A instalação da indústria automotiva no município de São Bernardo do Campo teve como marcos fundamentais a construção de montadoras e fabricantes de automóveis, desde a Varam Motores e Brasmotor, que faziam a montagem de veículos importados que chegavam encaixotados  ao país,  na segunda metade da década de 1940, até o surgimento dos grandes fabricantes de automóveis e caminhões nos anos 1950 (Volkswagen, Willys Overland, Mercedes, Simca). De fato, o conjunto das maiores empresas chegou a empregar mais de dezenas de milhares de funcionários e esteve entre os principais indutores  das transformações sócio-econômicas que ocorreram na cidade nas décadas seguintes. Junto com elas, se instalaram no município, setores industriais dedicados à produção de componentes para a fabricação de automóveis, os quais incluíam a indústria metalúrgica, as fabricantes de tintas e a indústria de autopeças. Esta última envolveu grandes empresas multinacionais, alta tecnologia e a oferta milhares de empregos no município. 
   
   A indústria de autopeças já existia no Brasil há algumas décadas, ainda que em pequenas dimensões. Surgiu acompanhando a proliferação do automóvel no país, suprindo - parcialmente - suas demandas de manutenção. Introduzido por Santos Dumont em 1891, o automóvel passou a ter uma presença relativamente maior no país a partir do surgimento das montadoras da Ford (1919) e da GM (1926), com a frota total de veículos saltando de 30 mil (1920) para 250 mil (1930).  A fabricação de autopeças no Brasil, que começou de forma artesanal e improvisada na virada do século XX, foi impulsionada, no início dos anos 1930,  pela crise econômica mundial,  que dificultou o acesso a veículos e peças importados (1). Dessa forma, surgiram na capital paulista empresas destinadas a uma longa e expressiva trajetória no setor, como a C. Fabrini S. A. e a Arthur Eberhardt & Cia (1934), as quais, posteriormente, instalariam grandes plantas industriais em São Bernardo do Campo. Alguns anos depois, durante a segunda guerra mundial (1939-1945), devido também a necessidade de um movimento de substituição de importações, o setor recebeu um novo grande impulso no país. Contudo, os impulsos definitivos surgiram no âmbito das políticas dos governos Vargas e Kubitschek, que visavam a implantação da indústria automobilística no país, sobretudo a partir de 1952, com a criação de medidas de proteção e incentivo à utilização de peças produzidas no Brasil, e com o início do processo de instalação das grandes empresas automotivas, como a Willys-Overland (1953) e a Volkswagen (1955).   Fundamentais para a planejada nacionalização da fabricação dos automóveis, as indústrias de autopeças no Brasil que existiam em número de 122, em 1952,  passaram a ser  1300, em 1960, ano em que já empregavam 105 mil trabalhadores no país  (2) .
 
    A primeira empresa de autopeças da qual existem registros de funcionamento em São Bernardo do Campo é a pequena Metan – Metalúrgia Anchieta, que funcionou entre 1955 e 2005 no Bairro Rudge Ramos.  Permanecendo por mais de quatro décadas na Rua Paulo Di Favari, esta fábrica nacional de pequeno porte  produzia principalmente  pistões.   
 
    As margens da Avenida Pìraporinha, entre os bairros Planalto e Jordanópolis, viriam a receber a instalação de diversas indústrias de autopeças de grande porte. A primeira delas foi a fabricante inglesa de válvulas Standard Motors, que entrou em funcionamento em 1956, mas permaneceu  menos de duas décadas na região.   Sua planta industrial  existe até hoje no mesmo local, sendo ocupada desde 2006 por outra multinacional da indústria automotiva, fabricante de buzinas.  
 
