O primeiro jornal  publicado no antigo município de São Bernardo denominou-se  “O Monitor”  e circulou entre agosto de  1904 e janeiro de 1906. Assim como todos os outros jornais  que surgiriam até o início da década de 1920,  era um semanário de apenas quatro páginas. O proprietário inicial foi o  jornalista paulistano Antonio da Silva Santos. A tipografia estava instalada na Rua Marechal Deodoro e o financiamento do empreendimento dependia,  em grande parte,  das verbas advindas  das publicações oficiais da Câmara Municipal , circunstância que afetou diversos outros periódicos locais, ao menos até a década de 1960. Sobretudo por este motivo, o jornal mantinha uma linha editorial favorável à administração municipal. Ainda assim, os problemas financeiros foram  responsáveis pelo fim do jornal, três meses após sua aquisição por um  italiano residente em Piracicaba, Vicente Bartoli(1).

Em 1911, o antigo redator de “O Monitor” – Joaquim Lopes da Silva -  fundou “O Progresso”, também impresso em uma pequena tipografia, no terreno que corresponde ao atual nº 1349 da Rua Marechal Deodoro, a menos de 20 metros da sede da Câmara Municipal, a qual também  publicou   atos oficiais neste  semanário, ajudando a financiar seu funcionamento.   Lopes da Silva havia sido delegado e professor no município e seu jornal publicava notícias sobre a sociedade e o cotidiano local, comentários sobre temas nacionais, atos oficiais da prefeitura, anúncios de comerciantes da região, além de poesias, contos e crônicas. A última edição conhecida do jornal circulou em maio de 1912  (2).   Ainda em relação ao período 1904-1912, existem  indicações  muito sumárias de que mais três outros jornais teriam existido: “O Gaiato” (1906), “O Movimento”  (1906), e “O São Bernardo” (1911), o qual teria rivalizado e polemizado com “O Progresso” (3) .  Já “O Município de S. Bernardo”  existiu entre  1916 e 1918 (4),   pertenceu a Nicolau Arnoni ,e dele resta  um único exemplar preservado no Centro de Memória de São Bernardo do Campo. 

Circulando entre 1925 e 1934,  a “Folha do Povo” foi a primeira publicação de vida duradoura a surgir na região. Esteve, por muitos anos ,  sob a direção do já citado Nicolau Arnoni. Apoiou  o prefeito Saladino Cardoso Franco,  do  Partido Republicano Paulista,  no final da década de 1920, tendo sua circulação interrompida por alguns meses, por ocasião da revolução de 1930, a qual  alijou o referido grupo político do poder. Logo após a revolução,  com a nomeação de Armando Setti - do Partido Democrático -  como novo prefeito, surge o jornal “O Democrata”, orgão de apoio do novo governo. Era dirigido por Luiz Berne  e Amadeu Nogueira (5) .  
Em 1931, após deixar “O Democrata”, Berne fundou o  “O imparcial”, que pouco tempo  depois deixou de circular. Em  dezembro de 1933, este  jornal foi reativado sob direção do português residente na atual região central de São Bernardo do Campo,  João Domingues Tavares. “O Imparcial” circulou até 1947 e se notabilizou por agudas críticas feitas à prefeitura municipal nas administrações de Felício Laurito e José de Carvalho Sobrinho (6).

Entre  1932, surgiu   “O São Bernardo”, sob o comando de José Tabarelli (7). Devido  à muito maior importância econômica, política e demográfica do Distrito de Santo André,  a grande  maioria dos jornais da região durante as  décadas de 1920, 1930 e 1940 estavam sediados neste distrito e reservavam a maior parte de seu espaço à esta localidade, ainda que a região central da atual São Bernardo do Campo permanecesse como sede administrativa oficial do antigo  município.  Este também era o caso de “O São Bernardo “ , que  existiu até 1951 e  teve seu nome alterado para “Borda do Campo” em 1944. 

