Um dos homens mais longevos de toda a história da cidade e colaborador do Centro de Memória de São Bernardo, João Gava completa 107 anos no próximo dia 26. Nascido no antigo Bairro dos Meninos (Rudge Ramos) em 26 de abril de 1913, filho de um carroceiro e uma camponesa, Gava com um ano de idade se mudou para Diadema onde seu pai foi trabalhar fazendo carvão. Dez anos depois a família se transferiria para a Vila de São Bernardo, numa casa situada na Rua Jurubatuba, esquina com a Rua Rio Branco. Ele logo começaria a trabalhar na velha fábrica de móveis de José Pelosini, depois de indicação do vizinho Antonio Duzi, onde aprendeu na prática o ofício de marceneiro. Trabalharia em diversas outras fábricas de móveis da cidade: Corazza, Coppini, Cassetari e outras.
 
Em depoimento dado ao Centro de Memória em 2013, Gava descreveu interessantes aspectos de sua vida na cidade na época de sua juventude, nas longínquas décadas de 1920 e 30: "Eu saia da fábrica de tarde, ia em casa depressa, pegava a varinha, anzol, fazia uma massinha de pão, ia pescar lambari. Eu costumava pescar ali na ponte da Rua Rio Branco" (por onde passa o Rio dos Meninos, hoje canalizado). "Pescava lambari, pescava bagre, com a peneira a gente pegava camarão, camarãozinho pequeno de água doce. Minha mãe, outras mulheres, iam lavar roupa no rio". 
 
"O primeiro carro que eu comprei, eu comprei do dono da empresa de ônibus S. Bernardo-Santo André. Paguei um conto de reis, era um Ford, que chamavam guarda-louça. Fechado de vidro, quatro portas, era de 1929. Naquele tempo não precisava carta, não precisava nada. Eu não sabia dirigir, mas devagarinho fui aprendendo, porque em São Bernardo as ruas eram todas desertas, era tudo terra" 
 
Embora tendo sido marceneiro a maior parte de sua vida, João chegou a trabalhar como vendedor de rádios (e outros equipamentos) em um curto período de tempo, sendo um pioneiro na cidade na atividade: "eu trabalhei mais ou menos 3 anos vendendo rádios. São Bernardo naquele tempo só tinha luz elétrica na Marechal, então eu vendia, para quem não tinha luz, gerador, para eu poder vender o rádio.(...) Vendia uma média de 10 a 15 rádios por mês. Eu forçava , as vezes as pessoas não se interessavam, mas eu levava o rádio para eles, pra ouvir o rádio, ai acabavam comprando". A loja fecharia durante a 2ª Guerra Mundial, devido a impossibilidade de importar os aparelhos. Com isso ele voltou definitivamente a trabalhar como marceneiro. 
 
João se casou três vezes e teve um filho, Antonio, já falecido. Atualmente vive em Santos, com a enteada Guiomar, filha de sua segunda esposa. Nos últimos anos, sua vitalidade centenária se tornou notória e ele ganhou espaço em veículos da imprensa regional, trazendo suas ricas experiências a um vasto público. Também se tornou um assíduo colaborador do Centro de Memória de São Bernardo, compartilhando em reuniões mensais suas histórias sobre os mais variados assuntos com outros antigos moradores, por meio do projeto "Conversas de Memória".  Reuniões sempre registradas em vídeo, para que essas experiências únicas possam atravessar gerações.
 
Nas imagens vemos acima João durante seu depoimento em 2013 e embaixo anúncio de sua loja de rádios publicado no jornal O São Bernardo de 19 de maio de 1940. O número 186 da loja corresponde hoje ao atual 1180 da Marechal, perto da Rua Padre Lustosa.
 
Pesquisa e Acervo: Centro de Memória de São Bernardo.
 
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