Na década de 1970, o Brasil vivia sob um regime ditatorial no qual as eleições para os executivos federal e estadual não existiam. Porém, à exceção das capitais estaduais e locais considerados vitais para a segurança nacional, as cidades do país mantinham pleitos eleitorais para prefeito e vereador. As eleições legislativas estaduais e federais também continuavam acontecendo. Apenas dois partidos eram permitidos: A Aliança Renovadora Nacional (ARENA) - representando a situação - e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) - a oposição. Desse modo, o povo de São Bernardo foi chamado 5 vezes para comparecer às urnas durante a década: em 1970, 1974 e 1978, para os pleitos estaduais e federais; em 1972 e 1976, para os municipais.

Em 15 de novembro de 1970, dia da primeira eleição da década, a cidade foi visitada pelo Ministro dos Transportes, Mario Andreazza, que compareceu a uma solenidade na empresa “Equipamentos Villares”, a qual havia fabricado um grupo de motores para a Marinha Brasileira (1). São Bernardo do Campo teve apenas dois candidatos a deputado estadual concorrendo neste pleito, Virgílio Simionato e o vereador José Ginez Ramble - conhecido como “Tudo Azul”, ambos membros da ARENA (2). Ramble foi o deputado mais votado na cidade, com mais de 14 mil sufrágios. Simionato, que contava com o apoio do Prefeito Aldino Pinotti, de quem era assessor (3), também obteve votação expressiva. Ainda assim, nenhum dos dois foi bem sucedido. Tito Costa concorreu ao senado como suplente, na chapa vitoriosa de Franco Montoro, do MDB. Cerca de 62 mil munícipes compareceram às urnas. A ARENA conseguiu a esmagadora maioria dos votos na eleição para deputado federal e estadual, mas perdeu para o MDB na disputa pelo Senado (4).

No pleito municipal de 1972, a ARENA apresentou três candidatos à prefeitura - Geraldo Faria Rodrigues, Hygino de Lima e Gulherme Ferriani, enquanto que o MDB, apenas um, o advogado Tito Costa. A adoção de sub-legendas foi comum nesta década, como uma forma de mitigar a rigidez do bipartidarismo imposto pela ditadura. Nesta ocasião, número de eleitores efetivos saltou para 81005. O então vice-prefeito Geraldo obteve uma vitória apertada contra o ex- prefeito Higyno de Lima - 30065 contra 29779 votos, resultado que chegou a ser contestado na justiça. Guilherme Ferriani, terceiro candidato da ARENA, obteve 5166 votos, e Tito Costa, pelo MDB, 3632 sufrágios. O candidato a vereador com melhor desempenho nas urnas foi Maurício de Castro, filho de Tereza Delta, que foi reeleito com 3696 votos. Foram também reeleitos Omar Donato Bassani, Antonio Dias Amorin, Lenildo Magdalena, o jovem Gilberto Frigo, e Américo de Morais, todos da ARENA. O MDB elegeu apenas dois vereadores - Odemir Furlan e Délzio Paschoin - mantendo o tamanho de sua pequena bancada. Paschoin foi o vereador menos votado, com o apoio de apenas 1043 eleitores (5). Entre os candidatos que não se elegeram estavam políticos conhecidos como Indu Rovai, José Ramos de Brito, Mario Ladeia da Rocha, Paulo Meloni - que tentavam a reeleição - além de Natal Vertamatti, Matao Miyagawa, Laerte Pinchiari, ex-vereadores de legislaturas mais antigas. Entre os estreantes eleitos estavam Rui Iacoponi, Angelino Bravin, Carlos Eugênio Tavares, Hamilcar Paranhos, João de Lima, José Giolo Neto, José Pereira de Araújo e Sérgio Lorenzoni. A composição da câmara reflete a realidade crescimento demográfico impulsionado por movimento migratório que a cidade vivenciava desde a segunda metade da década de 1940. Dos dezessete vereadores, apenas três eram nascidos em São Bernardo do Campo. No interior do Estado de São Paulo nasceram sete edis; na capital, dois; no nordeste, dois; Minas Gerais, um; Rio de Janeiro, um; Portugal, um. As profissões mais comuns nesta legislatura foram as de contador, despachante e comerciante. Entre os vencedores, existiam também dois funcionários públicos, um engenheiro e um professor.

