Área rural até meados do século XX, o território atualmente compreendido pelo Bairro Paulicéia, abrigava,  por volta  da década  de 1900, dois sítios e partes de alguns pequenos lotes rurais do Núcleo Colonial S. Bernardo- Linha Meninos. Nesta época, quase todo o atual espaço  residencial e comercial do bairro integrava o Sítio dos Alves, que foi posteriormente comprado por Francisco Seckler.  Na década de 1910, quando a área já era conhecida como Sítio  Paulicéia,  Francisco  promoveu um loteamento semi-urbano no local, visando  a constituição de  chácaras de 10000 m²,  agrupadas em  blocos  de quatro em cada quarteirão. Ainda que a ocupação tenha sido incipiente e o arruamento possivelmente inacabado e efêmero, foi  nesta ocasião que surgiu  o desenho atual  das principais ruas da Paulicéia:  Álvaro Alvim, Francisco Alves, Casper Líbero, Júlio de Mesquita, Gen. Bertoldo Klinger, Gen. Izidoro Dias Lopes – no sentido norte-sul; Xavier de Toledo, Líbero Badaró, MMDC, Miragaia, Martins, Dráuzio e Camargo – no sentido leste-oeste. (1)  

A área hoje ocupada pela Mercedes-Benz abrigava o sítio da família Piranga. Foi comprada por Arthur Rudge Ramos, depois vendida à Rádio Record. Ali, por volta de 1945 foi construída uma torre de transmissão para a rádio. No ano seguinte,  Paulo Machado de Carvalho, proprietário da empresa de telecomunicações, construiu no mesmo terreno a Capela Nossa Senhora Aparecida, que ficou popularmente conhecida como Capelinha da Record. .Graças ao intermédio de Paulo, por muitos anos a rádio transmitiu a missa dominical realizada em seu entorno, o que contribuiu para transformá-la em um importante centro atrator de romarias. Até o  ano de 1979, ao menos,  a missa foi irradiada regularmente para todo o Brasil (2).  

Por fim, o território do atual  Parque Santo Antônio – loteado em 1951 - e parte da área adjacente à Via Anchieta pertenceram à antiga Fazenda São Bernardo, dos Monges Beneditinos,  e, a partir de  1886, compuseram porções  de  alguns dos lotes rurais destinados aos imigrantes (Linha Meninos), os quais pertenceram às famílias Alves, Magnani, Buscariolli, Zechetti, Zamengo, Pieri, Viezzer, Costa e Barducco, em sua maioria de origem italiana (3).

Nenhum dos loteamentos anteriores à metade do século XX prosperou, nem o original, da década de 1910,  nem os posteriores, como o da Vila Paulistana. Na época, funcionaram na região algumas olarias, entre as quais,  a pertencente  ao antigo sitiante Francisco Seckler, que em 1928 foi arrendada a César Magnani. À família deste último -  uma das mais antigas do bairro e que está presente no local até a atualidade -  pertenceram alguns dos mais antigos estabelecimentos comerciais da região , como o armazém de Dona Philomena, que servia aos transeuntes do Caminho do Mar, e o Bar de Luiz , situado da atual esquina da Avenida César Magnani com a Rua Alvaro Alvim ( 4).  Ainda nesta época se destacou na área  a presença da Cerâmica Ipiranga, instalada no local antes da metade da década de 1940.

O povoamento do bairro ficou praticamente estagnado até o início da  década de 1950, quando, impulsionadas pela proximidade com a Via Anchieta, grandes indústrias se instalaram na região, como o Cotonifício S. Bernardo (1951) e, sobretudo,  a Mercedes Benz (1954). Outras indústrias importantes na história do bairro foram a autopeças Petri, que permaneceu na Rua Casper Líbero entre 1959 e 1972, as metalúrgicas Tri-Sure, Magnet, Kelux, Sideroter e Gantex,  e, também,  a Fiação Pessina.  Com a grande oferta de empregos gerando um intenso movimento migratório em todo município surgiram vários  loteamentos urbanos na década de 1950 e início dos anos 1960: Vila Leonina (1953), Conjunto Ottoni (1955), Predial De lucca (1955), Vila Labor (1955), Vila Clarice Ferreira (1958), Evaristo Maricato(1959), Vila Santa Eugênia (1962), Vila Mackenzie (1963) ( 5 ). Em crescimento intenso desde a década de 1950, a população atingiu cerca de 11 mil habitantes (estimada) por volta de 1972  (6) e 24 mil em 1980 (7), tendo permanecido relativamente estável desde então.   

