos anos 60 pertenceu a Mauro e Valoy Matos (4) e no n. 320, um bazar que foi de José Sitta (5). Além do comércio e da escola, também se estabeleceram na rua ou estrada do Rio Acima muitos moradores oriundos de famílias tradicionais na região do Riacho Grande, como os Forcelini, os Pieroni, os Pessoti, os Vestri, os Rosa, os Brentegani, os Bisognini, os Conrado, os Bernardelli, os Finco e os Rochumback, entre outros. 

Com o crescimento do turismo de veraneio e pesca na região a partir dos anos 50, acelerado na década de 60 devido a maior popularização do automóvel, a circulação na via cresceria bastante. Para se adequar à nova demanda, ela foi pavimentada (6) e alargada em alguns pontos (7), ao mesmo tempo em que a capacidade da balsa foi sucessivamente ampliada.

Em meados da década de 80, enquanto o setor urbano da via estava praticamente todo povoado, a parte rural da estrada, a partir do Bairro dos Finco, já acumulava em suas proximidades um grande número de chácaras, recantos de veraneio e alguns estabelecimentos comerciais. Mais próximo do final da estrada também cresceram outros aglomerados urbanos mais precários, como no Bairro Tatetos e no Núcleo Santa Cruz (Taquacetuba). Este último surgiu em 1975, a partir de um projeto da prefeitura que pretendia transferir a população favelada de outras áreas da cidade (8). O projeto acabaria interrompido em função da lei de proteção de mananciais de 1976 - mas o núcleo continuaria a crescer espontaneamente.

 

Na parte superior, a Rua Acima em 1976, perto da esquina com a Rua Sofia Caputo. Abaixo, a Estrada do Rio Acima em 1969, na altura da Balsa João Basso, no Bairro dos Finco. Na ocasião um novo equipamento da balsa era inaugurado, com a presença do então prefeito Aldino Pinotti.
A primeira foto (acervo DGABC) foi publicada no livro “S. Bernardo do Campo - 200 anos depois (...)”, de Ademir Medici , editado pela prefeitura em 2012; a segunda é um registro oficial pertencente ao acervo do Centro de Memória de Sâo Bernardo.

 


Notas:

(1) - Registro de terras de 1850. Arquivo do Estado de SP.

(2) - Planta do Loteamento do Parque Riacho Grande. 1950.

(3) - Decreto Municipal 3494/90

(4) - Diário Oficial do Estado de São Paulo, 22-09-1966

(5) - idem , 07-10-1967

(6) - Jornal A Vanguarda 05-10-1969

(7) - Decretos 1826/68, 2446/70, 4099/74

(8) - Decreto Municipal 4201/75

 

 

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