Realizadas em contexto de crise econômica mundial, as eleições de 1974 foram marcadas pelo avanço do MDB no país, tornando-se um elemento importante no processo de abertura política do Brasil. Em São Bernardo do Campo não foi diferente. Pela primeira vez desde a vitória de Lauro Gomes, na década de 50, a cidade conseguiu eleger um deputado federal. O vitorioso foi o vereador do MDB, Odemir Furlan, que obteve 15 537 votos. Para o legislativo estadual, o candidato mais votado foi Belmiro Roman, também do MDB, que conquistou 14411 eleitores, mas não se elegeu. Os dois candidatos da ARENA - o vereador Rui Iacoponi e José Ginez Ramble – também foram derrotados (6).

O pleito municipal de 1976 foi marcado por uma campanha eleitoral tensa. Alguns dias antes da eleição, um rojão foi disparado contra o comitê do candidato Tito Costa (MDB), causando pânico entre os presentes. Milhares de exemplares de um jornal com notícias falsas e contrárias ao MDB foram apreendidos pela polícia (7). O resultado consolidou a tendência do crescimento do MDB, que conquistou pela primeira vez a prefeitura, com Tito, e também fez a maioria dos vereadores. Mais uma vez, a renovação foi ampla na Câmara Municipal, com apenas seis edis reeleitos - Álvaro Domingues, Delzio Paschoin, Lenildo Magdalena, Omar Donato Bassani, Hamilcar Paranhos, e o engenheiro português Carlos Eugênio Tavares. Os naturais de São Bernardo continuaram sendo minoria, apesar terem ampliado sua participação. Além de vereadores nascidos em várias partes do Brasil, sobretudo no Estado de São Paulo, haviam também dois estrangeiros na câmara: o já citado Tavares (ARENA), e o professor napolitano Luiz Massa (MDB). As ocupações mais comuns entre os edis eram as de funcionário público, profissional liberal e comerciante. A eleição do operário e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de SBC, Paulo Vidal (MDB), mostrou a força crescente do setor no município. Os dois vereadores mais votados foram o médico Aron Galante com 5999 sufrágios, e o proprietário do tradicional restaurante S. Judas Tadeu, Walter Demarchi, com 3972 (8). Ambos eram estreantes no legislativo e futuramente seriam eleitos prefeitos da cidade. Na ARENA, entre os derrotados estavam Élcio Cândido e Maurício de Castro, candidatos a prefeito e a vice, respectivamente, além de João de Lima, Almerindo Protti, Américo de Morais e Gilberto Frigo, que buscavam uma vaga na câmara municipal.

Em 1978, a trajetória de crescimento do MDB continuou com força no Estado de São Paulo e também na região do Grande ABC. O partido conquistou a vaga estadual em disputa no Senado e fez a grande maioria dos deputados em ambas as câmaras. Os políticos de São Bernardo do Campo conquistaram apenas uma cadeira na Assembléia Legislativa Estadual, com a vitória do vice-prefeito Mario Ladeia Rocha (MDB), que angariou mais de 28 mil votos. Apesar de obterem votações significativas, Paulo Vidal e Odemir Furlan, do MDB, não se elegeram. Oa candidatos da ARENA, como os ex-prefeitos Geraldo Faria Rodrigues e Aldino Pinotti, tiveram um desempenho ainda pior. No município, a eleição para o senado também resultou em vitória do MDB, que obteve 107 mil votos contra 15 mil da ARENA (9).

 


Apuração das eleições de 1978, nos atuais Estúdios e Pavilhões São Bernardo do Campo (Antiga Vera Cruz).

à direita aparece Mario Ladeia da Rocha

 

 

Notas:


(1) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 15/11/1970, p.1.
(2) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 8/11/1970, p.1.
(3) - Cf. Jornal “Folha de São Bernardo”, 14/11/70, p.8.
(4) - Cf. Jornal “Folha de São Bernardo”, 21/11/70, p.8.
(5) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 19/12/72, p.8.
(6) - Cf. Folha de São Bernardo.23/11/1974, p. 3.
(7) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 14/11/1976, p.1.
(8) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 21/11/1976, p.1.
(9) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 19/11/1978, ps.1 e 8.

 

 

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