Lauro Gomes de Almeida é o  mais conhecido entre os antigos prefeitos de São Bernardo do Campo. Embora tenha falecido em 1964, até hoje o tecido urbano e a memória coletiva  da cidade guardam registros de suas duas administrações (1952-1955; 1960-1963). Sua memória é marcada por mitos, anedotas, realizações, suspeitas,    acusações, ódios e gratidões.

Mineiro, nascido em 1895, em uma família de classe média, no atual município de Rochedo de Minas – antigo território de São João Nepuscemo -  Lauro era filho do farmacêutico Sebastião de Almeida.  Cursou o grupo escolar e diversas instituições de ensino secundário, entre elas o tradicional Seminário de Mariana, na cidade homônima, uma das mais antigas escolas do país.  Lauro Gomes foi o terceiro dos sete filho de D. Olímpia, sendo que o mais velho deles, Alcebíades,  seguiria carreira militar, tornando-se Almirante.  Aos 18 anos de idade, mudou-se para São Paulo e empregou-se em uma loja de tecidos indicada por um primo de sua mãe.  Foi funcionário da Light e finalmente – por volta de 1920 - dos Frigoríficos Wilson, empresa norte-americana sediada em Osasco,  em que, depois de pouco mais de uma década de carreira, alcançou o cargo de diretor (1). Entre 1920 e 1921, o  jornal “Correio Paulistano” registrou por diversas vezes a participação  e os discursos  de  Gomes nas reuniões da Sociedade Rural Brasileira, como representante dos Frigoríficos Wilson, indicando que  neste momento Lauro já estabelecera  uma posição de prestígio na empresa, além de diversas ligações com a elite paulistana (2).  Em 1925,  casou-se com Lavígnia, filha do delegado e  empresário paulistano Arthur Rudge Ramos, responsável pela reforma do Caminho do Mar, entre 1913 e 1920.  Arthur era proprietário de uma chácara no Bairro Taboão, em São Bernardo,  a qual passou a ser freqüentada regularmente e posteriormente herdada por Lauro e Lavígnia.

Em agosto de 1951, já rico, aposentado  e ainda alheio à vida do município em que se situava sua chácara,  Lauro Gomes  aceitou ser candidato à prefeitura de São Bernardo do Campo, ingressando dessa forma na vida política.   A proposta lhe fora feita pelo secretário do PTB são-bernardense - Otto Bethke -  por  intermédio  de seu amigo,  Dr. Antônio Emigdio de Barros Filho  - irmão do governador de São Paulo, e de seu advogado, Dr. Arthur de Paula Maudonnet.  O PTB de São Bernardo buscava então, com grande dificuldade,  um candidato capaz de vencer Edmundo Delta - irmão da polêmica e muito popular Tereza Delta.  Graças à influência de seu irmão,  o governador Ademar de Barros - que era o fundador e líder do mesmo PSP dos irmãos Delta   -  aceitou apoiar Lauro  em São Bernardo em prejuízo de seu próprio partido. (3). Virtualmente desconhecido na cidade,  Lauro comprometeu-se a fazer investimentos relativamente grandes  e financiar toda a campanha, a qual durou menos de dois meses e teve como resultado sua vitória por uma margem de apenas 265 votos. As circunstâncias da eleição levantaram suspeitas sobre sua lisura, sobretudo por parte de Tereza Delta, que atribui a derrota do irmão à transferência eleitoral irregular – promovida por  seus  adversários -   de  900  pessoas sem residência comprovada no município. Lauro respondeu à acusação afirmando que iria providenciar investigações e mostrar que os  eleitores ilegais eram sobretudo trabalhadores do D.E.R, os quais tinham fama de pertencer à base  eleitoral de Tereza (4). 

Em entrevista concedida logo após a eleição, Lauro afirmou que o objetivo principal de seu governo seria a assistência às crianças. Prometeu  merenda escolar e  a solução do problema do  Grupo Escolar Vila de S. Bernardo, cujo prédio – o antigo casarão do Alferes Bonilha – estava interditado devido a riscos de desabamento, deixando sem local  adequado de estudo cerca de 1200 alunos. Afirmou ainda que iria construir diversos postos de puericultura, melhorar os campos de  futebol da cidade e criar um parque às margens da represa Billings, sendo esta última promessa cumprida com a criação do Parque Estoril, em 1955 (5).

