Possivelmente o primeiro parque temático a funcionar no Brasil e centro turístico de interesse nacional nos anos 70, a Cidade da Criança ainda é uma referência marcante na memória de muitos dos milhões de meninos e meninas que nela se divertiram ao longo dos anos.

Sua história inicia-se em 1959,  com a criação do Bosque Municipal, em uma  área do atual Jardim do Mar que anteriormente pertencia  à família Matarazzo. Em 1966,  a prefeitura cedeu o bosque à TV Excelsior e nele foi construída a primeira  cidade cenográfica da teledramaturgia brasileira,  utilizada nas  gravações da novela Redenção. Durante o período da produção televisiva,  a cidade cenográfica  tornou-se  alvo de intensa visitação.

O primeiro registro da possibilidade da prefeitura municipal criar no local   uma mini-cidade voltada ao público infantil  foi publicado ainda em  22 de maio de 1966.  Dois dias antes, o Jornal do Brasil noticiou a existência de um projeto capitaneado pelo humorista José de Vasconcelos, que anunciava também a construção  de uma  “cidade para crianças” que prometia ser a “Disneylandia brasileira”. Apesar de ter sido parcialmente construída e de ter recebido  ampla publicidade na imprensa nacional, a chamada Vasconcelândia possuía apenas alguns brinquedos comuns no final  de 1968 -  quando a Cidade da Criança foi inaugurada - e  nunca chegou perto de se tornar realidade na forma descrita em  seus anúncios originais (1).

Em 1968, encerrada a produção da telenovela, a prefeitura reformou a cidade cenográfica, dotando-a de estrutura feita em  alvenaria e de uma série de brinquedos infantis. Em 10 de outubro daquele ano, durante a "Semana da Criança" e ainda no governo Hygino de Lima, a mini-cidade foi oficialmente inaugurada com o nome de "Cidade da Criança" (2).

Uma vez que o conceito do parque envolvia a  idéia de recriar  em miniatura o mundo dos adultos, na inauguração da Cidade da Criança,  aconteceu também a posse de um prefeito-mirim, figura que já existia anteriormente, ligada a outro projeto da prefeitura,  e que a partir daí ficou definitivamente atrelada ao parque. O prefeito-mirim tinha mandato de um ano e,  além de contar com uma mini-prefeitura, era acompanhado de vice-prefeito e  outros cargos mirins. Em 1977, os prefeitos-mirins  passaram a ser escolhidos por voto direto, sendo que qualquer criança, com  menos de 12 anos de idade, podia participar da eleição, votando ou se candidatando ao cargo.

Em 1970, na administração de Aldino Pinotti, o parque foi reformado e reinaugurado (3). Entre 1971 (4) e 1976, a Cidade da Criança, sob direção de Rubens Freire, passou por um período de expansão e constante inovação. Brinquedos modernos e inteligentes, a maioria deles projetada pelo engenheiro Fídia Zamboni, foram incorporados ao parque, quase sempre reforçando o conceito de cidade-mirim  e incluindo aspectos educativos. São deste período os brinquedos que acabaram se ligando definitivamente à identidade do parque: o Avião DC-3, em 1971, o Trenó Aquático, em 72, a Mini-Região Amazônica e o Mini-teleférico, em 73, o Minhocão, o Mini-submarino e  a Casa Maluca, em 75.  Ainda nesta fase, era marcante a presença dos bonecos dos personagens de Maurício de Souza, que  além de circularem pelo local, divertindo as crianças, ainda estavam ligados aos esforços de divulgação do parque. Esta última atração, assim como outros brinquedos e equipamentos, era diretamente inspirada em similar existente na Disneylândia (5).

Por volta  da metade da década de 70,  a Cidade da Criança já era um ponto turístico conhecido nacionalmente, recebendo por volta  de 800 mil visitantes/ano. Veículos de imprensa de diversas regiões do país, como o Correio Braziliense (DF), O Globo (RJ), e  Diário do Paraná (PR), fizeram reportagens sobre ela (6).  Este público extraordinário, que,  especialmente nos fins de semana,  chegava à cidade em excursões advindas de todas as partes do país (7), fazia  da Cidade da Criança um dos parques  mais populares do Brasil, à altura do recém-inaugurado Playcenter (1973), que nos anos seguintes se firmaria como o maior do país ( 8 ).
No decorrer das décadas seguintes, devido, entre outros fatores,  à concorrência de outros parques e ao reduzido número  de inovações expressivas, o interesse pela Cidade da Criança foi progressivamente diminuindo (9). Em 1985, por exemplo, o parque  registrou 490 mil visitantes (10),  e em 2000, cerca de 150 mil (11). Em  outubro  de 2005, depois de ter vários de seus brinquedos  desativados,  o parque fechou para reformas,  voltando a funcionar regularmente apenas em  2010,  depois de ter sido repensado e reequipado (12).

 


Acima,  o  Minhocão em 1986. Inaugurado em 1975, o brinquedo era famoso no parque.   Abaixo: Escorregador . Década de 70.

 

  

Notas:


(1) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 22-05-1966; Cf. Jornal do Brasil , 20-5-1966, p.10. cad.1;  24-11-1968,  cad 1. p. 71. A expressão  “Cidade da Criança” foi utilizada na década de 1960 para denominar diversos orfanatos.  Em 1963, em Parnamirim (RN), em uma antiga base militar norte-americana,  existiu um projeto deste tipo para cinco mil crianças , o qual  previa também funções educativas e  até mesmo a construção de mini-cidade com  a simulação de administração executada pelas crianças, a qual  incluía também o cargo de prefeito mirim (Jornal do Brasil, 6/1/63 p. 14. Cad. 1; 21/2/1963 p. 10 . Cad 1.).  O governo João Goulart chegou a criar um grupo de trabalho para assessorar  o governo do Rio Grande do Norte na condução do empreendimento que não  chegou a sair do papel (Jornal do Brasil, 4-12-1962. P.10. cad 1.)   

(2) - Cf. Idem, 13-10-1968. p.7.  

(3) - Cf. idem, 12-07-1970. p.2.

(4) - Neste momento o parque contava com 85 brinquedos e  envolvia cerca de mil pessoas em sua infra-estrutura. Cf. Jornal do Brasil, 15-12-1971

(5) - Cf. Depoimento de Fidia Zamboni dado ao Centro de Memória gravado  em 05-05-2009; Jornal do Brasil , 20-5-1966, p.10. cad.1.

(6) - Cf. O Globo, 08-05-1975, Diário do Paraná, 26-01-1975, Correio Brasiliense, 19-06-1977

(7) - Cf. Jornal do Brasil, 28-12-1976;18-12-1977

(8) - Cf. Em 1973, o parque já alcançava a média de 20 mil  visitantes semanais, contando então já com 105 brinquedos CF. A Tribuna, 15-06 -1973.

(9) - Cf. Revista Livre Mercado, março,1998.

(10) - Cf. Jornal Diário do Grande ABC, 26-10-1986. Cad. C.  p.2

(11) - Cf. Idem, 20-05-2001, p.6 Cad. Sete Cidades.

(12) - Cf. Idem, 7/10/2005, p.1. Cad. Sete Cidades;  19/12/2008, p.3. Cad. Sete Cidades;  20/12/2008, p.6, Cad. Sete Cidades;  8/1/2010, Cad. Nossa Região.

 

 

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