Foto de 1948Foi em 1948 que a ex-prefeita e então presidente da Câmara dos Vereadores, Tereza Delta, lançou a ideia de construção de um hospital na cidade, que até então não possuía nenhum estabelecimento do gênero para atender seus enfermos, a despeito de sua população que já passava de 20 mil habitantes. Para financiar o projeto, Tereza promoveu a criação de uma Sociedade Beneficente denominada Padre Anchieta para a arrecadação e gestão dos recursos. O vereador e industrial Atílio Zóboli estava a cargo da presidência da entidade, que chegou a contar com 59 membros (1). A sociedade logo adquiriu um terreno de 4 mil m2 no fim da Rua Silva Jardim e ainda em 1948 o prédio já estava em construção, a princípio a cargo do engenheiro Alberto Galvão (2). Além da contribuição dos munícipes e da própria prefeitura, os recursos para obra vinham também de verbas estaduais, conseguidas pela influência da então vereadora e depois deputada estadual junto ao governo paulista: com efeito Tereza era do mesmo partido (PSP) do governador Adhemar de Barros e do sucessor Lucas Nogueira Garcez.

Em fins de dezembro de 1949, num mutirão popular, o prédio do hospital recebia sua cobertura de telhas (3) e, para comemorar o fato, uma cerimônia festiva - com direito a ”chopada” - foi realizada. Na ocasião, discursaram Tereza, o também vereador Luiz Cione Castro e o empresário Ubirajara Keutenedjian, presidente da Varam Motores, um dos que haviam contribuído financeiramente para o empreendimento. Apesar da expectativa que a obra fosse finalizada em breve - como afirmava nota de maio daquele do jornal Folha do Povo (4), ela estava longe de acabar. Um ano depois, a já deputada Tereza, em solicitação de recursos ao governo estadual, afirma que eram necessários ainda um milhão de cruzeiros para o término do hospital. Àquela altura, o atraso na obra fortalecia o discurso de opositores políticos de Tereza - entre eles o antigo aliado e então prefeito José Fornari - que criticavam a gestão dos recursos no empreendimento (5). 

Depois de mais um ano de atraso, a associação acabaria doando a construção e o terreno ao governo do estado, que se comprometeria a finalizar a obra - faltava ainda concluir as instalações hidráulicas, elétricas e o acabamento de pisos e paredes (6). A demora na licitação para as obras (7) fez com que o hospital só ficasse pronto em 1958, já durante a gestão de Jânio Quadros, que esteve na cidade em 20 agosto daquele ano para inaugurá-lo, com 46 leitos (8). Porém, nos anos seguintes à inauguração do local, mesmo com a gestão do governo estadual, o nosocômio enfrentaria problemas de falta de recursos. Já em 1960 reportagens na imprensa falavam das condições precárias no local, mencionando falta de mão de obra, materiais e equipamentos, enquanto crescia o número de pacientes atendidos, que passava de 100 por dia (9).  No início de 1965, os problemas se agravaram com os danos causados nas instalações em virtude das fortes chuvas de verão e em julho daquele ano o hospital foi fechado (10).  Com dificuldade para solucionar os problemas, o governo estadual firmou em agosto um convênio com a Associação das Senhoras Evangélicas de S. Paulo, entidade que assumiria a gestão do Anchieta, colocando-o em funcionamento em janeiro de 1966. A enfermeira e professora Myrthes Silva, que supervisionou a reforma, descreveu em depoimento (11) os trabalhos realizados na ocasião: “trabalhava de manhã no (Hospital) Santa Cecília e à tarde vinha para cá para orientar a reforma do hospital, porque estava muito estragado. Encontrei muito aparelho de oxigênio jogado num galinheiro que tinha no fundo. Era um hospital bem estruturado, a cozinha funcionava a óleo diesel, tinha um tanque enorme de óleo, estava tudo desativado. Precisou ser feita uma reforma muito grande (...). Eu consegui, através de um amigo, convênio com o Hospital das Clínicas para consertar o material cirúrgico lá, aparelho de oxigênio, tudo foi consertado no Hospital das Clinicas".

A Associação das Senhoras Evangélicas geriu o hospital até novembro de 1971 (12), quando um novo convênio foi firmado entre o estado e a recém-fundada Faculdade de Medicina da Fundação Universitária do ABC. Com isso, o Anchieta passou a partir do ano seguinte a ser um hospital escola, a princípio com alunos do 3º ano em diante tendo aulas práticas e estagiando em suas instalações. Na ocasião, 60 leitos estavam em funcionamento, e também clínicas médicas e centros cirúrgico e obstétrico.

Foto de 1997A fundação permaneceu na gestão do Anchieta mesmo após o hospital ser municipalizado, em março de 1994, processo que veio acompanhado de uma nova reforma, com ampliação do número de leitos e também do centro cirúrgico.  Em 2001, o hospital se tornaria o primeiro centro de alta complexidade em oncologia da região (13), efetuando prevenção, diagnósticos e tratamentos de quimioterapia.  Recentemente, o centro seria beneficiado com a instalação de serviço de radioterapia público, único no ABC, inaugurado em dezembro de 2021. Antes disso, porém, em 2020, o hospital foi também estruturado para atender pacientes da pandemia ainda em curso, por meio da implantação de leitos de UTI e enfermaria (14). 

 

Nas imagens, vemos o hospital ainda em construção em fins de 1948 e, posteriormente, ele em setembro de 1997.

 

(1) Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOESP), 10-06-1952
(2) Folha do Povo, 19-02-1949.
(3) idem 06-01-1950; Jornal de Notícias, 03 -01-1950.
(4) Folha do Povo, 26-05-1950
(5) idem 14-10-1951, Jornal de Notícias 04-10-1951.       
(6) Lei Estadual 1695, 18-08-1952.
(7) DOESP, 11-05-1954.
(8) A Vanguarda, 20-08-1958
(9) idem, 23-01-1960, 26-03-1960, 17-05; O Estado de São Paulo, 18-03-1960.
(10) O Estado de São Paulo, 31-12-1965; DOESP, 13-08-1965
(11) Depoimento gravado dado ao Centro de Memória em 2011.
(12) Folha de São Bernardo, 19-11-1971
(13) Jornal da Manhã 19-01-1995; Diário do Grande ABC 18 e 26-06-2001
(14) Diário do Grande ABC, 03-12-2021; Diário Regional 01-05-2020


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