Em 1º de janeiro de 1960,  Lauro Gomes de Almeida iniciou seu segundo ciclo  no cargo máximo do executivo municipal.  Lauro havia administrado a cidade entre 1952 e 1955, tendo deixado o cargo alguns meses antes do final do mandato, para assumir a cadeira de deputado federal. Em outubro de 1959, venceu novamente as  eleições municipais, juntamente  com seu aliado  Hygino de Lima, eleito  vice-prefeito.    

Durante o segundo mandato de Gomes a cidade continuou a passar pelo processo de intenso crescimento industrial e demográfico iniciado na década passada. Esta condição teve grandes implicações na administração pública municipal, a começar pelas finanças da instituição. No ano de 1960,  a receita orçada de São Bernardo já era  a sexta maior do estado de São Paulo.  A composição do orçamento da cidade tinha duas fontes principais: o imposto de indústrias e profissões (23%)  e o repasse de parte da  arrecadação estadual no município (55 %), o qual se devia sobretudo ao Imposto sobre Vendas e Consignações (1). A arrecadação dos dois tributos era impulsionada pela presença das grandes empresas do setor automotivo na cidade. O restante se dividia em uma lista de mais de vinte fontes, entre repasses, taxas e tributos, dos quais o imposto predial era o mais significativo, contribuído com 5,6 % do total (2). Em 1964, o total da  receita orçada municipal  passou a ser o terceiro maior do estado, perdendo apenas para os montantes arrecadados pela  capital e pela  cidade de Santos(3). Mesmo descontando-se a grande inflação do período, a arrecadação federal no município cresceu 4,5 vezes , a estadual  2,35 vezes, e a receita municipal 2,62 vezes (4). Lauro Gomes foi várias vezes acusado pela imprensa de promover  aumentos abusivos de impostos, mas o poder do município em interferir na arrecadação era limitado, se concentrando sobretudo no imposto de indústrias e profissões e,  mesmo neste caso,  em grande medida,  o total dos  valores coletados era independente da administração, uma vez que o  crescimento econômico global da cidade gerava naturalmente o aumento do montante auferido.  

O grande crescimento populacional via migração, decorrente da oferta de crescente emprego industrial, demandava grandes modificações na infra-estrutura urbana do município. Era necessário planejar e executar novos loteamentos em antigas áreas rurais, construir, calçar e pavimentar ruas, ampliar  as redes de esgoto, água, energia elétrica e iluminação pública. Tais demandas exigiram  empenho e grandes recursos financeiros da administração, a qual multiplicou a abrangência  de vários serviços e benfeitorias existentes no município: a rede de iluminação pública  quase triplicou,  a rede de água  praticamente dobrou,  a de esgotos mais que quintuplicou (5). Ao longo da gestão foram pavimentados  quase 500 mil m² de ruas com asfalto, e outros 330 mil m² com paralelepípedos, além da execução de outros serviços relacionados, como extensão da rede elétrica, colocação de guias e sarjetas e construção de galerias para águas pluviais (6).   

O abastecimento de água no município passou por dificuldades no período, sobretudo nos meses de agosto e setembro de 1963, quando, em virtude da seca que atingiu a região, a represa Billings ficou quase  seca, sendo necessários esforços do governo Estado de São Paulo e das prefeitura da região do ABC para a solução do problema. Por ordem de Lauro, funcionários da prefeitura de São Bernardo do Campo construíram  barragens provisórias no Rio Grande, sob a ponte da Via Anchieta, procurando uma solução paliativa para o problema (7).

Além de um provável aumento do número de funcionários e trabalhadores, a prefeitura municipal passou por uma reforma administrativa no período, no qual foram criadas as  secretarias de “Negócios Jurídicos e Administrativos”, de “Obras e Serviços Municipais” e de “Finanças”. Além disso, surgiram as seções de “Educação e Cultura”  e de “ Saúde Pública” (8).  A sede da prefeitura também mudou, sendo transferida em novembro de 1962 para o recém construído prédio que deveria abrigar o correio, mas que nunca foi  aproveitado para este fim, tendo se tornado a sede da Biblioteca Municipal Monteiro Lobato alguns anos depois (9).

Desde o início, esta administração seria marcada por forte propaganda ligada às obras na área de educação, contribuindo para a divulgação do slogan” prefeito das crianças” assumido por Lauro.  Já em agosto de  1960,  foi inaugurado o primeiro  Jardim da infância público do município, o  Santa Terezinha.  Localizada na esquina da Alameda Glória  com a  Rua Jurubatuba, a escola foi inicialmente adaptada em uma edificação residencial,  hoje tombada pelo Conselho do Patrimônio Histórico e  Cultural da cidade.  Por outro lado, o principal projeto educacional ao qual Lauro procurava se ligar era o da implantação da Escola Técnica Industrial (ETI) - a atual ETEC Lauro Gomes, para o qual trabalhou em seu tempo de deputado federal. Lauro mantinha uma vitrine  com uma bela maquete da escola em seu escritório (10), procurando se associar  às obras, ainda que,  no acordo firmado entre município, estado e união, a prefeitura tivesse ficado  encarregada essencialmente da doação do terreno para a instituição, cabendo ao governo federal a construção e equipamento da escola, e ao estadual, o custeio dos professores e outros funcionários.  A ETI só foi concluída e  inaugurada na gestão seguinte (11). 

