O Jardim Maria Cecília  surgiu de uma das últimas propriedades rurais a serem loteadas no setor entre a Marechal, a Via  Anchieta e o viaduto do km 23 desta. Seu terreno é remanescente do antigo lote 05 da Linha Colonial Jurubatuba, que, em em seu lado mais extenso, partia da margem esquerda do Rio do Meninos (atual Av. Faria Lima), e ia além da área hoje cortada pela Via Anchieta, alcançando o local onde situa-se a Karmann Ghia, em um aclive de 40 metros. Este  lote rural foi ocupado, a partir de 1877, primeiro pela família do imigrante italiano Luigi Scopel (avô do ex-prefeito Aldino Pinotti) (1) e, posteriormente, já no século XX, por  Silvio Sabatini (2), que possuía por ali uma pequena criação de gado leiteiro, e, no início da rua Joaquim Nabuco, um armazém de secos e molhados.

Na década de 1950,  grande parte do terreno foi  adquirida pelos médicos Darcy Villela Itiberê, ex-presidente da Associação Paulista de Medicina, e  Alcides Ribeiro de Abreu, um dos fundadores da Sociedade Beneficente de Coleta de Sangue (Colsan)  (3).  Em 1956, eles  iniciaram  o loteamento, que possuía 127 lotes de 240 m2 em média.  Conrado Bruno Corazza foi o engenheiro responsável  e José Soares de Oliveira cuidava das vendas dos lotes. A denominação do local é, ao que tudo indica, uma referência à filha de Darcy,  Maria Cecília Itiberê, pianista e ex-diretora da Fundação Magda Tagliaferro, em São Paulo (4).

Surgido em uma época de grande demanda por terrenos perto da Anchieta, o Jardim Maria Cecília, também próximo das ruas centrais da cidade, teve seus lotes preenchidos rapidamente, logo caracterizando-se como uma área essencialmente residencial, ocupada por casas de classe média. Em 1958, dez anos após o início do loteamento, a Avenida das Rosas já possuía 30 domicílios e a Rua das Tulipas, 20. Por volta de 1967, quando suas ruas já estavam pavimentadas,  restavam apenas cerca de 30 lotes livres em toda a área e em 1970 praticamente já não havia  nenhum. A esta altura, o entorno relativamente tranquilo do Maria Cecília  se transformava com o aumento do movimento na Rua Joaquim Nabuco e a construção,  defronte à Rua Secondo Modolin, do Pronto Socorro Municipal. Este fora edificado, em parte,  no espaço onde havia uma pracinha e uma  capela em homenagem à Santa Cecília, cuja original de madeira fora  construída  ainda nos anos 50 e depois reconstruída.

Outra importante alteração ocorrida no desenho do espaço foi a extensão da rua Secondo Modolin, que inicialmente acabava na altura da esquina com a Rua dos Lírios, e em 1962 (5) foi estendida  até emendar com a Rua Ana Pimentel, no coração da  Vila Gonçalves, ligando  diretamente os dois loteamentos.   As poucos, a Secondo Modolin ganharia  certo impulso na área de comércio e serviços, especialmente na parte próxima ao Pronto Socorro, ainda que  a demanda dos moradores do Maria Cecília   já pudesse ser atendida  em outras ruas perto  do loteamento, como a Jurubatuba e a Joaquim Nabuco, para não falar da própria Marechal Deodoro.

No fim dos anos 70, seria a  vez da Rua dos Antúrios ser estendida (6), cortando   o Conjunto Habitacional Franchini, que finalmente começava a tomar forma, preenchendo o amplo espaço vago até então existente além da divisa norte do Maria Cecília. Com ele, as ruas das Tulipas, das Acácias e Constantino Tondi também deixaram de ser sem saídas, passando a desembocar na Rua Angela Franchini, dentro do novo loteamento.

Apesar dessas mudanças em seu desenho viário,  a área ainda mantém viva parte de suas feições originais - muitas das suas casas  mais antigas ainda permanecem de pé, sem grandes alterações, e a verticalização, tão forte em  áreas próximas, praticamente  não se fez presente. Além disso, o perfil de classe média perdura: segundo o censo de 2010, a renda domiciliar média  estava em torno de 3 salários mínimos da época no local (7).

 

Nas imagens, vemos acima a Avenida das Rosas no final da década de 1950 e abaixo uma tomada aérea do local, feita em 1976.

 

Notas

(1) Livro de Matrícula do Núcleo Colonial de São Bernardo do Campo, 1877-1898. Arquivo do Estado de São Paulo.

(2) Médici, A. São Bernardo - 200 anos depois (..). PMSBC, 2012; Medici, A. Coluna Memória in: Diário do Grande ABC, 28-12-2019; plantas L-00035 e L-00049 - Seção de Cartografia/PMSBC

(3) Diário Oficial do Estado de S. Paulo, 10-12-1959; Revista da APM, 11/2006; Colsan-Estatutos in:  Dossiê PL 3164/1961 - Câmara dos Deputados do Brasil

(4)  Revista Veja-SP, 24-02-2020.

(5) Decreto PMSBC 507/1962.

(6) Decreto PMSBC 6787/1981.

(7) Censo Nacional 2010, resultados por setor censitário.

 

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