Originalmente o terreno onde se encontra a Igreja Santa Maria e o Jardim Andrea Demarchi, que a circunda, faziam parte de um sítio do núcleo colonial de São Bernardo, implantado em 1877. Tratava-se do lote nº 63 da antiga Linha Jurubatuba, cujo primeiro dono foi o bergamasco Carlo Tosi, o qual em 1885 conseguiu o título deste e do lote vizinho, onde então vivia com a esposa Joana e seus 10 filhos (1).
Já no séc XX, o sítio foi adquirido por Andrea Demarchi, que, na década de 1930, tinha ali perto um armazém (2), e, no fim dos anos 40, montou o restaurante São Judas Tadeu (3), pioneiro restaurante da rota do frango com polenta.Sua família já morava nas redondezas há anos, sendo seus pais - Mateo Demarchi e Maria Servidei Demarchi - donos originais de um sítio um pouco mais ao sul, na chamada linha Galvão Bueno (lote 32), junto ao Ribeirão do Soldado (4).
No início dos anos 50, a população das redondezas começava a aumentar; fábricas como a Brasmotor e a Varam Motores já estavam instaladas nas proximidades. A crescente população dos arredores da Estrada Galvão Bueno (depois Av. Maria Servidei Demarchi) percorria uma grande distância para assistir à missa na igreja matriz, do centro. Para evitar esse deslocamento, em 1953 surgiu entre os moradores a ideia de construir uma igreja no próprio bairro (5). Andrea ofereceu uma área para a construção, situada num ponto alto de seu terreno, onde seria possível avistar a igreja a partir da estrada. Uma comissão foi constituída para encaminhar os trabalhos de arrecadação e construção do templo. Ela era presidida por Victorino Demarchi (irmão de Andrea), e tinha entre seu integrante pessoas de diversas famílias locais: além dos Demarchi, os Morassi, Capassi, Camolesi e Fanani. Os trabalhos de construção foram executados por Miguel Bertok e Antonio Molão e a matriarca Maria Servidei Demarchi foi responsável pela primeira doação (6).Também contribuíram para as obras as empresas Varam Motores, Volkswagen, o restaurante São Judas, a indústria de bebidas Alegre, o então prefeito Lauro Gomes, e outros moradores, como Ângelo Demarchi, Joaquim Camolesi, Ferdinando Demarchi, João e Pedro Morassi, José Candomone, Tunico Fenochi, Jorge Fanani, Carla Lewandowski, Eduardo Cruz, Álvaro Gallo João Martins, José Aceto e Sebastião Gavachill (7). A Paróquia de Nossa Boa Viagem doou ao novo templo parte do altar-mor de madeira remanescente da antiga Igreja Matriz, demolida entre 1945-1958, bem como uma imagem de São Luiz que nela se encontrava.
A primeira missa da igreja, realizada com ela ainda inacabada, ocorreu em maio de 1956. Nesse momento, ela ainda não possuía um pároco fixo, pois se tratava de uma capela anexa à Paróquia da Matriz e eram os padres destas que realizavam esporadicamente celebrações nela. A criação da paróquia na circunscrição do bairro se deu sete anos depois, em 20 de junho de 1963, por ordem do bispo Dom Jorge Marcos de Oliveira, e o primeiro padre foi o polonês Czeslaw Marciniak, que tomou posse em 27-05-1966.
O estabelecimento da paróquia foi sucedido pelo loteamento das ruas do entorno, denominado Jardim Andrea Demarchi e tocado pelos sucessores de Andrea (falecido em 1964), ao longo dos anos 60. Até então havia no local somente a Rua Albino Demarchi, que ligava a paróquia à Avenida Maria Servidei Demarchi e a rua do quarteirão da igreja. Junto ao terreno da igreja também foi instalado o grupo escolar local, atual EMEB Pedro Morassi.
Em 1987, a igreja teve seu valor histórico reconhecido pelo Conselho de Patrimônio Histórico da cidade , tendo sido tombada pelo decreto 8679.
Na imagem , a Igreja Santa Maria durante a Procissão dos Carroceiros de 1986.
Notas:
(1) - Livro de Matrículas Núcleo Colonial de São Bernardo. 1892. Arquivo do Estado de São Paulo.
(2) - Livro de Arrecadação do Imposto de Indústrias e Profissões 1935.
(3) - Diário do Grande ABC, 25-12-1990
(4) - idem
(5) - Médici, A. Semente do Grande ABC - 200 anos da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem. 2012.
(6) - idem
(7) - Livro de Tombo da Paróquia Santa Maria, citado na página de Facebook da paróquia.
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