Em 20 de janeiro de 1970,  o espaço cultural mais freqüentemente utilizado da prefeitura municipal -  a Biblioteca Monteiro Lobato -  foi reaberto, após a transferência de sua sede da Rua Djalma Dutra para o endereço atual, na Rua Jurubatuba, um prédio projetado para abrigar os correios,  mas onde funcionara o gabinete do prefeito durante a maior parte da  década de 1960. Mais amplas, as novas instalações permitiram o planejamento de diversos incrementos nas ações desenvolvidas no espaço, como a sala de Biblioteca Infantil, acervo em braille e discoteca (1). Nos primeiros anos da década, juntamente com a biblioteca, o Anfiteatro Cacilda Becker começava a se firmar como um dos  espaços privilegiados para a ação cultural da municipalidade, abrigando atividades  que incluíam  desde  a música erudita  até espetáculos de teatro,  como nas comemorações do aniversário da cidade de 1971,  que contaram com  apresentações da importante pianista são-bernardense Beatriz Roman  e do   Grupo Regina Pacis,  que encenou a peça de Millor Fernarndes, “ O Homem do Princípio ao Fim” (2).  Nesta época o espaço sediou também algumas atividades de formação,  incluído  um curso de teatro e um curso intensivo de folclore - promovido em uma  parceria da municipalidade  com o governo do estado -  que previa  a realização de um  trabalho de pesquisa sobre a penetração do  folclore nacional na cidade (3).  Na época, além do teatro, o Paço Municipal abrigou também a sede administrativa do Departamento de Expansão Cultural, além de  diversas exposições de artes plásticas, no chamado “andar placa” -  que ficava abaixo do 1º andar e acima do térreo. Mostras da Associação São Bernardense de Artes Plásticas (ASBA) eram muito freqüentes no local.  Outros espaços utilizados pela Ação Cultural de Prefeitura neste período foram as dependências da Associação dos Funcionários Públicos de SBC - que abrigava uma sessão de cinema chamada de “Cine Drinks” (4) – e os estádios desportivos. O Estádio de Vila Euclides lotou para a encenação de uma “Vida de Cristo”, em dezembro de 1970,  enquanto que o de Vila Baeta (Baetão),  recebeu uma apresentação da orquestra filarmônica de São Paulo (5). Ainda  nesta época, em fevereiro de 1971, foi inaugurado o Museu Histórico-Pedagógico Antônio Raposo Tavares, que embora fosse um entidade  de iniciativa, concepção e  acervos do governo estadual, contou também com diversos auxílios  do Departamento de Expansão Cultural, os quais incluíram desde a cessão de sua antiga sede – o casarão da Rua João Pessoa (n.236)  - até a compra de equipamentos e gastos com manutenção. Jorge Rahmé, diretor do Museu,  era também o chefe da  Seção de Divulgação Cultural, a subdivisão administrativa do departamento que era especificamente dedicada ao setor cultural (6). 

Festa da cultura popular, o carnaval passou a ter desfiles oficializados e  organizados pela PMSBC a partir de 1970, através da Comissão  do Turismo.  As escolas de samba participantes também recebiam auxilio financeiro da municipalidade. Em 1971, foi estimado um público total  de 50 mil pessoas nos dois dias de desfiles, que aconteceram na Rua Marechal Deodoro (7).

Em 1973, no início da administração Geraldo Faria Rodrigues, a prefeitura articulou planos relativamente grandiosos para o futuro do setor cultural no município, incluindo a construção de um  ”Palácio da Cultura” junto ao Paço Municipal, o qual incluiria biblioteca, museu  e teatro.  Além disso, aconteceu  a transformação do  Departamento de Expansão Cultural  na Secretaria de Educação e Cultura. Segundo um relatório da  administração da época, “ era necessária, imprescindível e inadiável  a criação de órgão  específico, com características e metas próprias, afim de se  poder equacionar racionalmente todos os problemas relativos à educação e à cultura (...) Com o fito de perseguir os objetivos propostos na lei federal 5692/1971 a Secretaria (...)  terá dois departamentos – o de educação e o de cultura ”. Apesar do planejamento ambicioso, os novos espaços junto ao paço não chegaram a ser construídos, e a nova secretaria, embora entregasse ao setor cultural, pela primeira vez, um departamento com dedicação  exclusiva,  continuaria dando uma importância muito maior à área da educação, cuja demanda direta  era muito grande e urgente devido ao crescimento demográfico acelerado, com a população saltando de 201 mil em 1970  para 465 mil em 1980 ( 8 ).

Entre 1974 e 1976,  destacou-se a realização anual da “Semana de Cultura”, evento realizado no Teatro Cacilda Becker, envolvendo um ciclo de conferências e apresentações  relacionadas com as diferentes linguagens artísticas, ministradas por intelectuais renomados em suas áreas de atuação,  como Ricardo Cravo Albin – música popular - e Carlos Von Schmidt – artes visuais. Outro evento de periodicidade anual que ocorreu regularmente nesta época, também no Teatro Cacilda Becker,  foi o “São Bernardo  - A cidade e a Cultura” , que apresentava artista e entidades culturais do município (9). 

