Nascido em 1877,  na comuna de Castiglione de Garfagnana, na região da Toscana, na Itália, Luigi Cassetari chegou à região de São Bernardo na década de 1890 (1). Por volta de 1901, casou-se com Maria Bona - viúva de Stefano Coppini - e residiu nas proximidades do Rio Grande, local em que possuía uma propriedade rural (2) e onde nasceu seu primeiro filho, José Cassetari (3)

Por volta de 1905, adquiriu várias propriedades na Rua Marechal Deodoro, no trecho entre as ruas Municipal e Américo Brasiliense. De Vicente Del Bianco, comprou o antigo lote nº 3 da sede urbana  do Núcleo Colonial São Bernardo. Fiscal do cemitério da cidade,  Del Bianco era também comerciante, estabelecido com armazém neste mesmo local onde  residia com sua extensa família (4). Luigi assumiu  e ampliou este armazém, que vendia desde alimentos até tamancos de madeira e cartões postais, e situava-se em um terreno com 27 metros de frente, onde hoje funciona um banco, na altura do  nº 1601 da Rua Marechal Deodoro. Luigi manteve este estabelecimento até cerca de 1924 (5). Do outro lado da rua, Cassetari adquiriu três lotes de terrenos mais estreitos, também do antigo Núcleo Colonial, adjacentes ao terreno do alemão Adolpho Lucks,  e ali construiu algumas casas no decorrer dos anos seguintes (6). Em uma delas, seu filho José Cassetari residiu e manteve comércio por vários anos. Até hoje este local abriga um estabelecimento comercial da família. Outro comércio que foi muito conhecido na cidade  que funcionou nestes antigos imóveis  de Luigi  Cassetari foi a Farmárcia Nossa Senhora Aparecida, que pertenceu a  Dioníso Machado e esteve em atividade entre as décadas de 1920 e 1950.   

Em setembro de 1916, Cassetari se associou a Aldo Vegarni - dono de uma pequena fábrica de móveis no final da Rua Marechal Deodoro- e Secondo Mondolin, e adquiriu, à família Tironi, o lote urbano vizinho do seu armazém, onde, em 1917, instalou, junto aos sócios, uma nova fábrica de móveis (7). Sediada em uma área de mais de 2500 m², esta fábrica marcou a história da indústria moveleira local e a  paisagem urbana do centro, permanecendo ativa até o início da década de 1980. Em 1920, Vergani se retirou da sociedade e foi substituído por  José Cassetari e pelos filhos do primeiro casamento de Maria  Bona, Humberto e Francisco Coppini. A partir deste momento, a  indústria passou a ser chamar Cassetari & Comp e teve o valor de seu  capital  dobrado, atingindo 30 contos de réis (8). Empregando entre 30 e 60 funcionários a empresa foi uma das primeiras a contar com serraria anexa e esteve entre as três maiores fábricas da móveis da Vila de São Bernardo  até por volta de meados da década de 20.

Em 1934, uma grande greve paralisou a indústria moveleira local, exigindo melhores condições de trabalho, incluindo  jornada de trabalho de 8 horas semanais e férias. No decorrer das negociações, surgiram idéias  para  solução do conflito  envolvendo a compra de fábricas por cooperativas de operários. Mesmo com a greve terminada e as propostas trabalhistas atendidas, algumas das maiores e mais antigas fábricas de móveis da cidade acabaram sendo adquiridas por grupos de operários e outros sócios.  A pioneira foi a Irmãos Setti,  seguida pela Cassetari & Comp  - cujo sócio José Cassetari havia sido um dos proponentes do novo formato de gestão moveleira, e  pela Irmãos Basso.  Assim, em 1935, a antiga fábrica dos Cassetari foi adquirida por um grupo de 180 acionistas - a maioria operários - passando a denominar-se Fábrica de Móveis São Luís (9).

No decorrer de seus quase 70 anos de existência a Fábrica empregou centenas de funcionários, boa parte deles oriundos de antigas famílias de imigrantes, residentes na Rua Marechal Deodoro e seus arredores: Zampieri,  Pessotti, Copeinski, Fregonesi, Pinotti , Marotti, Bamback, Catelan, Bassoli, Margonari, Duzzi, Bonini, Zaia, Stalchmidt, Piato, Corradi, Serraglia, Tosi, Casa, Canever, Stangorlini, Vertamatti,  Wunderlick, etc (10). Entre estes, pelo menos dez sobrenomes estão associados a criação de outras fábricas de móveis após a passagem pela Cassetari/São Luis, refletindo uma tendência  freqüente na indústria moveleira local, que é a de ex-operários  abrirem seus próprios estabelecimentos no ramo.     

Espelhando as transformações da economia local a partir  do final do século XX, o  antigo terreno, que foi ocupado pela fábrica  até o início dos anos 1980, hoje abriga  estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços.

 

Funcionários da Cassetari & Comp, em frente à sede da fábrica. Luigi aparece em frente a porta, à direita da fotografia.

Embaixo, sentado, com um livro na mão, está Humberto Coppini.1920.  

  

Notas

(1) - Cf. Orsi, Itamir e PAIVA, Eddy C. Famílias Ilustres e Tradicionais de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo, Edições Memória Nacional, 1994. v. 2.  p.59.

(2) - Cf. 1º Tabelião de Notas de São Bernardo do Campo.  Escritura pública de Compra e Venda entre partes. Livro 17. p. 112.14/09/1903.

(3) - Cf, Gomes, Fábio. Origem das Famílias de São Bernardo do Campo – Famílias Tradicionais e Ilustres. São Paulo, EDICON, 2002. p.82-83.

(4) - Cf. Livro de Matrícula dos Colonos – Núcleo Colonial de São Bernardo/Sede. Inspetoria Geral de Terras, Colonização, Imigração do Estado de São Paulo. (1877/1892). Acervo: Arquivo do Estado de São Paulo.

(5) - Cf. Livros dos registros dos impostos sobre indústrias e profissões do Município de São Bernardo. 1905-1910. Acervo: Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa; Livros dos registros dos impostos sobre indústrias e profissões do Município de São Bernardo. 1911-1923; Arquivo do Estado de São Paulo. Planta do Núcleo Colonial São Bernardo. 1907A.

(6) - Cf. Diário Oficial do Estado de São Paulo. 17/01/1905. p.156 ;

(7) - Cf. 1º Tabelião de Notas de São Bernardo do Campo.  Escritura pública de Compra e Venda entre partes. Livro 25. p.74. 17/09/1903 ; Diário Oficial do Estado de São Paulo. 07/06/1917. p.2759.

(8) - Cf.  Diário Oficial do Estado de São Paulo. 26/06/1920. p.3969.

(9) - Cf.  Pessotti, Attílio. Vila de São Bernardo. São Bernardo do Campo: Secretaria de Educação e Cultura, 2007. p.80-83.

(10) - Idem. p. 76-78.    

 

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