    A demanda pela  produção em série de auto-peças de qualidade e  que envolviam  tecnologia avançada era crucial para concretização das metas e prazos estabelecidos pelo governo J. K.,  visando altíssimos percentuais de nacionalização dos veículos. Tal necessidade implicou na chegada ao país de grandes empresas estrangeiras com experiência no  setor, às vezes associadas a capitais nacionais.  As norte-americanas Borg-Warner e Gemmer construíram grandes plantas em São Bernardo do Campo, entre 1956 e 1960,  as quais ainda  existem,  ocupadas por empresas dedicadas ao comércio e a prestação de serviços.  A Borg-Warner, fabricante de peças para embreagem, foi inaugurada em 1958, na Avenida Wallace Simonsen, no Bairro Nova Petrópolis e no início da década de 1960 se transferiu para novas instalações na Avenida Piraporinha. Chegando a empregar entre 900 e 1400 funcionários na primeira metade da década de 1980, a empresa foi adquirida por outra multinacional do mesmo ramo na década de 1990, continuando em funcionamento até hoje com os novos proprietários.  A  Gemmer do Brasil surgiram em 1958, através  da associação entre o grupo Brasmotor e a norte-americana Ross Gear & Tool Company. Instalando-se em uma ampla área na Avenida Rotary, entre os bairros Centro e Ferrazópolis, a Gemmer era especializada na produção de mecanismos de direção, tendo sido absorvida pela também norte-americana TRW durante a década de 1960.  Permanecendo na cidade até o início dos anos 90, a TRW-Gemmer chegou a ter um quadro funcional com quase dois mil colaboradores (3). 
 
    Ainda antes de 1963 se instalaram na cidade mais cinco grandes indústrias de autopeças: a inglesa Perkins (associada à família Simonsen), que iniciou atividades em 1960, na Av. Wallace Simonsen, onde permaneceu até a década de 1990, fabricando de motores  para veículos agrícolas e chegando a  empregar mais de dois  mil  funcionários; a  antiga fabricantes de molas para o setor automotivo, C. Fabrini, que estabeleceu-se em 1960 nas margens do km 14,5  da  Via Anchieta, no Parque Santo Antônio, onde se encontra até hoje sob a propriedade de uma multinacional  e com nova denominação; a fundição Dohler, fruto de outra associação envolvendo o grupo Brasmotor, neste caso com a norte americana National Lead;  a  Carfriz, que  iniciou atividades por volta de 1961 - 1962 (5) , na Avenida Piraporinha, onde permaneceu por décadas; por fim,  a Vicsa/Vibar, mais tarde denominada Ferropeças Villares, na região do bairro Rudge Ramos.    Em 1964, o conjunto destas indústrias fornecia emprego para mais de 4,3 mil trabalhadores, sendo superado apenas pelo grupo das grandes montadoras e fabricantes de veículos (4).  Para além da evidente importância destes números brutos, os impactos sociais da chegada no município do setor de autopeças - e também  da indústria automobilística em geral  -  se apresentavam também na diversificação e na  qualidade do empregos oferecidos, considerando-se  que a cidade, até então,  se caracterizava sobretudo  pelas atividades agrícolas e pela presença das indústrias têxteis e  moveleiras.  Uma indicação desta realidade pode ser observada em estatísticas governamentais (6) para o setor de autopeças brasileiro, produzidas em 1960, segundo as quais os empregos na área se distribuíam da seguinte maneira:  cargos de direção ( 2,5 %), engenheiros (0,7%), técnicos (1,6 %); mestres e Inspetores (3,3%); operários qualificados (26,4 %) , empregados de escritório (16,9 %), operários semi-qualificados (27,3%); operários não-qualificados (21,3 %).
 
Fachada das instalações industriais da TRW-Gemmer. Década de 1970. 
Trabalhadores da TRW-Gemmer na linha de produção. Década de 1970.
 
Notas
(1) – Cf. A História da Indústria de Autopeças no Brasil. São Paulo: Tempo e Memória: Metal Leve, 2000. p. 9-19.    (2) – Cf. Latini, Sydnei A. A implantação da indústria automobilística no Brasil – Da substituição de importações  ativa à globalização passiva, São Pauo: Alaúde Editorial, 2007. p.30, 95-98, 154,158;
(3) - Cf. Jornal “O Estado de São Paulo”, 11 de junho de 1968. Cad. Geral. p.9.
(4) - CF. Jornal “O Estado  de São Paulo”, 23 de dezembro de 1962. Cad. Geral. p. 18
(5) -Cf. Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo. Orçamento 1965 - Lei Municipal  n. 1267, de 4 de abril de 1964. P. 7.
(6) – Cf. Dados fornecidos pela secretaria do GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), órgão criado pelo governo JK, pelo decreto nº 39.412, de 16 de junho de 1956. Cf. Latini, Sydnei. Idem. p.159
 

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