EM SÃO BERNARDO TEM ÍNDIO?

A conhecida união do português João Ramalho com Bartira, de origem indígena, filha do cacique Tibiriçá, é registro histórico lendário da miscigenação entre diferentes etnias em nossa região.

Nossa cidade também abriga povos indígenas no território: pessoas remanescentes dos povos Guarani e que estão aldeadas, apesar de existirem também os indígenas que vivem em área urbana. Aqui existem duas aldeias indígenas: Tekoa Guyrapaju e Tekoa Kuaray Rexakã (Brilho do Sol), localizadas na região do Pós-Balsa. No final do texto, falaremos mais sobre ambas.

Essas duas “tekoa” (aldeias) fazem parte de um grupo de sete aldeias que foram criadas dentro da terra indígena Tenondé-Porã, onde vivem mais de 1.500 pessoas – uma área de cerca de 160 km², que se estende pelos municípios de São Bernardo do Campo, São Paulo, São Vicente e Mongaguá. 

Os Guaranis Mbya, povo indígena que vive na região, aprendem primeiro a falar o guarani e, por volta dos seis anos de idade, passam a aprender o português. Circulam a pé por trilhas no meio da mata e têm como costume viajar para aldeias distantes no litoral e até mesmo para outros países da América do Sul, além de receberem visitantes também.

As pessoas que estão nessas aldeias ainda preservam os costumes dos antepassados - tais como os cantos, danças e também o artesanato -, que, apesar da influência do branco e da modernidade, ainda guardam características bastante peculiares, identificando sua origem e sua trajetória na nossa região. 

Existe uma hierarquia própria, assim como há em nossas cidades, com seus líderes políticos e espirituais. A língua falada é o guarani, que é bem fácil de aprender. Ao visitá-los, conheça um pouco das histórias desse povo corajoso e, ao mesmo tempo, muito hospitaleiro e simpático.

A terra indígena Tenondé-Porã tem uma extensão aproximada de 15.969 hectares e está situada no extremo sul do município de São Paulo, abrangendo partes de São Bernardo do Campo, Mongaguá e outros municípios da Baixada Santista. Atualmente, como dito acima, existem sete "tekoa". As duas mais populosas são a Tenonde-Porã (também conhecida por “Aldeia da Barragem”), e a Krukutu.

Ao longo de nosso território, junto às belezas das matas e rios, há diversas localidades que outrora também já foram aldeias, assim como antigas trilhas que até hoje são utilizadas e onde é coletado material para artesanato, plantas e ervas medicinais, compondo uma extensa rede de caminhos que vão até as aldeias Guarani no litoral.

É importante esclarecer que já existe uma frequência significativa de visitas à terra indígena Tenondé Porã. Em razão da proximidade com a mais populosa área urbana do país, há uma grande quantidade de não-indígenas que querem conhecer as aldeias. Além dessas visitas que são feitas sob consentimento, há também  ingressos e visitas realizadas sem autorização no interior das terras indígenas. Tais ingressos foram facilitados pela construção, ao longo do último século, de muitas estradas, ferrovias, linhas de transmissão, entre outros, processo relacionado a um antigo histórico de colonização, que promoveu a ocupação, por não-indígenas, de muitas regiões nesses territórios tradicionais. 

O povo Guarani habita a região da Mata Atlântica meridional há milênios, mas, nos últimos 500 anos, essa região, que para os índios não tem fronteiras e que é chamada de Yvyrupa (leito ou plataforma terrestre), foi imensamente devastada pelos não-indígenas, os "jurua" (aqueles que tem “cabelo na boca”). Nós, os jurua, criamos várias fronteiras, de países e estados. Com isso, os guaranis espalharam-se em aldeias separadas por essas fronteiras, desde o estado do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, mas também na região noroeste da Argentina e na parte oriental do Paraguai.

Apesar de, outrora, os bandeirantes de São Paulo terem quase exterminado os povos originários que viviam na região, seus descendentes sobreviveram, muitas vezes fugindo e se escondendo em matas inacessíveis, mas sempre que possível, voltando para as aldeias nas proximidades da Serra do Mar. Há poucos registros das fugas e da resistência indígena na região. Mesmo assim, existem alguns, como a documentação histórica proveniente de escritos do pintor e historiador Benedito Calixto. Esse documento testemunha a intensa presença do povo Guarani na “Serra de Santa Cruz dos Parelheiros” desde a virada do século XIX para o século XX.

É na região de ligação entre o litoral e o planalto que se encontram trilhas milenares e onde foram instaladas diversas aldeias. Apesar de todo o impacto gerado pelos "jurua" nos tempos recentes, como a construção de ferrovias e o desmatamento para a produção de carvão que marcaram o início do século XX, as aldeias resistem. Um território que serve de lar para todos, que, mesmo espalhados pela Yvyrupa, seguem atravessando as fronteiras criadas, algo que sempre fizeram desde antes da chegada dos europeus.

Voltando agora a nossa atenção às "tekoa" no Pós-Balsa, falaremos primeiro da tekoa Guyrapaju, habitada atualmente por cerca de 100 pessoas. Está localizada próxima a um dos braços da Represa Billings, em uma região muito bonita da Mata Atlântica, com pequenos cursos d’água em meio a trilhas que ligam as casas da aldeia. A comunidade tem buscado diversas alternativas de manejo ecológico de resíduos e gestão ambiental da área, o que propicia atividades de visitação voltadas não só para conhecer essas iniciativas, como também para participar dos mutirões promovidos pelas lideranças.

A tekoa Kuaray Rexakã (Brilho do Sol), por seu turno,  localiza-se bem ao norte no território indígena, às margens da Represa Billings. É habitada atualmente por cerca de vinte pessoas. A comunidade realiza mutirões para construção de áreas coletivas, em que está aberta a possibilidade de participação de parceiros não-indígenas, mas tratam-se de iniciativas e convites que partem em geral das lideranças da aldeia.

Fonte: Atlas Socioambiental de São Bernardo do Campo: https://www.saobernardo.sp.gov.br/web/sma/atlas

Crédito das fotos: https://tenondepora.org.br/

 

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