Núcleo original do bairro de mesmo nome, a área da Vila Baeta Neves era no início do Séc. XX parte do sítio do casal Antônio Serafim Bueno e Escolástica da Anunciação, ali estabelecidos desde pelo menos meados da década de 1880. O local era privilegiado, pois nas proximidades do sítio já se entroncavam a Estrada do Vergueiro, a Estrada Velha de Santos (atual Rua Redenção), o antigo Caminho do Pilar (atual Tales dos Santos Freire, que ia até Mogi das Cruzes) e, depois de 1895, também a Estrada Santo André-São Bernardo (atual Pereira Barreto). A partir da década de 1910, quando a Estrada de Santos foi reformada e transformada numa estrada de rodagem, as áreas próximas a essas vias começaram a chamar mais a atenção de moradores abastados da capital, que enxergavam nelas espaços tanto para loteamentos urbanos como para sítios de veraneio ou mesmo empreendimentos agrícolas. Um desses interessados foi o prestigiado médico mineiro Luiz Felipe Baeta Neves, que comprou quase toda a antiga propriedade da já viúva Escolástica (1) 
Ao longo dos anos 20, Dr. Baeta implantou em locais vizinhos da futura vila uma série de empreendimentos: uma cerâmica próxima do Córrego Taioca, uma pedreira junto ao Córrego Saracantan e, além disso, desenvolveu atividades agropecuárias, principalmente a criação de suínos, esta situada onde hoje sãos os fundos do Shopping Metrópole. Chegou a possuir cerca de oitocentos porcos da raça norte-americana duroc-jersey (2), um dos maiores rebanhos do estado naquele tempo. Para cuidar dos negócios, o Dr.Baeta trouxe de Rio Claro o funcionário João Versolato, que se tornaria depois o primeiro morador da Vila Baeta. O médico iniciou os planos de loteamento desta por volta de 1926, provavelmente incentivado pelo início das atividades da linha de bondes São Bernardo–Santo André, de duração efêmera, que circulava pela Av. Pereira Barreto. Contudo, devido a dificuldades financeiras, agravadas pela crise mundial de 1929, o Dr. Baeta repassou no final daquela década a administração do empreendimento à Companhia Construtora Paulista, pertencente ao seu amigo, o também médico Edmundo de Carvalho. Em fins de 1932, após uma série de intervenções para tentar adequar o loteamento à topografia muito irregular do local, a empresa iniciou a venda de lotes, anunciando em jornais e revistas de grande circulação na Capital (3). No texto de um dos anúncios era sugerido até que a compra de um lote seria um bom presente de natal. Segundo depoimento dado por Antonio Versolato (4), filho de João, famílias ricas de São Paulo, como os Mindlin, os Junqueira e os Prestes, amigas do loteador, foram as primeiras a comprar terrenos. As áreas escolhidas ficavam no entorno da primitiva capela São José (pronta em 1935) que, apesar disso, demoraram a ser integralmente ocupadas, possivelmente porque os compradores as adquiriram como um investimento a longo prazo e não com a intenção de ali residirem. Os moradores que de fato povoaram o bairro eram de perfil operário, alguns empregados do próprio Dr. Baeta Neves e outros assalariados da indústria moveleira da cidade, das tecelagens e também das muitas olarias que existiram nos arredores, como as de Armando Dalla, Virgílio Bonaldi, Irmãos Pedron, Angelo Scopel, Miguel e Júlio Rubino, Bom Jesus (Jardim Petroni) e Santo Antônio (onde hoje se encontra o campo do Esporte Clube Madureira) (5).
Em meados década de 1940, o loteamento ainda apresentava problemas em sua estruturação, com ruas não alinhadas e lotes com demarcações não compatíveis com a planta, Para resolvê-los a Companhia Paulista contratou um escritório de agrimensura da Capital, que reelaborou a planta, ampliando-a e corrigindo seus entraves urbanísticos mais gritantes. A partir daí a vila teve sua ocupação intensificada, principalmente por migrantes recém-chegados à cidade, economicamente menos favorecidos. Nessa época alguns usariam até a madeira de caixões provenientes das indústrias Brasmotor e Varam para levantar suas casas provisórias (ou até mesmo a habitar os caixões), mais tarde substituídas por construções de alvenaria. 
Com anos de incremento populacional em quase todos os seus setores, a vila por volta de 1960 já tinha praticamente consolidado os contornos definitivos de sua planta, pelo menos até o final da Rua Belarmino Francisco Vasconcelos (em frente ao terreno do futuro Cemitério do Baeta, que ainda não existia). Assim, o crescimento nessa área da cidade nos anos seguintes concentraria-se mais nos loteamentos vizinhos, situados ao sul e à sudeste da Vila Baeta.
Nas imagens, vemos acima o Dr .Baeta Neves e o sobrado ainda em construção de João Versolato, na esquina da Av. Getúlio Vargas com a Pereira Barreto, construção que foi a primeira residência do loteamento. Embaixo, a Igreja São José, ainda sem a sua abóbada, em foto da década de 1950 (original da família Yamaguchi). A imagem do sobrado foi publicada no jornal Correio de São Paulo em 1932.


NOTAS:
(1) Diário Oficial do Estado de São Paulo, 17-02-1954
(2) Diário Nacional, 30-05-1929; Revista Chácara e Quintais, 15-01-1931
(3) Jornal A Gazeta, 28-11-1932; Revista A Cigarra, Dez 1932; Correio de S. Paulo 28-11-1932
(4) Folha de São Bernardo, 29-09-1979
(5) Livro de Impostos de Indústrias e Profissões, PMSB (1931-5); Imposto de Licença, PMSBC, 1947.

 

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