A área da Alameda das Oliveiras (Vila Jerusalém), uma das primeiras vias a serem abertas no Bairro Demarchi, tem sua origem territorial em parte de um antigo sítio da Linha Jurubatuba, sendo toda a extensão da rua, em seus mais de 900m, correspondente ao comprimento da referida gleba, que fazia frente para a Estrada Galvão Bueno, atual Av. Maria Servidei Demarchi. Este sítio pertenceu de 1877 até as primeiras décadas do século XX ao casal Vittorio Gambiraggio e Giuseppa Pagani (e filhos), fabricantes de vinho, imigrantes oriundos de Bergamo (Itália) (1).
Posteriormente o sítio seria dividido, sendo que, no fim dos anos 40, enquanto a parte mais ao sul (atual Rua Lázara de Oliveira Leite) era propriedade da família Batistini, o lado mais ao norte pertencia à Empresa Imobiliária Borda do Campo, composta por Alfredo Negri, Avelino Coelho dos Santos, José de Oliveira e Joaquim Ferreira Neto (o oficial do cartório da cidade) (2). Estes últimos lançaram em 1948 o loteamento da Vila Jerusalém, formado por 184 lotes de 200m em média. Sua única via, a princípio, era a Alameda das Oliveiras, então chamada Rua das Oliveiras. A origem do nome (uma vez que ela não era arborizada com oliveiras) parece estar relacionada ao sobrenome de um dos proprietários e gerente do loteamento, José de Oliveira - conforme moradores apontaram numa reportagem publicada no jornal Diário do Grande ABC, em 1973 (3)
A Vila Jerusalém foi o primeiro loteamento urbano realizado no Demarchi, surgindo cerca de três anos antes da Vila Santa Angelina. Contemporânea da instalação, em terrenos próximos, das fábricas Brasmotor e Varam Motores, pioneiras da indústria automotora na cidade, ela atraiu um grande número de migrantes recém-chegados à cidade. De fato, um dos primeiros registros documentais de moradores do local, datado de outubro de 1949, refere-se à proclama de matrimônio de um casal de migrantes descritos como moradores da vila: Joaquim Reis da Silva, que era natural de Riacho Santana (Bahia), e Conceição de Almeida, nativa de Avaré (São Paulo) (4). Referentes aos anos seguintes, existem diversos outros registros semelhantes de casais de moradores migrantes, como Romão Romero (de Ourinhos - SP) e Juventina de Araújo (de Felisberto Caldeira - MG),em 1950; e José Francisco de Oliveira (de Belo Horizonte - MG) e Conceição Pires dos Santos (de Diamantina - MG), em 1953 (5).
O crescimento da vila foi bastante rápido, estando a Alameda das Oliveiras em 1960 já com 62 casas e, por volta de 1974, com mais de 120 moradias. A vizinha Rua Lázara de Oliveira Leite, que em 1960 estava praticamente vazia, em 1974 já possuía mais de 70 casas. Nessa época, a infraestrutura local estava razoavelmente implantada. As ruas eram pavimentadas com paralelepípedos, havia ligação de esgoto recém-instalada e uma linha de ônibus, que ia até a Rua dos Americanos (Baeta Neves), passava por ali. O grupo escolar local, a princípio de madeira, havia sido construído na Rua Lázara de Oliveira Leite, no início dos anos 60 e em 1972-3 substituído por uma construção de alvenaria, na Rua Armando Backx (6).
A ausência de grandes centros comerciais próximos em suas primeiras décadas de existência fez com surgisse, desde a década de 60 pelo menos, alguns estabelecimentos dentro da própria vila , como o” bar e mercearia do Ferreirinha”, que foi sucedido pela mercearia da Dona Elisa, e também a mercearia de João da Costa, comerciante mineiro que foi entrevistado na supracitada reportagem do Diário do Grande ABC. Mesmo com o maior desenvolvimento comercial no entorno, a Vila Jerusalém possui ainda hoje estabelecimentos de diversos gêneros em seu próprio território.
Nos tempos atuais, embora algumas das velhas residências da Alameda das Oliveiras ainda persistam de pé, o aspecto das edificações mudou bastante desde os anos 80, com o surgimento de pequenos prédios e sobrados. E, acompanhando a tendência metropolitana geral ,as residências ficaram mais fechadas, com portões e muros altos, em face dos problemas de segurança.
Acima, vista aérea da Alameda das Oliveiras e da Região da Vila Jerusalém (Demarchi) em 2003. Abaixo, o Grupo Escolar da
Vila Jerusalém em 1967, quando ele se situava na Rua Lázara de Oliveira Leite
Notas:
(1) - Livro de Matrículas do Núcleo Colonial de São Bernardo. 1892. Arquivo do Estado de São Paulo. Livro de Indústrias e Profissões de São Bernardo. 1890
(2) - Diário Oficial do Estado de São Paulo, 24-06-1948
(3) - Médici, A. São Bernardo, Seus Bairros, Sua Gente. PMSBC, 1981. Diário do Grande ABC, 03-01-1973.
(4) - Diário Oficial do Estado de São Paulo, 01-10-1949
(5) - idem, 25-08-1950, 06-12-1953
(6) - Decreto PMSBC 2830/72
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