Nos anos 40, o espaço em que hoje passa a Rua José Benedetti, uma das principais vias do Bairro Santa Terezinha, era a divisa de dois sítios integrantes das colônias da chamada linha São Bernardo Novo, aberta em 1877. Um deles, mais ao norte, era o lote 19 dessa linha, cujos primeiros donos foram Annunzio e Maria Tironi (1), mas que no fim dos anos 40 pertencia aos herdeiros de Paschoal Gastaldo (1871-1944) e Marina Giusti (1875-1942). Paschoal e Marina eram fabricantes de carvão e donos de um estábulo na Rua Tiradentes (2). O outro sítio era uma gleba do lote n. 20 (3), de propriedade de Nelson Benedetti (1911-1991) e Leonilda Romagnoli (1916-2004), possuidores de um bar na esquina da Marechal com a Rua Silva Jardim (4).

Em 1946, as terras vizinhas às dos Benedetti pelo sul, até pouco tempo antes pertencente ao húngaro Stefan Chabo, foram loteadas, originando a Vila Santa Terezinha, marco inicial do bairro. Dois anos depois, talvez estimulado por esse empreendimento, os Benedetti resolveram também fracionar em terrenos urbanos seu sítio, abrindo um loteamento (5), batizado de Chácara Benedetti, que logo se confundiria com a Vila Santa Terezinha. A área da chácara foi dividida em 52 lotes de 320 m2, distribuídos ao longo do lado par da Rua José Benedetti (nome do pai de Nelson), aberta com o loteamento. Quatro desses lotes continham casas remanescentes da propriedade rural. Eram situadas próximas da Rua Tiradentes, sendo que duas delas sobreviveriam pelo menos até os anos 70.

As construções começaram a proliferar já nos primeiros anos do loteamento, apesar do relevo bastante irregular da via, tendo em seu trajeto dois morros e no meio destes o córrego Santa Terezinha (atual Av. Prestes Maia) - onde chegou a existir um lago na altura do cruzamento com a rua. Surgiam especialmente as casas operárias, como as de Antonio Bento, Gaetano Quintino, Carlos Tomás Prado e do casal João Fazolim (pintor) e Varvara Sariev, que ali já residiam em 1951 (6). Haviam construções mesmo no lado ímpar da rua, nas terras que eram da família Gastaldo, que também começavam a ser divididas e retalhadas, com abertura de lotes urbanos em alguns pontos. Em 1957 existiam cerca de 30 casas em ambos os lados da rua, concentrando-se principalmente no trecho entre o córrego Santa Terezinha e o final da via - local onde ela confrontava com o valo que a separava de um vasto terreno ainda vago do espólio do ex-prefeito Wallace Simonsen. Também já havia nessa época uma Fábrica de Móveis onde hoje está o Supermercado Carrefour, a Indústria de Móveis Gastaldo, existente desde pelo menos 1952 (7), criada por filhos de Paschoal e Marina e pelo vizinho Attílio De Marchi, morador da Rua Silva Jardim. Outras fábricas de móveis surgiram na rua pouco tempo depois, como a Indústria de Móveis Capitânio (vizinha a dos Gastaldo), e a Fábrica de Móveis São Dimas, na altura do n. 361 (8).

Com a população em expansão na área (em 1970 restavam por volta de dez terrenos vazios na rua), a região da José Benedetti passaria por algumas intervenções que ampliaram os acessos ao local . Em 1961, as casas de Humberto Gastaldo e Afonso Quintino, na altura do n. 345, foram desapropriadas para a abertura da Rua Maria Cuzziol Bruni (9), que iria ligar-se à Rua Angelo Piccoli. A partir de 1968, com o início do loteamento Jardim Wallace Simonsen no terreno do ex-prefeito, o final da José Benedetti foi interligado à recém aberta Rua Giácomo Versolato, possibilitando uma conexão direta até a altura do Reservatório de água do Bairro Nova Petrópolis. E ainda nessa mesma época foi construída a Av. Prestes Maia, sobre o canalizado córrego Santa Terezinha, permitindo o acesso rápido até o centro da cidade e causando um grande impacto na circulação local. Por fim, no final da década de 80, a Rua Napoleão Laureano seria estendida até a altura do início da José Benedetti, o que também impactou de forma significativa o trânsito na área.

Essas transformações viárias e o consequente aumento do movimento implicariam também na expansão dos estabelecimentos de comércio e serviços nas décadas seguintes, principalmente no trecho próximo da esquina com a Prestes Maia. Por volta de 2011, já havia cerca de 20 desses estabelecimentos, o maior deles o Supermercado Carrefour, inaugurado em 2001, ocupando os espaços onde estavam as fábricas de Móveis Gastaldo e Capitânio.

 

Nas imagens, vemos a Rua José Benedetti na altura do cruzamento com a Av. Prestes Maia em 1968 e em 2023. Na foto de cima à esquerda, está a Fábrica de Móveis Gastaldo e um pouco mais ao fundo a Fábrica de Móveis Capitânio, situadas onde hoje se encontra o Supermercado Carrefour. A foto de 1968 foi tirada durante a Procissão dos Carroceiros daquele ano, época em que o Córrego Santa Terezinha era canalizado.

 

Notas:

(1) Maços de Requerimentos do Núcleo Colonial de S. Bernardo, 1892. Arquivo do Estado de S. Paulo
(2) Livro de Impostos de Indústria e Profissões, 1930. PMSB. Museu de Santo André
(3) Livro de Impostos de Licença, 1947. PMSBC
(4) Originalmente pertencente a Wenceslau Richter - cf. Livro de Matrículas do Núcleo Colonial de São Bernardo -1892-1898. Arquivo do Estado de S. Paulo
(5) Processo Administrativo 2061/48
(6) Processos administrativos 2217/53/, 2477/53, 4700/54; Diário Oficial do Estado de SP, 07-09-1951
(7) Censo Industrial de 1952
(8) Idem, 1952 e 1968
(9) Decreto 4299/61

 

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