moderna indústria química tem sua origem com a fabricação em grande escala de substâncias necessárias a outros ramos fabris, a qual se deu a partir de meados do século XVIII, em um processo que se integrou aos primórdios revolução industrial (1). O setor envolve a produção de tintas, resinas plásticas, combustíveis, perfumes, sabões, elastômeros, fibras sintéticas, além de diversas substâncias necessárias à fabricação de outros bens (2).

A indústria química chegou ao Brasil no final do século XIX, sendo a fabrica de ácidos fundada por Luiz Manuel Pinto de Queiroz em São Paulo - a “ Sociedade de Produtos Químicos L. Queiroz ” - um marco fundamental no ramo (3). Na região do antigo município de São Bernardo, já existiam, na década de 1890, a Fábrica de Formicida Paulista e a Fábrica de Sabão Pamplona (4), ambas no território da atual cidade de São Caetano. Na região central do atual município de São Bernardo do Campo, entre 1896 e 1915, existiu uma pequena fábrica de sabão - provavelmente artesanal – pertencente a Carlos Hembel, de origem alemã (5).

Durante muitas décadas, a mais importante indústria química da região foi a “Companhia Química Rhodia Brasileira”, fundada por franceses, no consulado brasileiro de Paris, em dezembro de 1919. Em 1920 se iniciaram as obras de construção da fábrica, localizada no então Distrito de Santo André (6). Era uma empresa de grande porte, com previsão para empregar mais de 2000 funcionários (7). A Rhodia iniciou suas operações na primeira metade da década de 1920, com o objetivo de fabricar ácido sulfúrico, ácido muriático, cloreto de etila, sulfato de sódio, gesso, e, sobretudo, o “Lança-Perfume”, produto cuja invenção se liga às origens da matriz francesa da empresa, no final do século XIX (. Impopular na Europa, esta substância foi muito usada no carnaval brasileiro desde princípios do século XX, mas, a partir dos anos 1960, passou a ser considerada uma droga ilícita, devido aos danos que seu uso traz à saúde.

No pós-guerra, com o surgimento da Via Anchieta, uma nova era se iniciou na indústria química do novo município de São Bernardo do Campo, instalado em 1945. Já em 1944, se estabeleceram na Estrada do Vergueiro as Indústrias Reunidas Azul Ultramar, fabricante de anil para lavar roupas, que funcionou por poucos anos (9). Entre 1948 e 1952, mais 3 empresas do ramo chegaram à cidade: a Sandoz - Anilinas, Produtos Químicos e Farmacêuticos S/A, sediada na Vila Império, no Rudge Ramos, até 1969 aproximadamente; a Consiglio & Cia, com fábrica na Rua Naval (Paulicéia) entre o final dos anos 1940 e a década da 1970, produzindo ácidos, asfalto e óleos vegetais; e a Cia Brasileira de Plásticos Koppers, fabricante de poliestireno, sediada no Nova Petrópolis, na Avenida Imperador Pedro I, até a década de 70 (10).

Em 1956, o setor de química e farmácia já abrigava 12 empresas e empregava 876 pessoas no município (11). Entre estes estabelecimentos estava a Resana S/A, fabricante de resinas diversas –além de tintas, plásticos e adesivos, que ficava na Avenida Maria Servidei Demarchi e chegou a empregar mais de 300 funcionários em 1981, pouco antes de deixar a cidade (12). Neste conjunto se encontravam também empresas do ramo que se tornaria o mais importante do setor químico em São Bernardo nas décadas seguintes. Trata-se da indústria de tintas, cuja força na região se deve ao fornecimento de produtos para a indústria automotiva, que, naquele momento, já estava em processo de instalação no município.

A empresa Tintas Ypiranga se instalou na cidade em 1955, chegou a empregar cerca de 350 funcionários em 1981, sendo adquirida pela multinacional holandesa Akzo (hoje Akzonobel) alguns anos depois, a qual ainda mantém planta industrial no município (13). Também em 1955, o industrial Olócio Bueno, principal acionista da fábrica paulistana de tintas “Super” , residente no Sítio Santa Maria (Bairro Demarchi), iniciou a construção de uma unidade fabril de sua empresa em São Bernardo do Campo (14). Nos anos seguintes, a “Super - Companhia Industrial de Tintas”, entrou em operação na Avenida Angelo Demarchi. Em 1965, sua denominação foi alterada para Combilaca, e, em 1967, foi incorporada à Glasurit-Werke, empresa alemã pertencente ao grupo BASF (15). Ostentando o nome de Glasurit entre as décadas de 1970 e 1990, a fábrica foi provavelmente a maior indústria química de São Bernardo do Campo, chegando a empregar mais de mil funcionários. Na década de 60, Olócio Bueno se ligou também à indústria de tintas para a construção civil, tendo criado a Suvinil, que, posteriormente, acabou por se fundir à Glasurit. No setor de tintas automotivas, entre as décadas de 50 e 70, surgiram ainda a Oxford Tintas, que funcionou na Avenida Rodolfo Crespi, na Vila Mussolini, e a Lazzuril, que era ligada à uma família antiga da cidade, e que foi posteriormente adquirida pela empresa norte americana Sherwin-Williams. Ainda que, ao longo do tempo, tenham sofrido mudanças de controle acionário, de denominação, e, às vezes, de endereço, todas as indústrias do ramo de tintas citadas permaneceram em São Bernardo pelo menos até a década de 2010.

