Procurei todas as técnicas, mas voltei à simplicidade diretamente. Não sou mais moderna nem antiga, mas escrevo e pinto o que me encanta.” (Anita Malfatti).

     Na Semana de Arte Moderna de 1922 - nas manifestações artísticas e intelectuais no palco e no saguão do Teatro Municipal de São Paulo -, aflorava a contestação formal e estética a uma arte passadista e conservadora de até então. As questões relativas às desigualdades de raça, gênero e de classe, entretanto, estavam um tanto quanto ausentes nesse primeiro ato fundador do Modernismo Brasileiro.

     As mulheres que participaram da Semana foram protagonistas e tiveram centralidade naqueles dias de fevereiro, apesar da representação em menor número em relação à representatividade masculina. As artistas plásticas Anita Malfatti, Gomide Graz, Zina Aita e a pianista Guiomar Novaes estavam lá, assim como 100 anos antes, em 1822, mulheres como Joana Angélica, Maria Felipa e Maria Quitéria resistiram e lutaram nas guerras de independência. Todas mulheres que deram um grande passo de ousadia e pioneirismo, num contexto no qual ainda nem mesmo tinham direito de votar e de serem votadas.

     Muitas artistas brasileiras que produziram no século XIX e início do século XX tiveram suas histórias silenciadas, foram reconhecidas pintoras como Maria Pardos, Abigail de Andrade e Alice Santiago, mas suas obras e trajetórias foram esquecidas ao longo dos anos, sistematicamente transformadas em invisíveis dentro dos padrões excludentes de gênero, raça e classe da canonização no campo da história da Arte.

       A participação dessas artistas na Semana de 22 não foi diminuta, e o movimento modernista não seria o mesmo sem esse protagonismo artístico feminino, afinal, foi Anita Malfatti a primeira modernista a fazer uma exposição no Brasil, inclusive sofrendo todo o tipo de ataque à sua obra, antes mesmo de qualquer um dos outros artistas homens.  Mulheres que desbravaram o caminho em um terreno íngreme, com todas as adversidades de uma sociedade patriarcal e machista, para outras mulheres que viriam nas décadas posteriores, ocupando espaço nas discussões públicas e políticas, expondo as desigualdades de gênero e suas intersecções de raça e de classe.
 


Outros Avessos de 1922


   As exposições, apresentações artísticas, apresentações intelectuais e a leitura de manifestos vanguardistas causavam alvoroço e inquietação na classe média e elite paulistanas, presentes e representadas tanto no palco como na plateia do Teatro Municipal, mas passavam despercebidas pela classe operária que estava fora daquele espaço.

    A classe trabalhadora passava por uma grande transformação e adensamento na capital paulista, ocupara as ruas e fábricas durante a grande greve geral de 1917 e se organizava para lutar por melhores condições de vida e de trabalho. Nesse contexto do início da década de 1920, as lutas operárias avançavam e em 25 de março de 1922, um mês após a Semana de Arte Moderna de São Paulo, era fundado o Partido Comunista do Brasil (PCB), com proposta de trazer ao palco da política nacional representantes e ideais da classe trabalhadora, até então marginalizada politicamente, atuando na sua organização e em seus sindicatos. Uma cultura política que influenciou a produção intelectual e artística brasileira nas décadas posteriores.

     Esse novo movimento político e a presença cada vez maior do movimento operário na vida política do país, principalmente nas grandes capitais urbanizadas, tiveram repercussão direta na produção intelectual e artística de modernistas no final da década de 1920, como Patrícia Galvão (Pagu), Flávio de Carvalho e Oswald de Andrade. Igualmente deu-se nas cisões entre os grupos modernistas, que se materializaram em projetos político - ideológicos distintos, e que atuaram na esfera política e cultural do Estado brasileiro durante a década de 1930.

 

Os Avessos em 2022…

 

    No mês de março, teremos uma série de ações destacando o protagonismo feminino no campo intelectual e das artes.

Exposição – Pinacoteca:
Para Além da Efeméride
 Visitação:De 23 de fevereiro a 22 de julho de 2022, de terça a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h.
 
Papos do Avesso – Biblioteca Monteiro Lobato:
Teremos a presença do Professor Francisco Alambert, que dará uma aula livre sobre a Semana de Arte Moderna de 1922.
Dia 26 de março de 2022,  às 14h.

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