Em 1958, devido ao nome pelo qual o bairro era informalmente conhecido – Paulicéia -  a maioria de suas ruas receberam denominações ligadas à história do Estado de  São Paulo, e, especialmente, à Revolução Constitucionalista de 1932 (8).  A oficialização da denominação “Paulicéia” veio apenas em 1962, através da Lei Municipal 1024. Pelo menos desde a década de 1930, as partes mais altas da região eram popularmente conhecidas pelo nome de Morro do Querosene, enquanto os terrenos mais baixos, alagadiços, eram chamados de “esmaga-sapo”, denominações estas que ainda eram conhecidas por antigos moradores até tempos recentes (9).

Aproximadamente a partir da  metade do século XX, junto às grandes mudanças pelas quais a cidade e o bairro passavam,  começaram a  surgir  no organizações coletivas locais  como  o Esporte Clube Vila Paulicéia( 1947) e a  Sociedade Amigos de Vila Paulicéia  (1957),  além de serviços  públicos como a energia elétrica e a iluminação. Em 1978,  o bairro já contava com duas escolas estaduais (Dr. Laudo Ferreira de  Camargo e Dr. Fausto Figueira de Mello) , oferecendo mais de 4 mil vagas em cursos primários, ginasiais e colegiais (9).   

 

Rua Álvaro Alvim, uma das mais tradicionais do comércio local. A padaria retratada existe até hoje. Esquina com Rua Pacaembu.1976. A  Fotografia publicada no livro “São Bernardo do Campo  200 anos depois – A história da cidade contada pelos seus protagonistas”, de Ademir Medici. Acervo: Diário do Grande ABC.

 

Notas.

(1)   -   Cf. Barbosa, Newton A. M.  et al.  Paulicéia, o primeiro bairro bem iluminado, no lugar dos antigos lamaçais. In: Jornal Folha de São Bernardo – Suplemento especial. 28/7/1979. p.2.

(2)   – Ibidem.

(3)   – Cf. Livro de Matrícula dos Colonos – Núcleo Colonial de São Bernardo/Sede. Inspetoria Geral de Terras, Colonização, Imigração do Estado de São Paulo. (1877/1892). Acervo: Arquivo do Estado de São Paulo.

(4)   - Magnani, Fernando e Magnani,César Laerte. Depoimento, 6/5/2019. Banco de História Oral. Centro de Memória de São Bernardo do Campo.

(5)   – Medici, Ademir. São Bernardo do Campo  200 anos depois – A história da cidade contada pelos seus protagonistas. São Bernardo do Campo: PMSBC, 2012.  p.75.

(6)   – Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo. Departamento de Topografia e Cadastro, Subsídios Estatísticos I. São Bernardo do Campo: PMSBC, 1972.  p.6 e p.30.

(7)    – Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo. Compêndio Estatístico.1997.  p.20.

(8)   –  Cf. Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo. Lei  Municipal.  nº 624, de 25 de ,março de 1958

(9)   -   Cf.  Ademir. São Bernardo, seus Bairros sua gente. 2ª edição. São Bernardo do Campo: PMSBC, 1984.  p.161-163.

(10) -  Cf. Barbosa, Newton A. M.  et al.  Paulicéia, o primeiro bairro bem iluminado, no lugar dos antigos lamaçais. In: Jornal Folha de São Bernardo – Suplemento especial. 28/7/1979. p.2.

 

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