Acompanhado o crescimento da cidade, o setor químico se expandiu aceleradamente entre 1965 - quando possuía 36 empresas e 2852  funcionários - e 1985 - momento em que contava com 7123 colaboradores espalhados por 71 plantas industriais (16) . Entre as décadas de 60 e 80, além das empresas já citadas, também se destacaram, por suas dimensões ou pela popularidade de seus produtos, as seguintes firmas: Ferro Enamel (1960-2002), fabricante norte-americana de corantes minerais instalada na Avenida Senador Vergueiro; Bombril (1976 - atualidade), fabricante de diversos produtos de limpeza,; Acrilex (1974 - atualidade), no Bairro Batistin, produtora de tintas artísticas; Proquigel/Unigel (1973- 2011), fabricante de resinas e poliestireno, na Avenida Eugênia S. Vitalle, no Taboão; Anakol, fabricante do creme dental Kolynos, associada à Fontoura-Wheyth por décadas, e que em 1995 foi adquirida pela Colgate Palmolive, mantendo fábrica na Via Anchieta desde a virada da década de 1960 até a atualidade.

 

Fábrica da Glasurit em São Bernardo do Campo, no início da década de 1970.
 

 

Notas:


(1) - Cf. Derry , Thomas; Williams, Trevor. A Short History of Technology from the Earliest Times to A.D. 1900. New York: Dover publications, 1993. p. 531-536.
(2) - Conforme à classificação nacional de atividades econômicas (CNAE). CF. Confederação Nacional da Indústria. Associação Brasileira da Indústria Química. A trajetória da indústria química rumo à sustentabilidade / Confederação Nacional da Indústria. Associação Brasileira da Indústria Química. – Brasília : CNI, 2012.
(3) - Afonso, Julio Carlos. As origens da Associação Brasileira de Química. In: Revista de Química Industrial. Edição Eletrônica 31 do Nº 773. Ano 90. Associação Brasileira de Química. Segundo Semestre de 2022.
(4) - Cf. Bandeira JR, Antonio Francisco. A indústria no Estado de São Paulo em 1901.. São Paulo: Typ. do Diario Official, 1901.. p.65. e p.73.
(5) - Cf. – Cf. Câmara Municipal de São Bernardo. Procuradoria. Impostos diversos (1893-1899); Câmara Municipal de São Bernardo. Imposto de Indústrias e Profissões 1911-1923.
(6) - Cf. Bevilacqua, Walter. Thodia Química Santo Andrep, os seus primerios 50 anos. p.10-14;
(7) - Cf. Jornal Correio Paulistano , 15/7/1920, p.4
( 8) - Cf. Rhodia 50 anos crescendo com o Brasil 1919 – 1969. Santo André, Grupo Rhodia Brasil, 1969. p.14 e 18.
(9) - Cf. Departamento Estadual de Estatística – Divisão de Estatísticas da Produção e Comércio. São Paulo. Catálogo das Indústrias do Estado de São Paulo (Exclusive o Município da Capital). 1945. São Paulo, 1948. p.909-912.
(10) - CF. IBGE. Cadastro Industrial – São Paulo em 1952. Rio de Janeiro, 1954. p.389 – 391.
(11) - Cf. Departamento de Documentação, Estatística, Cadastro e Informações Industriais do Estado de São Paulo. Produc̦ão industrial do Estado de São Paulo – 1956. São Paulo, Departamento de Estatística do Estado, 1957.
(12) - Cf. Jornal Folha de São Paulo, 4/6/1954; Jornal Diário do Grande ABC - Coluna Ademir Médice, 10/09/2009.
(13) - Cf. PMSBC. Relatório Industrial de 1976; Cf. Jornal A vanguarda, 20/08/1958;
(14) - Cf. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 24/7/1955, Cad. Poder Executivo p. 46; Diário Oficial do Estado de São Paulo ,28/3/1956 Cad. Poder Executivo, parte 2, p. 71; Cf. Ivan Angelo. BASF 90 Anos- Uma história no Brasil. p.71. São Paulo. DBA Artes Gráficas, 2001.
(15) - Cf. Jornal Folha de São Paulo , 4/6/1967, Cad.1 p.5.
(16) - Cf. PMSBC.Orçamento 1966 ; Censos econômicos de 1985 - Municípios - Vol 3. Região Sudeste. Indústria comércio e serviços. IBGE, 1991 

 

 

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