Talvez apenas os mais velhos lembrem que a avenida hoje com o nome de Capitão Casa, importante via que margeia os bairros Assunção, Demarchi e dos Casa, foi no passado -até 1964- conhecida como estrada do Portão do Tiro. As origens desta rota remetem a cerca de 1880, pelo menos: um mapa dessa época já apontava uma caminho com trajeto similar,atravessando diversos sítios que faziam parte da linha colonial Jurubatuba. O caminho ia desde o entroncamento inicial com a via que seria hoje a Rua de Pinedo até a altura do Sítio dos Casa - num tempo em que a célebre Capela Santo Antônio, atual ponto final da avenida, sequer existia (o primeiro prédio dela foi inaugurado em 1900).

A razão do nome “Portão do Tiro” é obscura. Nos anos 70, o jornalista Ademir Medici entrevistou um antigo habitante, que ouvira dizer de uma briga entre moradores que resultara no referido tiro. O litígio teria ocorrido na altura de onde existia a antiga chácara de Alcides Queiroga, atual Jardim Lavínia (1). Por outro lado, o memorialista Atilio Pessotti , que circulava na estrada durante sua infância e juventude ,entre as décadas de 20 e 40,mostra que já naquela época ela era conhecida por esse nome e crê que o denominativo é oriundo de “algum tipo de tocaia, ali corrida.” (2)

A via era então , como descreve Pessotti, “estreita, bem marcada pelas rodas dos carros e carroças” e sujeita a inundações durante chuva forte, quando podia se ouvir nos arredores: “no Portão do Tiro não dá passagem, a água dá para o joelho” . Os bosques predominavam na paisagem, sem vestígios de cultivos dos sítios. Embora o memorialista não mencione, havia algumas construções, tanto no início da rota, em terras pertencentes a Giuseppe Sabatini (trecho então visto como parte da Rua de Pinedo), como em seu final , nas terras perto da capela, onde morava Luiz Casa, capitão da guarda nacional e benfeitor do bairro, que seria homenageado na denominação da via (3).

A partir dos anos 50, o cenário local começaria a mudar: novos moradores chegaram com o início do loteamento do Jardim Lavínia, nas terras de Queiroga, e, no final daquela década, a estrada passou por obras de alargamento (4) , seguidas, pouco tempo depois, pela pavimentação. Já em abril de 1961, o iuguslavo Jorge Singer instalou nas antigas terras de Sabatini o famoso Restaurante Leão de Ouro (5). Posicionado em um espaço de grande visibilidade, perto da Via Anchieta e de indústrias como a Volks e a Brastemp, o restaurante seria por muito tempo um dos principais pontos de referência local e um dos estabelecimentos do ramo mais conhecidos da cidade.

Três anos depois da inauguração do Leão de Ouro, a estrada foi definitivamente inserida dentro do perímetro urbano da cidade, sendo rebatizada como Avenida Capitão Casa (6). Com isso, a ocupação residencial aceleraria a partir do fim dos anos 60, com o loteamento de diversas áreas em suas margens, muitas delas pertencentes a proprietários de fora da cidade: entre 1968-9, 37 casas foram edificadas em um único empreendimento imobiliário na margem par da via, em terreno de José Waldomiro da Silva e Demétrio Bassile, situado entre o Jardim Lavínia e a esquina com a Rua Comendador Alípio Pedro Ronchetti.

O maior loteamento da área, o Parque Espacial, começaria por volta de 1972, em terras de Norma Yasbech Sabat, Elias Assad Jr e Renato Assad (estes também proprietários da Cerâmica Assad, no Piraporinha). Com um enorme terreno de 550 mil quadrados, o Parque Espacial cresceu muito na década de 80, preenchendo boa parte das duas margens da Capitão Casa, que se transformou na via central do parque, concentrando o comércio local. Com isso, a maioria dos lotes da avenida acabaram ocupados por pequenos estabelecimentos comerciais e de serviços de variados ramos, sendo atualmente uma das principais rotas com essas características em toda a cidade.

 

Acima, o trecho final da Capitão Casa em 1985, próximo à Capela Santo Antonio e à Paróquia São Benedito ; abaixo, o início da Via, em 1971,

onde vemos o histórico Restaurante Leão de Ouro.


Notas:
1 - Medici, A. São Bernardo, Seus Bairros, Sua Gente.PMSBC, 1981
2 - Pessotti, A. Vila de São Bernardo. PMSBC, 1982.
3 - Orsi, I e PAIVA, E. Famílias Ilustres e Tradicionais de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo, Edições Memória Nacional, 1994. v. 2.
4 - Decreto PMSBC 132/57
5 - Orsi, I. Famílias Ilustres e Tradicionais - São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo, Edições Preservação da Memória Nacional, 1990. v. 1.
6 - Decreto PMSBC 729/64.
7 - Decreto 2890/72; Jornal A Tribuna, 18-06-1962

 

 

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