As rivalidades políticas que marcaram o município e o país no início da década de 1930 repercutiram com força no impressa local. Em 1933, com a chegada de Felício Laurito à prefeitura, o jornal “Folha do Povo” voltaria a apoiar  a administração municipal   e também  a publicar seus atos oficiais.  Na oposição, o “Imparcial” fustigava o novo prefeito e também Nicolau Arnoni,  que deixara a direção da “Folha do povo” em fevereiro de 1934 e era funcionário da prefeitura.  As animosidades   atingiram seu máximo em 23 de novembro de 1934, quando João Domingues Tavares foi espancando  por Nicolau e seu irmão no centro do distrito de Santo André ( 8 ).  

Em 1937,  surge “O Município”, fundado  por João Netto Caldeira, autor do primeiro livro dedicado exclusivamente à região, o “Album de São Bernardo”. Caldeira havia sido autor de diversos almanaques sobre municípios paulistas e sua história, e logo após lançar seu livro sobre a cidade iniciou a publicação do jornal, que foi o primeiro a contar com uma pequena seção dedicada à memória municipal (9).  A publicação foi fechada no início de 1938, após enfrentar problemas com a censura do recém-criado  Estado Novo. 

O periódicos constituem uma fonte documental  preciosa para a compreensão da história política, econômica e cultural do município  na primeira metade do século XX.  Ainda que, no período considerado , o uso de fotografias ainda fosse muito restrito,  sua presença em algumas edições, a partir de meados da década de 1920, contribuiu também para enriquecer a iconografia histórica da região.

 

As duas  imagens que ilustram este texto foram publicadas pelos  jornais da época.  Acima está uma  fotografia  que aparece edição de  8 abril de 1939 de   “O Imparcial “. É a mais antiga imagem existente do prédio da esquina da esquina da Rua Dr. Fláquer com a Rua Marechal Deodoro, o qual viria abrigar os primeiros encontros do grupo político que  trabalharia para emancipação do município, em 1944. Abaixo está uma imagem da Cia. Brasileira de Vidro Plano, cujas instalações haviam abrigado, nas décadas anteriores, a primeira fábrica de móveis de São Bernardo - pertencente a João Basso, que ficava na altura do atual  nº 2618, da Rua Marechal Deodoro. Foi publicada pelo jornal “O São Bernardo”, na edição de 4 de abril 1943 (10).  

 

Notas: 

(1) - Cf. Petrolli, Valdenizio. História da Imprensa no ABC Paulista. p.2-5. São Bernardo do Campo, Universidade Metodista, 1983. 

(2) - Cf. Jornal “O Progresso”, 28/5/1911, p.1; 21/4/1912, p. 1-4; xx/05/1912, p.1-4.

(3) - Cf. Jornal Borda do Campo, 11/9/1949, p.1.

(4) - Cf. Jornal “O Município de São Bernardo”, 22/9/1918, p.1.

(5) - Cf. Petrolli, Valdenizio. História da Imprensa no ABC Paulista. p.22-24. São Bernardo do Campo, Universidade Metodista, 1983.   

(6) - Cf. Jornal “O Imparcial”, 20/12/1933, p.1; 13/12/1934, p.1 ;20/12/1934, p.1-2. 

(7) - Cf. Petrolli, Valdenizio. História da Imprensa no ABC Paulista. p.25. São Bernardo do Campo, Universidade Metodista, 1983.   

(8) - Cf.  Jornal “O Imparcial”, 1/11/1934 p.1, 15/11/1934 p.1, 29/11/1934 p.1 ; Jornal “Folha do Povo”, 25/03/1934. p.1. , 11/03/1934. p.1. ,  28/11/1934. p.1.   

(9) - Cf. Jornal “O Município”, 30/05/1937. p.1.

(10) - O Centro de Memória de São Bernardo do Campo conserva em seu acervo  coleções de quase todos os jornais citados e os disponibiliza para consulta em sua sede.

 

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