A Rua Jurubatuba é remanescente de uma antiga estrada vicinal existente desde pelo menos a implantação do núcleo colonial de São Bernardo, ocorrida a partir de 1877. O percurso desse velho caminho atravessava lotes rurais da linha colonial homônima e, no trecho que hoje pertence à rua, fazia divisa ao leste com o Rio dos Meninos, limite da diminuta zona urbana de então. As primeiras menções ao local como uma rua, já inserido dentro do perímetro urbano, surgem em documentos oficiais no Livro de Lançamentos do Imposto Predial de 1900-1903 e numa planta datada de 1902. Na planta vê-se que sua extensão ia aproximadamente de onde hoje é a esquina com a Alameda Glória até a altura da Joaquim Nabuco, percurso portanto menor do que o atual. As poucas construções nela localizadas concentravam-se juntas ou próximas de sua margem oriental, onde moravam os italianos Dusi, Corradi, Negri, Dalessio e o alemão Adolpho Lucks (que ali teve uma olaria), todos sitiantes da linha Jurubatuba(1). Os primeiros loteamentos da área - as vilas Dusi, Campestre e Tavares (depois renomeada como Vila Gonçalves) - apareceriam a partir do final da década de 1920, mas só começaram a se desenvolver com maior intensidade cerca de 25 anos depois, quando, por sinal, já haviam se instalado na via ou em áreas adjacentes as fábricas de móveis Sant´ Ana e Irmãos Corazza, a Indústria de Embalagens Americana e a Tecelagem Lydia (Grupo Matarazzo) (2). Entre os estabelecimentos comerciais, nota-se que a rua possuía já em 1947 dois armazéns de secos e molhados próximos um do outro: o de Alcides Lago, na esquina com a Joaquim Nabuco, e o de Jerônimo André Magnani, na esquina com a Tenente Salles, mesmo local onde posteriormente funcionou por muito tempo a famosa Padaria Sidoni, dos Puglia (3).
O desenvolvimento econômico e o crescimento populacional não só nas proximidades mas em toda a cidade impôs uma série de transformações na Jurubatuba, visando a melhora no fluxo de tráfego na região central: entre 1958 e 1962 ela foi estendida ao norte, incorporando parte da antiga Rua 7 de Setembro (hoje Felício Laurito) e atingindo a zona da Praça Samuel Sabatini; entre 1970 e 1972 a via foi estendida também ao sul, indo até a Rua Frei Gaspar. Além disso, nesse ínterim, se deu a pavimentação e o alargamento da pista, na qual linhas de ônibus passaram a circular. A própria sede da prefeitura ficou sediada na Jurubatuba entre o final de 1962 e 1969, no prédio onde em seguida seria instalada a Biblioteca Monteiro Lobato.
. Enquanto modernizava-se, a via já começava a atrair as lojas de móveis que hoje marcam sua paisagem: em 1965 já havia algumas delas ali acomodadas, comercializando itens de fabricação própria, como a Irmãos Todesco e a Móveis ABC (4). A associação da rua ao ramo se estabeleceria definitivamente no imaginário coletivo ao longo dos decênios seguintes, quando, em especial no setor norte da via, outras dezenas de lojas nela se instalaram, implantadas principalmente por famílias de origem libanesa, como os Jarouche, Barakat, Orra e Abdouni. Uma pesquisa feita em 2006 (5) mostrava que havia pelo menos 26 libaneses proprietários de uma ou mais lojas de móveis na Jurubatuba. No total, a rua e seus arredores tinham 77 estabelecimentos do ramo naquele ano. Em 2013, o número de lojas ainda era praticamente o mesmo: 78 (6).
Na foto, vemos a Jurubatuba em tomada aérea de 1976, no trecho situado entre as ruas Newton Prado (esq.) e Tenente Salles (dir.). Na esquina com esta última está o prédio da Padaria Sidoni e, mais ao centro, a Móveis Anhembi (onde antes funcionou a Fábrica de Móveis Sant´Ana). Acima, correndo paralela, está a Av. Faria Lima e, no canto superior direito, a Escola Maria Iracema Munhoz e a Praça Marechal Rondon.
Pesquisa e Acervo: Centro de Memória de São Bernardo do Campo
NOTAS:
(1) Livro de Lançamentos do Imposto Predial - 1900-1903. PMSBC.
(2) Processo 4022/1954. PMSBC.
(3) Imposto de Licença - lançamentos do exercício de 1947. PMSBC.
(4) Relação de reemplacamentos da Rua Jurubatuba - 1965. PMSBC.
(5)Fascini, H. A Rua Jurubatuba: Uma análise sobre o comércio de Móveis. Dissertação de Mestrado. UMSCS, 2006.
(6) https://web.archive.org/web/20130511080247/http://www.ruajurubatuba.com.br/
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