Ao longo de seus quase 100 anos de existência, a Rua Frei Gaspar passou por grandes transformações, sendo sua aparência e extensão atuais muito diferentes do que eram em seu início. O primeiro trecho da rua a surgir foi muito provavelmente a parte  localizada entre as ruas José Bonifácio e Marechal Deodoro, atravessando um terreno pertencente a José Cassettari, responsável por sua abertura naquele ponto (1). Parcela deste trecho aparece numa planta do loteamento da Vila Quirino de Lima, com a qual ela faz divisa, datada de 1926, sendo esta a mais antiga referência documental conhecida à via (2). Pouco depois, outro trecho seria aberto, desta vez indo da Marechal até às  proximidades do Rio dos Meninos, onde hoje  é a Av. Faria Lima. Este porção estava dentro do loteamento da chamada Vila Magnólia, área entre as ruas Paissandu e Zelinda Zanella, que  divisava com o famoso restaurante, existente  entre as décadas de 20 e 50, que dava nome à vila (3). Tanto a área do restaurante quanto o loteamento pertencia ao comerciante Aristides Zanella, que morava por ali desde o início do século.

Em 1929, a rua já estava oficializada (sendo lançados impostos de viação), e denominada, homenageando o monge beneditino Frei Gaspar de Madre Deus, célebre historiador paulista. Havia pelo menos três residências no local nessa época: as de  Licínio Bonini, Cesar Vindemiatti e, na esquina com a Marechal, onde depois seria a delegacia de polícia (atualmente Supermercado Dia), a de Ângelo Franchini, dono de  um armazém de secos e molhados.  Na altura do final da rua (atual Praça Brasil), também existia um campo de futebol  em que jogavam antigos times amadores  locais, como o Internacional, o União São  Bernardo e, um pouco depois, o Palestra São Bernardo, que seria fundado em 1935.

Embora o povoamento de parte considerável deste setor tenha se dado de forma relativamente rápida - em 1934 já registravam-se 12 moradias nele - ainda demoraria  para que  a rua se expandisse e atingisse o seu tamanho atual. Em 1952, quando a prefeitura iniciou o calçamento da rua, durante a gestão de José Fornari, ela já planejava sua ligação até as proximidades do viaduto do Km 22,5 da recém inaugurada  Via Anchieta, mas estas obras só seriam totalmente executadas em 1954, já no primeiro mandato de Lauro Gomes, sucessor de Fornari (6). Na ocasião, grande trabalho de terraplanagem foi realizado  na parte mais elevada da via, perto  de onde hoje fica o cruzamento com a  Rua José Spinelli.

Esta nova área em que a rua foi aberta estava junto a terras que perteceram aos  sítios rurais das famílias Boralli e Adamo, da linha colonial Jurubatuba (7).  Nos anos 50, boa parte delas estava ocupada por uma vasta plantação de  eucaliptos. As edificações residenciais urbanas ali começaram pelo setor mais próximo ao entroncamento com a Joaquim Nabuco, onde também funcionou, nos anos 1960, a Cantina Santos (e depois o Colégio Brasília), conhecida por suas festas juninas e bailes de carnavais. Além disso, a proximidade com a Fábrica de Chocolates Dulcora, aberta em 1958 ( 8 ),  situada numa via paralela, ajudaria a impulsionar o desenvolvimento da  Frei Gaspar, que na mesma época  abrigou  a  Indústria Irmãos Roquetti, onde depois se instalaria a Móveis Borsatto (margem esquerda do Rio dos Meninos), e a Fábrica de Móveis São João, situada na esquina com a José Bonifácio.

Novas transformações de impacto ocorreram na rua com as desapropriações geradas pela construção da Av. Faria Lima sobre o Ribeirão dos Meninos, entre 1970-72 (9), desaparecendo em função delas diversas construções, entre elas o antigo campo de futebol, então ocupado pelo Esporte Clube Brasil. Por outro lado,  o aumento da circulação local com o advento da avenida  representaria forte estímulo para novas construções, com finalidade residencial ou comercial, nas áreas livres restantes.  Com isso seriam praticamente consolidados até os anos 80 os loteamentos da Vila Santa Rita de Cássia e adjacências (aprovada em 1973), e, de frente para esta área, de um terreno outrora pertencente a Dario Luiz Setti.

Nas imagens vemos duas  vistas da Rua Frei Gaspar, em 1991, nas proximidades do cruzamento com a Av. Faria Lima.

 

Notas

(1) Barbosa, N.A.Madsen. Folha de São Bernardo, 01-12-1978
(2) Arquivos de Cartografia, PMSBC
(3) idem
(4) Livro de Impostos de Viação, 1929. PMSBC
(5) Médici, A. Coluna Memória da Cidade. Diário do Grande ABC,  20-10-1985.
(6) idem; Folha do Povo 11-01-1952 e 29-08-1954.
(7) Livro de Matrículas do Núcleo Colonial de São Bernardo, EE00123, Arquivo do Estado de São Paulo; Arquivos de Cartografia, PMSBC
(8) Diário Oficial do Estado de São Paulo, 10-10-1938
(9) decretos PMSBC 2422/70, 2490/71, 2717/71, 2754/1971, 2868/72



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