Padre da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Boa Viagem por 63 anos e único professor da região por mais de 30 anos, Tomás Inocêncio Lustosa foi uma das figuras mais importantes da Freguesia de São Bernardo durante o século XIX. Nascido em São Paulo, em 4 de novembro de 1802, Lustosa era neto da escrava Joana Antunes e, provavelmente, de seu senhor, Amaro Antunes, que a libertara no dia do nascimento da filha, Benta Maria do Espírito Santo, mãe do futuro vigário de São Bernardo (1).  Por parte de seu pai – Francisco de Paula Lustosa, descendia do “mestre” Tomás Lustosa. Foi ordenado em 1828 e, neste mesmo ano, foi nomeado padre coadjutor na Freguesia de São Bernardo (2). Em 1830, Tomás tornou-se o primeiro professor da recém-criada 1ª Cadeira de Primeiras Letras da Freguesia de São Bernardo, a escola pública pioneira em toda a região do ABC, a qual funcionara em um cômodo de sua propriedade, nas proximidades da Igreja. Durantes as três décadas que Lustosa foi professor, a escola formou centenas de alunos, sendo que um deles foi o filósofo, escritor e professor Carlos Mariano Galvão Bueno, nome significativo na história da filosofia brasileira durante o século XIX (3). Entre o final da década de 1830 e os anos 1880 surgiram vários indicativos da ascensão social e econômica de Lustosa.  Em 1839, Tomás foi eleito juiz de paz, cargo mais importante da localidade, e, em 1848, com a morte do padre Manoel da Natividade Marques, tornou-se o vigário da paróquia, permanecendo no posto até o final de sua vida (4). Em 1853, foi admitido na loja maçônica “Amizade”, na capital paulista (5). Nas últimas décadas de vida foi proprietário de escravos e também, possivelmente, de terras, em São Bernardo. Pouco anos antes de sua morte, que ocorreu no dia 10 de agosto de 1892, Lustosa atuou junto ao grupo que pleiteou a transformação da Freguesia de São Bernardo em município, conquista  efetivada em maio de 1890. A memória de Lustosa é marcada também pelas vidas de dois de seus quatro filhos ilegítimos, frutos de sua união com Ana Francisca de Almeida Nóbrega (6). O mais velho deles, João Baptista de Almeida, nasceu em 1844, e, durante cinco anos lutou na Guerra do Paraguai, de onde retornou ferido - tendo permanecido com um projétil enterrado na coxa até o fim da vida, em 1929.  Morava em uma casa com um grande terreno, que tinha frente para a Rua Marechal Deodoro e abrangia a área hoje ocupada pela Rua São Savino. Em 1854, nasceu Manoel Eduardo de Almeida, que se tornaria escrivão e proprietário do primeiro cartório de São Bernardo, sediado, por muitas décadas, junto à sua residência, na altura do atual número 1031 da Rua Marechal Deodoro. Manoel foi uma figura influente na sociedade e na política local entre as décadas de 1890 e 1910. Por ser próximo ao pai, junto do qual fora criado, recebeu da população local a alcunha de “Maneco do Padre”.   Imagens: À esq: João Baptista de Almeida, em seus últimos anos de vida, no quintal de sua casa. Acervo: Edith de Almeida. À dir: Manoel Eduardo do Almeida. 1904. Acervo: Celso de Almeida Cini. Fotografia publicada pela Revista Raízes (SCS, ano 11, nº 22, p. 44, dez 2000.). Pesquisa: Centro de Memória de São Bernardo do Campo- Secretaria de Cultura e Juventude. PMSBC.

 

Notas:

(1) Casagrande, Waldemar., Cini, Celso de Almeida. História da Família Almeida. Estudo genealógico não publicado, realizado por membros da família. Uma cópia digital foi entregue ao Centro de Memória de São Bernardo do Campo, por ocasião da coleta do depoimento de Edith de Almeida, no dia 19 de maio de 2015. Os autores citam o processo de canonização de Padre Lustosa como fonte para as informações relativas a seus pais e avós.

(2) Santos, Wanderley dos. Antecedentes Históricos do ABC Paulista: 1550-1892. São Bernardo do Campo, PMSBC, 1992.  P. 158

(3) Cf. Arquivo do Estado de São Paulo. Relação dos alunos que estão matriculados na Aula Nacional de Primeiras Letras da Freguesia de São Bernardo. 1845. Sobre o papel de Galvão Bueno na história da filosofia brasileira, consultar Paim, Antonio. O Estudo do Pensamento Filosófico Brasileiro. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro, 1979. P.33.

(4) Santos, Wanderley dos. Antecedentes Históricos do ABC Paulista: 1550-1892. São Bernardo do Campo, PMSBC, 1992.  P. 193

(5) Cf. Francisco, Renata Ribeiro. As sociedades antiescravistas na cidade de São Paulo (1850-1871). Dissertação de Mestrado em História. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Franca, 2010. p.43

(6) Cf. Cini, Celso de Almeida. São Bernardo: raízes e evolução. O vulto histórico da Tomás Inocêncio Lustosa. Raízes. São Caetano do Sul- SP, ano 11, nº 22, p.51-52, dez 2000.

 

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