Nos últimos anos da década, já na administração Tito Costa (1977-1982),  ganhou destaque  entre as ações da prefeitura o “Domingo no Paço”, evento esportivo e cultural de grande popularidade, sediado no entorno do Paço Municipal.  Realizado pela primeira vez em 28 de agosto de 1977, a atração era direcionada especialmente ao público infantil, e ocorria mensalmente em manhãs de domingo, envolvendo brincadeiras, esportes, números circenses, shows musicais, minibiblioteca e oficinas de artes, além de sessões teatrais e cinematográficas no Teatro Cacilda Becker.  Em 48 edições,  realizadas entre 1977 e 1981, o “Domingos no Paço”  recebeu um público de 288 mil  pessoas,  uma média de 6 mil  por evento (10).  

Do ponto de vista administrativo e institucional a segunda metade da década trouxe como principais mudanças: em 1975, a criação legal da Pinacoteca Municipal, a qual só foi efetivamente instalada em 1980, mas que teve uma  parte significativa de seu acervo inicial adquirido entre 1969 e 1979; em 1976, a fusão  dos setores de educação, cultura e esportes na nova  “Secretaria de Educação, Cultura e Esportes” ( 11 );   em 1977,  a criação do Conselho Municipal de Cultura (CMC), orgão deliberativo subordinado à Secretaria, presidido pelo titular  da pasta e composto por  cinco membros indicados pelo mesmo, o qual tinha entre suas finalidades, “ determinar a filosofia cultural que deve ser seguida pelo Departamento de Cultura em todo o município” e que contou com a participação de nomes como a ativista cultural local Odete Tavares Bellinghausen e o renomado dramaturgo Jorge de Andrade  (12); em 1978,  a instituição do Fundo de Assistência à Cultura (FAC), com o objetivo de captar recursos para ações culturais através da venda de ingressos em espetáculos promovidos pelo Departamento de Cultura  e da cobrança  pela cessão de uso de próprios municipais administrados pelo mesmo departamento. 

A cidade de São Bernardo do Campo chegou ao final do período considerado com um leque de atividades e espaços dedicados à cultura enormemente ampliando em relação ao seu início. É possível obter uma boa noção deste crescimento considerando a ampliação da rede de teatros e bibliotecas ocorrido durante a década, a qual corresponde, em grande parte,  à mesma estrutura que existe até a atualidade.  Entre as bibliotecas, as quais abrigaram  diversas atividades culturais, além da leitura e empréstimos de livros, somaram-se à pioneira e única existente em 1970 – a  “Monteiro Lobato”,  as unidades dos bairros  Rio Grande –  “Machado de Assis” (1972), Rudge Ramos – “Malba Talban” (1976), Baeta Neves – “Manuel Bandeira” ( 1979) e Paulicéia – “Érico Veríssimo” (1979). Em relação aos teatros, na década em que o Cacilda Becker se consolidou como o maior e mais nobre espaço cultural da cidade,   surgiram  o Abílio Pereira de Almeida (1978), no Baeta Neves, o Cine teatro Martins Pena (1978), na Vila Gonçalves,  e o “Procópio Ferreira” (1979), na Paulicéia (13) .  

 

Acima: Público no Teatro Cacilda Becker assiste à conferência “A Cultura Brasileira e o Folclore”, com a participação de Inezita Barroso. 1974.

Abaixo: Apresentação de Teatro de Cordel, também no Cacilda Becker. 1974. 
 


 Notas: 

(1) – Cf. Jornal “A Vanguarda”, 25/1/1970, p.3.       

(2) – Cf. Jornal “A Vanguarda”,  15/08/1971, p.5.

(3) – Cf. Jornal “A Vanguarda”,  29/03/1970, p.3.  

(4) – Cf. Jornal “A Vanguarda”,  31/10/1971

(5) - Cf. Jornal “A Vanguarda” 12/12/1970,  p.2 ; 24/12/1971, p.6 

(6) - Cf. PMSBC. Orçamento-Programa. 1973. Leis Municipais n. 2010 e 2011; Decreto 3292, de 5 de dezembro de 1972. p.26; Jornal Jornal “A Vanguarda”,  24/05/1970, p.5

(7) – Cf. Jornal “A Vanguarda”, 1/2/1970, p.5; 24/01/1971, p2.   

(8) – Cf. PMSBC. Secretaria de Educação e Cultura. ps.13 e 14 – CX-04; Cf. Lei Municipal 2052, de 6 de junho dfe 1973.

(9) – Cf. PMSBC. Secretaria de Educação, Cultura e Esportes. Folder. “ São Bernardo a Cidade e a Cultura”; “3ª Semana de Cultura- Aspectos da Cultura Brasileira nos últimos 30 anos.

(10)  - Cf. PMSBC. Secretaria de Educação e Cultura.Ação Cultural. Relatório 1977-1981. ps.74 e 75.

(11) - Cf.  Lei Municipal  2240, de 13 de agosto de 1976.  

(12) - O  Conselho Municipal de Cultura  foi criado pelo artigo 229 da lei 2240/1976, mas foi regulamentado apenas em 1977, pelo decreto municipal 5536, de 14 de abril de 1977.  

(13)   - Cf. PMSBC. Secretaria de Educação e Cultura. Ação Cultural. Relatório 1977-1981. ps.17-22.

 

 

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