Em 1954, a  edificação do prédio  da atual E. E. Maria Iracema Munhoz,  com obras custeadas pelo governo do estado  em área cedida pela prefeitura, resolveu o problema dos alunos do grupo escolar da região central. Ainda na setor da educação,  receberam ampliação alguns grupos escolares, além do Ginásio Estadual João Ramalho. No acampamento do  D.E.R foi construído pela prefeitura a Escola Municipal Dr. Ariovaldo de Almeida Viana.   O número de professores municipais foi ampliado, assim como a distribuição da merenda escolar (6 )

Na área de saúde, o destaque foi a instalação do  Posto de Puericultura “Rachel Mesquita de Salles de Oliveira”, o qual contava com  médico permanente,  aplicava vacinas e realizava diversos outros procedimentos pertinentes ao setor. O Posto foi instalado em um antigo casarão da família Setti - localizado no atual n. 1737 da Rua Marechal Deodoro -  cujo aluguel era pago pelo prefeito, através de seus subsídios. ( 7 )

Entre as outras realizações desta  administração destacam-se  a instalação da  primeira rede de coleta de esgoto do município, a  ampliação da rede de água,  o  aumento  da malha viária pavimentada, a inauguração da Av. Rotary e do acesso pavimentado  à Via Anchieta (Km 18), sendo esta última obra financiada pelo governo estadual (8).  Lauro Gomes foi também responsável pela construção da praça central da cidade, a qual recebeu seu nome ainda durante sua gestão, o que levou a protestos por parte da oposição.

Por fim, a primeira administração Lauro Gomes também foi marcada por substancial elevação da arrecadação de impostos e taxas municipais, permitindo que o orçamento da receita saltasse de Cr$ 6,7 milhões,  em 1951 – último ano da gestão anterior – para Cr$ 38 milhões,  em 1955, ano em que, em setembro,  o prefeito deixou o cargo para se candidatar a deputado estadual, deixando em seu lugar  Segismundo Sérgio Ballotin, presidente da Câmara Municipal ( 9 ). Este aumento esteve ligado ao  significativo crescimento demográfico, urbano, comercial e industrial do cidade no período e, também,  à mudança na política fiscal da prefeitura, que se empenhou na elevação da arrecadação direta no município, sobretudo  através  do aumento do rigor na fiscalização e da revisão das estimativas de valor de imóveis e atividades.(10)

             

Esq.  Lauro Gomes. 1955; Dir. Lauro Gomes ladeado pelo governador Lucas Nogueira Garcez - à sua esquerda - e pelo prefeito de São Caetano do Sul, Anacleto Campanella, durante as comemoração do IV Centenário de São Bernardo do Campo, no local onde hoje está a Praça Lauro Gomes.

20 de agosto de 1953.

 

                            

Notas

(1) – Laranjeira, Carlos. Lauro Gomes, Poder e Riqueza. São Bernardo do Campo: Ed. do autor,1993. p 21-32.

(2) – Jornal “Correio Paulistano”,20/8/1920  p.4; 24/9/1920 p.2; 29/10/1920 p.2; 5/11/1920 p.2; 19/11/1920 p.3; 3/12/1920 p.3; 31/12/1920 p.1; 9/1/1921 p.2; 14/1/21 p.3, 4/2/21 p.1;

(3) –  Cf. Bethke, Otto João Gustavo. Entre o Chicote e o Charuto – Uma contribuição para a história de São Bernardo do Campo. São Beranrdo do Campo: Assahi Gráfica e Editora, 2008.  p. 30-29.

(4) – Cf. Correio Paulistano. 20-10-1951. p.5. e  12.    

(5) – Cf. Correio Paulistano. 20-10-1951. p. 2. e 12.   

(6) -  Cf. PMSBC. Um município que renasce –Relatório de dois anos de atividade do Prefeito Lauro Gomes à testa do Município de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo: PMSBC, 1954. p. 42–48.  

(7) – Cf. PMSBC. Um município que renasce –Relatório de dois anos de atividade do Prefeito Lauro Gomes à testa do Município de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo: PMSBC, 1954.  p.37-40

(8) – Cf. PMSBC. Um município que renasce –Relatório de dois anos de atividade do Prefeito Lauro Gomes à testa do Município de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo: PMSBC, 1954. p. 22-28

(9) – Cf. São Bernardo do Campo. Secretaria de Assuntos Jurídicos. Leis 001-200. p. 287 e 368 ; São Bernardo do Campo. Secretaria de Assuntos Jurídicos. Leis 201-400. p.70 e 172 ;

(10)- Cf. PMSBC. Um município que renasce –Relatório de dois anos de atividade do Prefeito Lauro Gomes à testa do Município de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo: PMSBC, 1954. p.11-19.

 

 

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