Os dados sobre  a cidade explicitados no último censo publicado  no país, datado de 2010, mostraram o maior contingente de população negra (a soma dos que se autodeclararam (1) pretos e pardos, conforme o IBGE) já registrado em São Bernardo, consolidando uma ascensão notada nos  60 anos anteriores: em 1950 (2)  o contingente era de 8% dos 27 mil  habitantes da cidade ; em 1980, 22% de 425 mil (3) ; em 1991, 23% de 556 mil (4);em 2000, 28% dos 703 mil  (5) e finalmente em 2010  representavam 34% dos 760 mil munícipes  (6).  Tal crescimento  é consequência do forte fluxo migratório  para a cidade, expressivo até fins da  década de 1990.  Ao se transformar  no maior  polo  da indústria automobilística do país,  o município atraiu ao longo do período  milhares de indivíduos e famílias oriundas de regiões com perfil etnico-racial diverso do nele existente antes do início deste fluxo. Em 2000, viviam em São Bernardo 222 mil migrantes  nascidos em  outros estados (32% da população).  Destes, os locais de nascimento mais comuns eram Minas Gerais,  com 45,7 mil pessoas; Bahia, com 42,8 mil, Pernambuco com 31,2 mil, Ceará, com 22,7 mil e Paraíba, com 19 mil -  todos estados  que  historicamente tem um elevado percentual  de população negra (a Bahia em 2010 tinha 76%; Minas, 54%; Pernambuco, 62%, Ceará, 67% e  a Paraíba 58,5%). 

Em sua maioria formada por migrantes ou por  filhos e netos destes, a população  autodeclarada preta ou parda  de São Bernardo está presente em  todos os bairros da cidade, mas concentra-se  sobretudo nas áreas  que se formaram e tiveram grande  expansão urbana ou suburbana nas últimas décadas.  Assim, o Montanhão,  bairro que mais cresceu em termos absolutos entre  1980 e 2010, saltando de 6 mil em 1980 para 94 ml habitantes em 2010, tinha, conforme o censo, o maior percentual de moradores negros, com 54%; seguido do Alvarenga, que tinha 46%  e  cresceu de 7 mil  para 62 mil moradores totais no mesmo periodo; do Cooperativa, com 45%, que saltou de 4 mil para 25 mil  habitantes e do Batistini, também  com 45%, que foi de 6 mil para 28 mil residentes nesse intervalo de tempo. Com início de urbanização mais antiga que os bairros supracitados (surgiu por volta de 1950),  mas que manteve-se em expansão pelo menos  até 2010, o Ferrazópolis vem na quinta posição, com 44% de moradores negros. Conforme uma pesquisa realizada em 1979 (7), antes da  expansão do Montanhão, Cooperativa, Alvarenga e Batistini, o Ferrazópolis era  o bairro com maior percentual de migrantes  oriundos da região  Nordeste.

Por outro lado, nos  locais em que os últimos censos  apontaram  um  crescimento demográfico  mais baixo,  a participação da população negra no total é, na maioria dos casos, consideravelmente menor: no Rudge Ramos, por exemplo,  é de 12%;   no Jordanópolis, 15%; no Centro, 16%  e na Paulicéia, 19%.

Naturalmente, dentro de cada bairro,  esta  população não  se distribuiu de maneira uniforme, havendo pontos com uma concentração significativamente maior do que a media apresentada: na área entre as ruas Edson Queiroz, Ayrton Senna, Bragança, 2 de Fevereiro e Alto da Bela Vista, no Montanhão, a porcentagem de habitantes negros mostrada no censo, por exemplo, foi de  69%; nos quarteirões entre as ruas Clemente Rocha Silva, Almeida Leme, e Novo Horizonte (Parque S.Bernardo-Montanhão), 72%. No Bairro Cooperativa, em um setor na altura da estrada particular Eiji Kikuti,   onde existem diversos  edifícios de conjuntos habitacionais  construídos na década de 2000, o percentual alcançou também  72%;  no Alvarenga, entre as ruas Tangarás, Araras e Principal, 68%.

 

Na imagem, vemos o Grupo de Congada do Parque São Bernardo (Montanhão) em apresentação no Paço Municipal em 1983. O grupo  preserva  no município esta  tradição  cultural afro-brasileira   desde 1981, data em que foi formado pela família Lemes, a qual tem suas origens na cidade mineira de Cordislândia (8).

 

Notas:
1. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Características etnico-raciais da população - um estudo das categorias de classificação de cor ou raça, 2011, p. 15. Vale ressaltar que até 1980 a categoria “pardos” também incluíam os indígenas, não havendo uma separada para estes.
2. Censo IBGE 1950.
3. idem, 1980.
4. idem, 1991.
5. idem, 2000.
6. idem, 2010.
7. Pesquisa Socioeconômica 1979, PMSBC.
8.  Mendes Santos, L. M. Grupo Folclórico Congada do Parque São Bernardo e seus filhos do rosário. TCC - Escola de Comunicação e Artes da USP. 2015.

 

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