No final do séc. XIX, a área do Demarchi era composta por lotes das linhas coloniais Galvão Bueno e Jurubatuba, ocupados por imigrantes italianos, e também por sítios de maior extensão pertencentes a outros particulares, que não integravam o núcleo colonial de São Bernardo.  A principal via local era a chamada Estrada Galvão Bueno, que na época partia da Estrada do Mar, aproximadamente na altura onde hoje começa a Av. José Fornari, atravessava a área do Demarchi no espaço em que atualmente passa a Av. Maria Servidei Demarchi e seguia pelo Batistini adentro.  Através dela, os habitantes dos sítios das linhas coloniais escoavam sua produção (tanto agrícola como de lenha, madeira e carvão), se dirigindo, após alcançar a Estrada do Mar, à zona urbana de São Bernardo e também para a Capital. 


   Ao longo da maior parte do século XX, as áreas do bairro permaneceram predominantemente rurais. Os primeiros loteamentos com características urbanas, as vilas Jerusalém (iniciado em 1948) e Santa Angelina (1951), começaram pouco depois da inauguração da Via Anchieta em 1947 e do estabelecimento nas proximidades (mais precisamente no atual Ferrazópolis) de duas importantes indústrias, a Varam Motores e a Brasmotor.  Nessa época, os dois loteamentos tinham em suas vizinhanças propriedades rurais como os sítios das famílias Azevedo Marques, Cardamoni, Camolesi, Tolotti  e ainda os Demarchi, que hoje dão nome ao bairro. 


   Estas duas últimas famílias foram ainda pioneiras  no ramo de restaurantes pelo qual o Demarchi mais tarde adquiriria fama nacional.  O primeiro deles  foi instalado, informalmente, pelo colono Daniel Tolotti no início dos anos 1940, logo seguido pelo Restaurante São Judas (o primeiro oficial), implantado em 1949 por Andrea Demarchi (1).  A clientela desses restaurantes cresceu com a progressiva disseminação do uso do automóvel, que aumentou o fluxo de visitantes oriundos da capital e de áreas vizinhas em busca de descanso e lazer nas áreas verdes de São Bernardo - principalmente a pesca nos braços locais do Rio Grande. Na região da Av. Maria Servidei Demarchi e adjacências, novos restaurantes apareceriam com o tempo, e os prédios dos  mais antigos seriam reconstruídos em escalas muito maiores para receber milhares de visitantes: em 1976, segundo estatísticas da prefeitura, eram 18 mil por final de semana,  a maior parte vinda de fora da cidade (2). Em meados da década de 1980, havia quinze restaurantes  na chamada “Rota do Frango com Polenta”, boa parte de grande porte: o São Judas, o maior deles, chegou a ter capacidade para mais de 4,2 mil pessoas (3), um dos maiores restaurantes do mundo. Nos últimos anos, contudo, com o crescimento e diversificação da concorrência em outros pontos da cidade (redes de fastfood, delivery com pedidos via internet, shoppings com suas enormes praças de alimentação) e as dificuldades com os custos de manutenção de espaços tão amplos, vários desses estabelecimentos  acabaram fechando.


    Ainda mais impactante que a Rota dos Restaurantes, foi a instalação, a partir de 1956, da Volkswagen, maior indústria da cidade, que chegou a possuir dezenas de milhares de empregados, seguida por diversas outras empresas com atividades correlatas.  A partir daí é que a urbanização ali começou a ganhar mais força, levando ao progressivo escasseamento das áreas rurais: na final da década de 50 começaram os loteamentos dos jardins Valdibia e das Acácias; nos anos 60, surgiram os jardins Nossa Senhora de Fátima, Lauro Gomes, Bartira, Andrea Demarchi e Quatro Marias; nos anos 70, a Vila Judite, o núcleo Divinéia e o Terra Nova I; nos anos 80, os núcleos Divinéia II e III;  nos anos 90, os núcleos   Jardim Castelo Branco e o Jardim Ipê IV e na década de 2000, os condomínios Terra Bonita, Aromaz e Residencial Mirante São Bernardo (4). A população do bairro saiu de cerca de 4 mil habitantes, em  1970,  para 26 mil, em 2010, vivendo em mais de 8 mil domicílios particulares (5). 

 

Na imagem, o tradicional Restaurante São Francisco, na Av. Maria Servidei Demarchi, em 1985.

 

Notas

(1) Folha de São Bernardo, 09-12-1978; Medici, Ademir. São Bernardo, Seus Bairros, Sua Gente. 1981. PMSBC.
(2) Subsídios Estatísticos, 1975-6, p. 267. PMSBC.
(3) Folha de São Paulo, 07-01-2016.
(4) Planta do Bairro Demarchi -2004, Seção de Cartografia, SA-PMSBC; Cadastro de Favelas 1977-1982, PMSBC; Dados sobre o Demarchi, SPE-PMSBC, 1990.
(5) Perfil Socioeconômico do Bairro Demarchi. 2018. PMSBC.

 

Pesquisa, texto e Acervo: Rodolfo Scopel Jacobine

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