Ainda que pertencente à esfera privada, outra ação educacional de grande vulto foi a transferência  da Faculdade de Engenharia Industrial para a cidade, cujas tratativas se iniciaram  após Lauro prometer a doação de sua chácara no Bairro Assunção para a instituição  mantenedora da escola. A doação aconteceu  e a prefeitura executou os serviços de levantamento topográfico e terraplanagem no local (12).   A FEI iniciou suas atividades em São Bernardo do Campo em agosto de 1963,  de forma improvisada, em prédios da Escola Industrial, ainda inacabada. A inauguração das instalações no Assunção aconteceria apenas em 1965. 

Ainda na área da educação foram importantes a implantação do SENAI Almirante Tamandaré - para o qual a prefeitura contribuiu com a  doação do terreno (13) - e a ampliação do número de alunos matriculados nos grupos escolares da cidade, que havia dobrado em relação ao último ano da administração Pinotti, atingindo 16480 alunos (14). No total,  cinco novos grupos escolares foram construídos na gestão - Mizuho, Vila Euclides, Vila Império, Vila Rosa e Jardim Silvina - e outros cinco foram ampliados (15).

Fortes conflitos com a imprensa e a oposição estiveram presentes nesta segunda administração de Gomes, ao contrário da primeira. Especialmente nos dois primeiros anos  de mandato, Lauro foi fustigado pelo jornal “A Vanguarda” com diversas denúncias de corrupção e críticas ao seu autoritarismo. Por outro lado, a Folha de São Bernardo fazia sua apologia e ocupava uma  extensa parcela  de suas páginas com a publicidade paga dos atos oficiais da prefeitura, tendo o vereador Lenildo de Freitas Magdalena,  um dos fiéis escudeiros do prefeito,  entre seus diretores.  Na oposição militavam o ex-prefeito Aldino Pinotti e o futuro prefeito Geraldo Faria Rodrigues, ambos vereadores. 

Mantendo  boas relações com políticos importantes, como os presidentes João Goulart e  Jânio Quadros, o prefeito de São Paulo, Francisco Prestes Maia, e o prefeito de São Caetano, Anacleto Campanella, Lauro Gomes esteve ativo na política estadual durante este período. Participou da campanha e das eleições de 1962, tendo conquistado uma vaga na Assembléia Legislativa Estadual, a qual optou por não ocupar (16). Finalmente, foi vitorioso nas eleições de outubro de 1963,  tendo conseguido  eleger seu aliado Hygino de Lima em São Bernardo e vencido a disputa pela  prefeitura  de Santo André. Lauro Gomes faleceu aos 69 anos de  idade, em 20 de maio de 1964, menos de 5 meses depois de sua posse no executivo andreense.       

             

Lauro Gomes inaugura obras de ampliação do Grupo Escolar de Vila Santa Terezinha (atualmente EMEB Aldino Pinotti). 23 de setembro de 1962.

Acervo: Centro de Memória de São Bernardo do Campo

              

 

Notas

(1) - Cf. Anuário Estatístico do Estado de São Paulo 1960. São Paulo: Departamento do Estatística do Estado,  1961. p.168 ,178, 187. 
(2) - Cf. Lei Municipal nº 832, de 23 de novembro de 1959.
(3) - Cf. Anuário Estatístico do Estado de São Paulo 1963. São Paulo: Departamento do Estatística do Estado,  1965. p.168 ,178. 
(4) - Cf. Lei Municipal nº 1197, de 7 de dezembro de 1963.
(5) - Cf. Subsídios Estatísticos I. São Bernardo do Campo: Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo - Departamento de Topografia e Cadastro, 1972. p. 50 e 56.
(6) - Cf. Realizações da Administração Lauro Gomes/ Hygino de Lima – Em 4 anos mais do que em 407. São Bernardo do Campo: Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo. 1963.  ps. 10 - 11.
(7) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 14/9/1963 p.1. e 28/9/1963 p.1.
(8) - Cf. Lei Municipal nº 920, de 25 de abril de 1961.
(9) - Cf. Jornal “Folha de São Bernardo”, 16/11/1962.p.7
(10) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 6/6/1959 p.1
(11) - Cf. Jornal “A Vanguarda”, 7/12/1963 p.1
(12) - Cf. Jornal “Folha de São Bernardo”,  2/7/1960. p.11;  Ferreira Filho, Joaquim. FEI – 50 anos (1964-1996): Uma cronologia. São Bernardo do Campo: Fundação de Ciências Aplicadas, 1996.  p.69.  
(13) - Cf. PMSBC. Lei Municipal nº 916, de 28 de fevereiro de 1961. 
(14) - CF. Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo - Departamento de Topografia e Cadastro. Gráficoa I. São Bernardo do Campo: PMSBC, 1972. P.44.
(15) - Cf. Realizações da Administração Lauro Gomes/ Hygino de Lima – Em 4 anos mais do que em 407. São Bernardo do Campo: Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo. 1963.  p. 36. 
(16) - Cf. Jornal “O Estado de São Paulo” , 3 /10/1963 Cad. Geral. p.3 e 4. ; Jornal “Folha de São Bernardo”,  28/10/1962 p.1).

 

 

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