Contos Adaptados Para a Nossa Língua

Como Nasceram os Rios

Dizem que antigamente era tudo seco. Não tinha rio, não tinha água, não tinha nada. A Juriti era a dona da água e guardava tudo em três grandes tambores.
Os três filhos do pajé estavam com muita sede e foram pedir água para o passarinho. Mas a Juriti não deu e ainda disse:
 - O pai de vocês é Pajé poderoso! Porque não dá água para vocês? Ele que arrume água para seus filhos!
Os meninos voltaram para casa chorando muito. O pajé perguntou por que estavam chorando, os pequenos contaram e o índio disse:
 - Não quero vocês andando naqueles lados. É muito perigoso! Tem peixe grande dentro dos tambores.
Mas eles não ouviram o pai e foram de novo até a casa da Juriti. Quando chegaram lá, quebraram os tambores e saíram jogando água para tudo que é lado. A Juriti ficou com raiva e mandou o peixe grande atrás dos meninos. Os irmãos correram, mas o peixe engoliu um dos índios. O coitado ficou só com as pernas fora da boca do peixe.
Os outros dois corriam e jogavam água. Com isso foram formando rios e cachoeiras. O peixe grande foi atrás também levando água e fez o rio Xingu.
Correram muito até chegar ao Amazonas. Lá os meninos conseguiram tirar o irmão da boca do peixe. Cortaram suas pernas, pegaram o sangue e sopraram. O índio voltou a viver. Depois eles jogaram toda água que sobrou no Amazonas e o rio ficou muito largo.
Os índios voltaram para casa e contaram ao pai que tinham quebrado os tambores.
E foi assim que os rios se formaram.

 

Como Surgiu a Lua


Num tempo de outro tempo, não existiam estrelas ou Lua. A noite era tão escura que todos tinham medo de sair. Ficavam nas ocas com pavor da noite escura.
Na tribo, uma índia não tinha medo. Ela era linda e tinha a pele muito clara diferente das outras mulheres da tribo. Por causa dessa diferença, o povo da aldeia olhava para ela com desconfiança. Os índios não queriam namorá-la e as índias nem conversavam com ela. A índia vivia numa solidão terrível.
Sentindo-se muito só, começou a andar pela noite escura. Todos da tribo ficavam espantados. Principalmente quando ela voltava de seus passeios e dizia que não havia perigo. Não havia o que temer.
Nessa mesma aldeia tinha outra índia. Uma criatura feia e estranha que tinha muita inveja da índia clara. Com raiva da outra, resolveu sair à noite também. Mas não conseguia enxergar naquela escuridão e terminou cortando os pés nas pedras e espinhos. Ficou com mais raiva da outra. Cheia de rancor e inveja ela foi conversar com a cascavel.
 - Cascavel, quero que me faça um favor. Você conhece aquela índia clara?
 
E a cobra respondeu enrolada em um galho:
 - Aquela que anda pela noite?
- Essa mesmo! – respondeu a índia – Quero que você morda os seus pés para que ela fique feia e velha!
 Por pura maldade, a cascavel aceitou o pedido. Ficou de tocaia esperando o passeio da índia clara. Quando ela passou, deu o bote. Mas a cobra não sabia que a índia tinha os pés calçados com duas conchas. A cascavel mordeu as conchas e seus dentes se quebraram. A cobra ficou com muita dor e começou a gritar e a xingar muito. E a índia clara perguntou:
 - O que está acontecendo? Por que quis me morder?
 E a cascavel respondeu com raiva:
 - Porque uma índia me pediu. Ela não gosta de você e quer que você fique feia e velha como ela. Ninguém gosta de você!
 A índia clara ficou muito triste. Não queria viver junto de pessoas que não gostassem dela. E não aguentava mais ser diferente dos outros. Querendo resolver essa situação, ela fez uma escada com cipós trançados. Depois pediu para sua amiga coruja que voasse muito alto e amarrasse a ponta da escada no céu. A ave fez como a índia pediu. A mulher começou a subir. Subiu muito até chegar ao alto da escada. Chegando ao céu estava tão exausta que dormiu numa nuvem. 
Num passe de mágica, a índia se transformou num dos mais belos astros. Redonda, clara e iluminada. Era a Lua, que encheu de luz a noite escura. A índia feia olhou para o raio de luar e ficou cega. Ficou com tanta vergonha que foi se esconder com a cascavel em um buraco.
Os índios se arrependeram de desprezar a índia. Eles passaram a adorar a Lua, que enchia de luz a noite. Alguns apaixonados sonhavam em construir outra escada de cipós para poder ir ao céu encontrar a bela índia.
 
Para conhecer outras lendas indígenas, sugerimos a leitura de Contos Indígenas Brasileiros, do escritor Daniel Munduruku. 

 

Acompanhe nossas redes sociais

FACEBOOK: www.facebook.com/saobernardo.cultura

INSTAGRAM: www.instagram.com/cultura.saobernardo