As referências específicas mais antigas à área onde hoje está a Vila Caminho do Mar tratam do lugar chamado  “Água das Mulatas” ou "Tanque das Mulatas" (1),  reservatório  de água hoje aterrado (atrás dos lotes do lado par da Rua São Martin),  cujas primeiras menções  conhecidas datam das décadas de 1860-70. Na primeira alusão, de 1864,  José Vergueiro, responsável pela reforma da estrada do mar,   cita a  “água das mulatas” como um ponto onde deveria  se construir  um pontilhão provisório para que o fluxo  na dita estrada fosse garantido (2).  Sete anos depois,   o  encarregado de conservação da  estrada, Antônio Mariano Galvão Bueno, receberia pagamento do governo provincial justamente pela construção de um pontilhão no local, desta vez  chamado de “tanque das mulatas” (3) .

Nessa  época, aquelas terras ainda faziam parte da então decadente fazenda dos monges beneditinos, que seria vendida em 1877 para o governo imperial para instalação do núcleo colonial são-bernardense.  Na área da futura Vila Caminho do Mar, em 1885 se estabeleceriam os italianos Romualdo e Tommaso Piagentini, dois dos três irmãos que ficariam célebres pela construção,  em 1891, da capela original  de São João Baptista,  um marco na história do Rudge Ramos.  Porém, a família ficaria nas terras somente até início do séc.XX, quando Romualdo se mudou para Santo André (4)  e  Tommaso retornou para a Itália.  Na década de 20, a área da futura vila  já havia sido adquirida por Nathalia Bogaert e Heitor Dacomo,  casal morador da  capital e proprietários de uma   fábrica de  perfumes, a Companhia Bogaert. Eles seriam  os responsáveis pelo lançamento, em 1924, do loteamento  Vila Caminho do Mar (5).

Com desenho inspirado pelo conceito urbanístico da cidade-jardim, muito em voga na época, com  praças circulares, vias  concêntricas e radiais, o empreendimento era  composto inicialmente de 383 lotes, com 280 metros quadrados de área em média. Os terrenos foram vendidos ao longo de décadas, sendo que  até 1933 a comercialização  esteve a cargo da empresa Agência Predial Meirelles, que em julho-agosto de 1924  publicou no jornal Correio Paulistano os primeiros anúncios publicitários do loteamento (6). Posteriormente o corretor Virgílio Paternost assumiu a tarefa.

Um número pequeno de casas foram edificadas nas três primeiras décadas do loteamento. Elas concentravam-se mais no  lado oeste da vila, próximo da Avenida Caminho do Mar, antiga estrada velha.  Conforme aponta um levantamento aerofotogramétrico, em 1957 as  ruas Três Mosqueteiros e Engenheiro Isaac Garcez eram as mais ocupadas, sendo que nesta última, na esquina com a Rua Dartagnan,  já havia sido construído o prédio da   fábrica Refratários Brasil, de Manoel Gimenes Garcia.  Outra indústria já existente então era a Metalúrgica Anchieta (depois Metan), na Rua Paulo di Favari. A esta altura também a vila já possuía o seu grupo escolar (hoje Escola Estadual Rudge Ramos), instalado em 1950, na Avenida Presidente  Arthur Bernardes, que passou por significativas ampliações em 1954 e em 1962. A existência da escola motivou a extensão  da linha  de energia elétrica até a avenida, também em 1950. No restante das vias, a rede seria complementada até 1964 (7), um ano após a pavimentação asfáltica ter alcançado as vias Engenheiro Isaac Garcez, Washington Luiz, Arthur Bernardes, Três Mosqueteiros, Aura e a Praça Itália ( 8 ).  Apesar da pavimentação, esta e outras praças da vila só receberam as devidas  obras de urbanização a partir de 1965 em diante ( 9 ), mesmo período em que  o loteamento  ganharia  o seu Posto de Puericultura.

Todos esses improvimentos  urbanos ocorridos nos anos 60 foram demandas naturais, considerando que essa foi  a década em que  a vila teve a etapa  mais significativa de seu povoamento, consolidando-se como uma área  residencial habitada principalmente por famílias de classe média: em 1970,  restavam poucos terrenos vazios, sendo  o maior deles  uma  área na quadra entre a  Praça Bruxelas e a Rua Carlos de Campos, onde, por sinal,  foram construídas casas  logo em seguida.

A vila, ao longo do tempo, acentuaria  suas características residenciais, especialmente nas décadas de 90 e 2000,  quando muitos edifícios  de apartamentos foram edificados, alguns situados  em áreas que outrora abrigaram indústrias, como por exemplo nos locais onde  existiam a Refratários Brasil  e a Metalúrgica Anera.


Nas imagens, vemos acima a Praça Bruxelas, ponto central da Vila Caminho do Mar em 1971.

Abaixo, o antigo Grupo Escolar Rudge Ramos, hoje E.E. Rudge Ramos, na Av. Presidente Arthur Bernardes, 1962.

 

Notas:

1. Os motivos que originaram essa denominação não são conhecidos
2. Correio Paulistano, 24-07-1864
3. Diário de São Paulo, 10-08-1871
4. Lei Ordinária PMSA 114/1912
5. Correio Paulistano, 06-07-1924
6. idem
7. Folha de São Bernardo, suplemento especial, 27-10-1979.
8. A Tribuna, 07-07-1963.

 

 

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